sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Transtornos Fóbico-ansiosos

Os Transtornos Fóbico-ansiosos incluem os pacientes que apresentam ansiedade e fobia simultaneamente.
A ansiedade é uma reação normal frente a estímulos ameaçadores da nossa integridade física e mental. Torna-se um transtorno, quando aparece em situações não ameaçadoras, com intensidade desproporcional aos estímulos e causa sofrimento significativo.
O medo é uma reação normal frente a situações ameaçadoras da nossa integridade física e mental. Torna-se um transtorno( fobia), quando aparece em situações não ameaçadoras, com intensidade desproporcional aos estímulos e causa sofrimento significativo.
Quando o normal aumenta de intensidade e fica fora do controle do paciente, estamos diante de um quadro fóbico-ansioso. Ele se caracteriza pela presença de sintomas reativos de hiperestimulação adrenérgica[ ativação do eixo do estresse- hipotálamo/hipófise/adrenal, que secreta o hormônio adrenocorticotrófico(ACTH)] . Esse hormônio atua nas glândulas adrenais( em cima dos rins), produzindo adrenalina e cortisol. Ocorre uma resposta fisiológica de " luta ou fuga. A ativação crônica do eixo está relacionado com quadros crônicos de ansiedade.
A fobia é um medo irracional frente a estímulos que foram condicionados a risco. Existem mais de 400 fobias descritas na literatura médica. Por curiosidade, observe o nome de algumas fobias comuns:
a) Tipanofobia- medo de injeções ou agulhas
b) Ofidiofobia- medo de cobras
c) Cinofobia- medo de cães.
d) Carcinofobia- medo de câncer
e) Astrafobia- medo de raios e trovões
f) Aviofobia- medo de voar
g) Enoclofobia- medo de multidão

Transtorno Afetivo Sazonal( TAD)



O Transtorno Afetivo Sazonal(TAD) é um tipo de transtorno depressivo que ocorre em determinadas épocas do ano. A causa é desconhecida, mas se acredita que a mudança no nível de luminosidade possa alterar a química cerebral, afetando o humor. Geralmente a chegada do inverno traz depressão, cansaço, desânimo, necessidade de ingerir doces, ganho de peso, ansiedade, irritabilidade e isolacionismo social. Os sintomas desaparecem espontaneamente com a chegada da primavera. O SAD responde ao uso de antidepressivos e exposição à luz solar ou artificial. Para a confirmação diagnóstica os sintomas precisam recorrer num período de 2 anos consecutivos na mesma estação.

Transtorno Afetivo Bipolar(TAB) e Criatividade



O Transtorno Afetivo Bipolar(TAB) está muito presente em estudos biográficos de artistas. Ele é mais comum em artistas bem-sucedidos do que na população em geral. Por exemplo, o compositor alemão Robert Schumann( 1810-1856) produzia muito quando entrava em surto maníaco e menos quando estava depressivo. O seu número médio de composições entre 1829 e 1853 era de 3 por ano. No ano de 1840 , em pleno surto maníaco, produziu 24 composições. No ano de 1849 produziu 27 composições!

Vários artistas famosos apresentavam relatos de oscilação de humor, entre eles Vicent Van Gogh, Ernest Hemingway, Virgina Wolf e outros.

Doença de Alzheimer(DA)



A Doença de Alzheimer(DA) é a causa mais comum de demência( 80% dos casos). Trata-se de um quadro neurodegenerativo, progressivo, pelo acúmulos de placas de proteinas( beta-amilóides) nos neurônios, causando alterações na anatomofisiologia cerebral.


A doença é rara antes dos 60 anos de idade, mas é comum depois dessa idade, principalmente pelo aumento da expectativa de vida. A maior parte dos casos é de causa não identificável, mas há uma relação genética importante. Mutações de vários genes estão associados a ela. Em casos de manifestação tardia, ocorrem mutações nos genes responsáveis pela produção de uma proteína no sangue( Apoliproteina E), que regula a produção da proteína beta-amilóide. Com a destruição neuronal, o neurotrasmissor acetilcolina, importante em mecanismos de memória e transmissão dos impulsos nervosos para os músculos, sofre uma diminuição em nível cerebral. Estima-se que há uma alteração concomitante do influxo do mineral cálcio para dentro dos neurônios, causando um quadro de neurotoxicidade, com destruição neuronal.

Os sintomas variam de pessoa para pessoa, mas seguem um curso tipicamente progressivo;


Estágio 1-A pessoa fica esquecida, por comprometimento de áreas cerebrais responsáveis pela memória, principalmente hipocampo.


Estágio 2- Há perda mais pronunciada de memória recente( dependente do hipocampo), com desorientação espacial e temporal, dificuldades de concentração, afasia( incapacidade de encontrar a palavra certa), ansiedade, instabilidade de humor e mudanças de personalidade.


