As pessoas ( e os médicos também) confudem três condições semelhantes , mas diferentes. A capacidade de diferenciar essas três condições vai determinar o melhor diagnóstico e, por conseguinte, o melhor tratamento. Há uma crítica social da hipermedicalização psiquiátrica. E essa crítica é bem-vinda e verdadeira! Muitos pacientes estão sendo medicados sem necessidade, por erro diagnóstico( cometido por não-especialistas e por alguns especialistas) e tão grave quanto isso, um percentual enorme de pessoas doentes não está sendo tratado!!!! Por um lado há a hipermedicalização desnecessária, por equívoco diagnóstico, expondo pessoas a medicamentos psicotrópicos. Por outro lado, há uma multidão de doentes mentais desassistidos por não serem diagnosticados. Lembrem-se de que o transtorno mental não tratado causa danos ao tecido cerebral, com a atrofia neuronal. O risco de prejuízo cognitivo( memória, pensamento, capacidade de raciocínio) é comprovado, além do aumento do risco de doenças físicas( cardiovasculares , endocrinológicas e câncer) e o aumento de doenças cerebrais degenerativas( Doença de Alzheimer).
Vamos às diferenciações: Primeiro, existe a tristeza, que é uma emoção que pode acometer a todos nós em momentos de perda, mudanças ou mesmo variações circadianas( relógio biológico ) ou hormonais. Ter momentos de tristeza, com ou sem motivo aparente, é perfeitamente aceitável. Faz parte do funcionamento do organismo ter variações. Essa tristeza não pode ser constante, nem de intensidade intolerável, nem causar prejuízos pessoais ,familiares e socio-profissionais significativos. A diferenciação entre tristeza normal e depressão depende dessas diferenças citadas. Na depressão, há um prejuízo marcado na vida pessoal , familiar e sócio-profissional da pessoa. A duração e intensidade da tristeza são exageradas, em conjunto com outros sintomas adicionais, como pensamentos suicidas, alterações no padrão do sono( excesso ou falta de sono), no apetite( diminuição ou excesso de apetite, com alteração do peso corpóreo), falta de prazer em diferentes situações cotidianas. Se a tristeza não cessa, a intensidade aumenta e dura mais do que duas semanas, estamos diante de um quadro possível de depressão clínica. Nesse momento, faz-se necessária a consulta ao psiquiatra. Aqui abro um parênteses. Você deve ir ao especialista. Deixe o preconceito de lado.Não aceite que o seu cardiologista lhe dê " um remedinho", ou que o seu endocrinologista lhe dê " um remedinho" ou que o seu vizinho lhe empreste " um remedinho". Imaginem se os psiquiatras começassem a receitar remedinhos para a pressão alta, para a diabetes, para outras doenças. Nós não invadimos as outras especialidades. Não invadam a nossa!!!!!!!!!!!!!! Fique claro isso de agora em diante. O dever do paciente é escolher um especialista na área!
Por último , diferenciemos a tristeza e depressão clínica da reação depressiva. A reação depressiva é uma resposta a situações de perda, de luto, de mudança, situações estressantes, que alteram o equilíbrio mental e físico da pessoa. Geralmente a reação depressiva cursa com sintomas semelhantes a uma depressão, mas cessam tão logo o desencadeante tenha sido superado. Os sintomas sofrem remissão espontânea no decorrer do tempo, são autolimitados. Na tristeza normal e na reação depressiva a fatores psicossociais, o uso de medicamento não é indicado. Na depressão clínica o uso de medicamento é indicado.
Muitas reações depressivas são causadas por conflitos psicológicos. As pessoas querem tratar a estrutura psicológica com medicamentos, o que não é aconselhável, pois vamos mascarar sintomas, sem tratarmos a causa verdadeira. Quando a reação depressiva é resultado de problemas pessoais e de relacionamento, a melhor alternativa é a modificação dos pensamentos e do comportamento através da psicoterapia. Se os sintomas mentais são muito intensos a ponto de comprometerem a capacidade de pensar do paciente, para que ele aproveite a psicoterapia, então o uso de medicamentos pode ser benéfico.
Em casos de depressão crônica, recorrente( vários episódios), já houve uma alteração na anatomia e na química cerebral( serotonina, dopamina, noradrenalina). Nesses casos selecionados, o uso contínuo de antidepressivos se faz necessário , para proteger o cérebro e evitar a recaída ou recorrência dos sintomas. Cabe ao psiquiatra fazer essas três diferenciações. Dessa habilidade técnica depende a saúde mental presente e futura dos pacientes.
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