terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Baixa Autoestima



A queixa de baixa autoestima no consultório é recorrente. O termo "baixa autoestima" é um rótulo autoimposto pelo paciente , tentando dizer como ele se sente em relação a si mesmo, desvalorizado, inseguro, sem perspectivas, desmotivado, confuso, perdido. Existem inúmeras causas desencadeadoras desse rótulo que ocupa o estado emocional do paciente. Os transtornos de personalidade cursam com vazios interiores que empobrecem o psiquismo, provocando uma baixa autoestima. Estados patológicos clínicos, como a depressão, a ansiedade, os ataques de pânico, neuroses( conflitos emocionais), provocam o rebaixamento da autoestima, por causarem desequilíbrio biopsíquico. O indivíduo perde a sua estabilidade( homeostase) e se sente à mercê de fatores incontroláveis , tanto internos como externos.

Nos primórdios da Psicanálise , Sigmund Freud desenvolveu a teoria das instâncias psíquicas. Teríamos um componente instintivo, que ele chamou de ID, um componente mediador entre os impulsos e a realidade, que ele chamou de EGO e uma estrutura supervisionadora dos nossos atos e pensamentos, que ele denominou SUPEREGO. Do equilíbrio dessas três instâncias psíquicas, a nossa autoestima seria mais ou menos saudável.

Imaginemos alguém que possui um ID muito dominante, sem o controle do EGO. Esse paciente estaria vulnerável a riscos e atos inconsequentes, socialmente reprováveis. Muitos transtornos de personalidade se manifestam com deficiências no EGO, fazendo com que o lado instintivo se manifeste de maneira desordenada, causando riscos para a pessoa. Vemos os abusos de substâncias, a direção perigosa, o abuso do sexo sem preservativo, as relações agressivas e exploratórias, a passividade, a irresponsabilidade, a imaturidade, enquadrados nessa hipertrofia do ID e atrofia do EGO. Por outro lado, temos pacientes com um SUPEREGO muito vigoroso( resultado de identificações com os pais e a cultura), produzindo um cerceamento da liberdade mental. Esses pacientes se cobram demais, se exigem demais, exigem perfeição do mundo e dos outros. Como esse ideal é inalcançável, acabam caindo em depressão. Nesses dois casos, a autoestima é afetada, ou por déficit ou por excesso.

Na nossa convivência com nossos pais e as expectativas do grupo social, desenvolvemos metas inconscientes de desempenho e resultados. Esse ideal é o ideal de ego. Na busca de corresponder às expectativas dos pais e de outros, impõem-se deveres de ser e ter, num estado permanente de sobressalto e vergonha, quando não se consegue corresponder a essas expectativas. Cada decepção inconsciente ativa a baixa autoestima. Há também o ego ideal( não é um jogo de palavras), onde nossas aspirações narcisistas infantis, ilusórias e exageradas, se projetam no mundo real, numa busca inalcançável, produzindo estados de humilhação, por ferida narcísica. No superego, o sentimento predominante é de culpa, medo, atitudes defensivas, por causa da constante vigilância quanto ao certo e errado, o que fazer e o que evitar.

A baixa autoestima é um estado transitório ou duradouro , decorrente de causas psiquiátricas clínicas ou estruturações de personalidade dismórficas, com desequilíbrio biopsíquico. Quando assolados por culpa( superego rígido e até sádico), por ego imaturo ou frágil( transtornos de personalidade), com manifestação de raiva, vergonha, humilhação, inveja, ataque aos vínculos afetivos entre as pessoas, fica fácil entender que a autoestima vai sofrer um achatamento.

O tratamento para a baixa autoestima depende do diagnóstico causal. De acordo com a causa, iremos proporcionar o tratamento mais eficaz para a devolução do equilíbrio biopsíquico ao paciente. Transtornos na personalidade demandam reconstrução de estruturas mentais fragéis, com o fortalecimento de mecanismos saudáveis de adaptação mental, em substituição aos mecanismos psicológicos doentios. A psicoterapia almeja a construção dessa nova estrutura, através da interação verbal com o terapeuta. Em casos clínicos, o diagnóstico psiquiátrico organiza o plano de tratamento medicamentoso, que almeja a supressão sintomatológica angustiante para o paciente. Os tratamentos podem ser conduzidos em conjunto.

A autoestima é o resultado dinâmico da interação saudável das instâncias psíquicas. Mesmo o mundo externo, cambiante, e ,portanto, causador de desequilíbrio, é melhor encarado pelo paciente mentalmente sadio. O mundo interno determina a valoração dos acontecimentos do mundo externo. Investir na mudança de dentro para fora é o único caminho eficaz de mudança verdadeira. Os estressores sempre existirão, mas uma personalidade saudável vai lidar com eles da melhor maneira possível, preservando a autoestima.