"Pessoas Complicadas" vai ser o termo leigo para tratarmos de pessoas com um possível transtorno mental ou transtorno psicológico. Quem não é psiquiatra não consegue classificar um transtorno mental adequadamente. Se eu perguntar para uma pessoa se ela consegue "detectar" sinais de alguém que não é "normal", ela pode me dizer " Fulano(a) é uma pessoa complicada." Essa percepção fica evidente em diferentes contextos em que a pessoa em questão é observada e por diferentes pessoas.
"Pessoas Complicadas" podem ser ou não portadoras de transtorno mental. Mas somente o fato de serem percebidas como complicadas já prenuncia algo que não vai bem. Valeria a pena uma avaliação psiquiátrica para descartar algum transtorno mental em curso.
Para nós, psiquiatras, a conotação de pessoa complicada pode ser diferente. Consideramos pessoas complicadas aquelas muito resistentes aos tratamentos, como nos transtornos de personalidade e alguns transtornos somatoformes( a mente produz sintomas físicos sem causa física detectável) . Apesar do tratamento, essas pessoas melhoram pouco. Outros transtornos com uma causa biológica tratável respondem melhor aos medicamentos e podem ficar em remissão completa. Muitos trantornos depressivos se enquadram nessa categoria, transtornos bipolares, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade generalizada.
"Pessoas Complicadas" geralmente apresentam traços de personalidade desadaptativos à convivência em sociedade. Ou são portadoras de uma estrutura global de personalidade doente. Não conheço "pessoas complicadas" normais.
Desde 1952, com a primeira edição do DSM( Manual Diagnóstico e Estatístico da Psiquiatria) o número de transtornos mentais aumentou(?). Vejo nisso a tendência de "patologizar" comportamentos variantes, que não são necessariamente anormais. Mas quando um comportamento traz prejuízos pessoais e sociais, não podemos deixar de tratar. Na minha opinião profissional, existem doenças mentais( com fundo orgânico importante) e transtornos psicológicos, não necessariamente anormais, mas com consequências prejudiciais. No primeiro grupo o tratamento é imperativo, pelo risco de suicídio, atrofia cerebral e outras complicações sistêmicas( que envolvem todo o organismo). No segundo grupo de " pessoas complicadas", o tratamento é opcional e vai depender da participação ativa do paciente, através de psicoterapia. Minha visão médica me faz classificar três grandes grupos: os Transtornos Psicóticos, os Transtornos de Humor e os Transtornos de Ansiedade. Dentro desses três grandes grupos a Psiquiatria faz maravilhas. Nos outros casos, a psicoterapia é uma alternativa, mas somente se o paciente estiver motivado a tratar-se. Geralmente as "Pessoas Complicadas" do primeiro grupo aceitam tratamento com mais facilidade do que o segundo grupo.
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