Estágio 3- A confusão se agrava, com o surgimento de sintomas psicóticos, como delírios e alucinações. Com o comprometimento de áreas cerebrais superiores( corticais), há perda das capacidades motoras , com descontrole esfincteriano intestinal e vesical.


O tratamento consiste no uso de medicamentos inibidores da enzima anticolinesterase( que destrói a aceticolina) e a memantina( que bloqueia os canais NMDA, diminuindo o influxo de cálcio e prevenindo a neurotoxicidade). Os tratamentos não curam, apenas retardam a evolução da doença e previnem alterações comportamentais.

Demências

Demências são um grupo de doenças degenerativas cerebrais que se caracterizam pelo declínio cognitivo( memória, pensamento abstrato, planejamento) generalizado, além de alterações no comportamento.
As demências são causadas por diferentes alterações no tecido cerebral. A principal causa de demência é a Doença de Alzheimer(DA). Em segundo lugar, está a demência vascular, por déficit no fornecimento sanguíneo normal para os neurônios, provocando a morte celular. Um AVC( acidente vascular cerebral) é o principal fator etilológico da demência vascular. Podem ocorrer múltiplos infartos( morte por falta de sangue no tecido) em diferentes regiões cerebrais. Há ainda a demência por corpos de Lewy, onde ocorre uma degeneração dos corpos neuronais( que ficam arredondados). Muitas doenças podem produzir demências: AIDS, doença de parkinson, alcoolismo, carência de vitaminas, traumatismo cranio-encefálico(TCE), tumores cerebrais, encefalites( infecção do tecido cerebral), intoxicação medicamentosa, hidrocefalia.
As demências se caracterizam pela perda progressiva da memória, confusão mental e desorientação temporal e espacial. Também é possível a mudança do comportamento, que fica atípico, agressivo ou constrangedor. O paciente demenciado cria explicações para os seus sintomas( confabulação). Com o avanço dos sintomas, pode haver indiferença aos eventos externos, prostração, descuído completo com a higiene pessoal, necessidade de acompanhamento por cuidadores. Todos os tratamentos para demência são paliativos( retardam a evolução e aliviam os sintomas, mas não curam). O única forma de demência tratável com sucesso é a demência por hidrocefalia de pressão normal.

Paradigma Mente-Cérebro

Atualmente o Paradigma Mente-cérebro considera que todo o transtorno mental tem um padrão neuronal( cerebral) correspondente. Alterações nas sequências dos processos neurais causaria sintomas mentais patológicos.
Nem sempre foi assim. No estudo da evolução histórica dos transtornos mentais, desde a época de Hipócrates( pai da Medicina), a doença seria o resultado do desequilíbrios dos humores corporais: bile negra, bile amarela, sangue e fleuma.
Na idade média acreditava-se que a doença mental era causada por alguma perturbação do espírito( que sem mantém até os dias atuais em algumas culturas, inclusive brasileira). O demônio apoderava-se do espírito da pessoa, deixando-a depressiva ou insana.
Mais tarde, o médico Franz Mesmer descobriu o " magnetismo animal", que poderia causar a loucura, caso fosse bloqueado. O hipnotismo seria a maneira de controlar esse fluxo magnético.(daí surgiu o termo mesmerizado, magnetizado).
Posteriormente a Psicanálise tomou conta do cenário das doenças mentais, através de Sigmund Freud, que preconizou a existência do inconsciente e os seus conflitos geradores de doenças. Através da psicanálise, seria possível curar essas neuroses, conscientizando os conflitos emocionais reprimidos.
Transtorno mental é catalogado pelos manuais diagnósticos e estatísticos utilizados pela Psiquiatria. Toda vez que uma pessoa vivencia o mundo de maneira diferente das outras pessoas, a ponto de causar comportamento anormal, que prejudica o seu bem-estar pessoal e social, estamos diante de um transtorno mental. A definição dos transtornos é fenomenológica( descrição ateórica dos sintomas), com o agrupamento de classes de sintomas( síndrome), estendidos num tempo mínimo necessário para o diagnóstico psiquiátrico. Obviamente que a cultura influencia a classificação nosológica( das doenças). Dependendo da cultura, algo pode ser considerado normal ou patológico.
Em geral, os transtornos mentais são decorrentes de alterações no funcionamento cerebral( doenças funcionais), na estrutura anatômica cerebral( doenças degenerativas), causadas por trauma ou lesão cerebral, resultados da vulnerabilidade genética em associação interacional com o meio ambiente. Com o avanço da neurociência e aprimoramento dos métodos de neuroimagem, cada vez mais se estuda o paradigma mente-cérebro, procurando correlacionar as alterações entre ambos.