A relação médico-paciente é a base dos bons resultados terapêuticos. O terapeuta genuíno nunca se furta do amor às verdades. Cedo ou tarde, o paciente precisa aceitar as orientações do médico para aderir ao plano de tratamento. Se isso falhar, o resultado é o término da relação, com o paciente buscando outro profissional. Muitas escolas defendem que o resultado é determinado pelas técnicas específicas( linha teórica), outros acreditam que o vínculo terapêutico é mais importante que qualquer técnica empregada. Talvez seja o somatório dos dois fatores.
A maioria dos pacientes possui ideias pessoais quanto aos tratamentos e tenta exercer o controle direto ou indireto no plano terapêutico, seja questionando, seja colocando resistência quanto ao uso desse medicamento ou daquela modalidade terapêutica. O médico precisa contornar essa "resistência", através de um modelo explicativo claro, na linguagem acessível ao nível cultural do paciente. Usar linguagem técnica prejudica a compreensão da doença e o prognóstico. O melhor é adaptar a linguagem médica às características de cada paciente.
Mesmo depois das explicações dadas, o paciente ainda pode recusar-se a seguir as orientações médicas. É um direito seu, na contratação dos serviços, com exceção nos casos de risco iminente de vida. Aí o médico precisa agir mesmo contra a vontade do paciente.
Nas aulas de bioética que ministrei na universidade, sempre ressaltamos a autonomia do paciente, mas com as exceções. Quando houvesse uma doença mental em curso, que afetasse o juízo crítico , um familiar responsável deveria autorizar a internação compulsória. Nenhum familiar se sente confortável em fazer isso, mas se torna necessário devido às circunstâncias de risco para si e para terceiros.
No dia-a-dia dos atendimentos eletivos, sem a pressão das emergências, a relação médico-paciente é direta, o que demanda uma forte relação de confiança com o profissional escolhido. Muitas situações determinam essa afinidade médico-paciente, entre elas a compatibilidade de comunicação, a personalidade do médico, o conhecimento técnico e a capacidade do profissional construída na prática dos anos. Os verdadeiros conhecedores do "poder do médico" não são os colegas de trabalho, mas os pacientes atendidos, que fazem a divulgação gratuita do bom atendimento ou do mau atendimento. Médicos longevos na profissão contribuem de maneira verdadeira com a saúde dos seus pacientes. Esses médicos não precisam estudar relação médico-paciente nos livros, pois essa habilidade já se transformou numa segunda natureza. Tudo começa com a humildade de querer ajudar e atender muitos pacientes numa vida inteira de dedicação.
A relação médico-paciente moderna não está nos livros textos, nas teorias psicológicas controversas, na "superioridade" do médico vestido de branco, apartado do paciente por uma mesa cheia de troféus ou uma parede repleta de diplomas, mas no encontro de uma "dupla" cooperativa. Pacientes perambulam de consultório em consultório, buscam terapias alternativas, um padre ou pajé, porque o seu médico estava muito pouco empático com os sofrimentos humanos. A dor entorpece a sensibilidade do médico, mas a onipotência entorpece a alma. Uma boa relação médico-paciente é construída com respeito, aquele respeito que existia na época do nossos avós e ancestrais. Cada médico receberá a medida exata da sua evolução como pessoa nos relacionamentos humanos. Nem mais, nem menos!