Um livro recente lançado nos EUA pelo psicólogo Irving Kirsch questiona a eficácia dos antidepressivos. O livro chama-se " O Império das Novas Drogas: Explodindo o Mito dos Antidepressivos".
Nesse livro o autor questiona o efeito obtido com os antidepressivos. Ele ressalta que apenas 18 a 25 % dos efeitos antidepressivos se devem ao princípio ativo do medicamento. O restante se deveria ao chamado "efeito placebo", isto é, a crença numa substância inerte, sem propriedades farmacológicas( como farinha ou acúcar). Desde o século XVIII a Medicina conhece a influência da fé no tratamento como causador de melhora. Aí entra também a atenção do médico, o otimismo pessoal do doente , o ambiente de atendimento e outros fatores. Segundo o autor, não se justifica a prescrição de um remédio se apenas ele evoca o efeito placebo. Alega a corrida das indústrias farmacêuticas atrás dos quase 20 bilhões de dólares anuais em vendas de medicamentos, " cuja eficácia corresponde a uma pílula de farinha". Especula-se que o efeito placebo seja produzido pela liberação de uma substância neurotransmissora, com propriedades analgésicas, a endorfina.
A depressão é uma doença heterogênea e complexa, cuja incidência global é de 18 %, atingindo mais mulheres que homens. Apresenta graus de intensidade, variando de leve a grave. Os subtipos mais comuns são: a depressão ansiosa, a depressão pós -parto, a depressão sazonal, a depressão atípica, a depressão bipolar , a depressão melancólica e depressão psicótica. As explicações atuais para a causa das depressões envolvem fatores de ordem genética, que aumentam o risco da probabilidade de depressão em famílias com a doença( em até 3 x mais), uso de substâncias químicas(álcool e outras drogas), doenças neurológicas( AVC, parkinson, traumatismos encefálicos), doenças físicas( diabetes, hipotireoidismo e outros), uso de medicamentos( anticoncepcionais, corticóides, antihipertensivos), desencadeantes ambientais como estresse crônico ou agudo( perdas, dor crônica, separação, desemprego, excesso de trabalho).
A depressão leve responde a medidas não medicamentosas. As depressões moderada à grave necessitam do uso de medicamentos. Apesar do efeito químico ser de 18 a 25 %, isso não é pouco, pois é em relação ao placebo. Por que não dar placebo apenas, então? Uma boa pergunta. Em casos graves, podemos necessitar do somatório dos efeitos, tanto placebo como químico. Acho esse questionamento bastante pertinente. Se pudermos auferir os mesmos ganhos com pílulas de farinha, por que não testá-las? O que não podemos é generalizar, achando que os antidepressivos devem ser eliminados, demonizados, condenados. O uso de um antidepressivo salva muitas vidas, pois minimiza o risco de suicídio, recupera a alegria de viver e devolve o paciente à sua funcionalidade parcial ou total. Os antidepressivos, como muitas outras drogas psiquiátricas são necessárias para a supressão dos sintomas ativos das doenças mentais. Não podemos negar isso. Por outro lado, o uso excessivo de medicamentos em nome de uma suposta "epidemia de depressão", não se justifica. O objetivo da medicina e da psiquiatria é defender a saúde e controlar as doenças, não virar modismo ou meio de enriquecimento de laboratórios. Nesse ponto, o livro do psicólogo Irving Kirsh traz um contraponto válido no renovado debate sobre doenças mentais e tratamento.
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