terça-feira, 16 de março de 2010

Esquizofrenia e Bipolaridade



Emil Kraepelin foi o primeiro psiquiatra, no início do século, a diferenciar duas entidades diagnósticas na Psiquiatria. A primeira, chamada demência precoce, hoje conhecida por Esquizofrenia. A segunda foi denominada Insanidade maníaco-depressiva, hoje conhecida por Transtorno Afetivo Bipolar(TAB).

Recentemente estudos correlacionaram essas duas entidades diagnósticas. Ambas as doenças compartilham sintomas em comum, como a depressão, a psicose e respondem a antipsicóticos. Muitos pesquisadores estudam a possibilidade dessas duas entidades diagnósticas fazerem parte do mesmo espectro patológico. Entretanto, outros achados clínicos e laboratoriais apontam para uma direção contrária, mantendo-as separadamente.


Testes neuropsicológicos avaliaram as alterações do córtex pré-frontal e diferentes déficits nessas duas patologias. Estudos que avaliaram o sistema frontal, o circuito cíngulo-frontal , a fluência verbal mostraram maior incidência de anormalidades da fluência verbal e de disfunção fronto-temporal em portadores de esquizofrenia, em comparação com o grupo controle e com os portadores de TAB. A conectividade fronto-temporal está prejudicada na Esquizofrenia, mas não no TAB. Em ambos os transtornos houve prejuízo de tarefas envolvendo circuitos cíngulo-frontais, mas com maior intensidade em portadores de Esquizofrenia.


Outras diferenças marcantes entre a Esquizofrenia e a Bipolaridade são o ajustamento pré-mórbido( antes do aparecimento da doença) e a neurogênese( formação de novos neurônios). Em avaliações comparativas, os portadores de esquizofrenia apresentavam um pré-mórbido mais comprometido em relação a indivíduos saudáveis. Nos pacientes bipolares, o ajustamento pré-morbido foi significativamente melhor, mesmo naqueles que manifestaram psicose na evolução da doença. Em relação `a neurogênese( estudada como participante da causa das doenças), os estudos demonstraram uma redução significativa da proliferação das células-tronco neurais( precursoras dos neurônios) nos portadores de esquizofrenia, mas estatisticamente não significativa nos portadores de TAB.


Entretanto, estudos genéticos correlacionaram os dois transtornos. Há uma sobreposição de genes que contribuem para os dois transtornos: os genes NRG1, DISC1, DAOA(G72)/G30 e a disbindina.Estudos de agregação familiar demonstram que pacientes portadores de TAB têm uma taxa mais elevada de esquizofrenia em pacientes de primeiro grau e vice-versa, indicando uma correlação robusta no espectro das duas doenças.


Essas evidências nos levam a hipotetizar que as duas doenças estão dentro de um espectro dimensional. Alterações genéticas compartilhadas podem resultar em estados , que sob a ação do meio ambiente e de fatores aleatórios, levariam a determinados sintomas mais específicos de uma ou de outra doença. Essas dimensões sintomatológicas sofreriam uma variação conforme a influência genética e ambiental, transitando dentro de um espectro mais psicótico ou num espectro mais humoral. Dependendo do conjunto de sintomas, classificaríamos os pacientes como tendo predominantemente sintomas esquizofrênicos, esquizoafetivos ou bipolares.

Mulheres com Endometriose e Depressão



A endometriose é uma condição crônica e progressiva, que ocorre quando o endométrio, que reveste o útero, implanta-se fora da cavidade uterina. Essa doença ginecológica aumenta a vulnerabilidade das mulheres para o surgimento de sintomas depressivos e ansiosos. Um estudo de Sepulcri e Amaral, publicados no European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductiv Biology, em 2009 , avaliou 104 mulheres diagnosticadas com endometriose em dois hospitais do estado do Paraná. Utilizaram o Inventário de Beck(BDI) e a escala de Hamilton ( HAM-D) para depressão e ansiedade. Na avaliação da qualidade de vida, utilizaram o questionário da Organização Mundial da Saúde(WHOQOL-BREF).


O estudo demonstrou que 58,7 % das mulheres diagnosticadas apresentavam doenças associadas: hipertensão arterial sistêmica(HAS)- 10, 6%; 70, 2% eram sedentárias; 80,8% apresentavam dores pélvicas e 50 %, dificuldades de engravidar. Em relação aos sintomas psiquiátricos, 86,6 % apresentavam depressão, com sintomas moderados a graves em 63,5 % dos casos, 63, 5 % apresentavam ansiedade elevada.


A correlação foi positiva entre a intensidade da dor e as pontuações nas escalas de depressão e ansiedade. Parece que a disfuncionalidade da endometriose pode predispor à depressão e à ansiedade, e o inverso é verdadeiro. O tratamento psiquiátrico reduz os sintomas álgicos, melhorando a qualidade de vida dessas pacientes, o que foi comprovado pelo questionário de qualidade de vida da OMS( Organização Mundial da Saúde).

Qual o prejuízo em não tratar o TDAH?



O TDAH( Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) é uma síndrome ( conjunto de sintomas) que se caracteriza pela presença de desatenção, hiperatividade, impulsividade ou a combinação dos grupos anteriores. A prevalência em crianças é em torno de 5 % e em adultos, 4%.Se não tratado o TDAH causa prejuízos na vida pessoal, acadêmica, familiar, social e profissional.


Existe muito pouca difusão de informações sobre o TDAH, sendo considerado por muitos leigos , médicos e educadores como uma "invenção" nosológica. Mas as pesquisas demonstram as bases neurológicas para a existência do transtorno. O TDAH geralmente está associado a outros transtornos psiquiátricos, como transtorno de desafio e oposição, transtornos de ansiedade, transtornos de humor e transtornos de conduta. A busca de consulta muitas vezes acontece em função de outros transtornos mentais, que uma vez tratados, abrem um espaço para a percepção diagnóstica do TDAH encoberto. Pastura e colsItálico demonstraram que 58 % das crianças com TDAH tinham ao menos outro diagnóstico psiquiátrico associado no momento da avaliação.


Outros transtornos a serem pesquisados são os transtornos de aprendizagem, incluindo dislexia( transtorno de leitura).Diferentemente do TDAH, a "desatenção" está restrita a tarefas que envolvam a leitura. Outro diagnóstico diferencial é com o retardo mental. Crianças e adultos com retardo mental( principalmente leve) podem creditar suas dificuldades de aprendizagem à desatenção, enquanto que o verdadeiro motivo é a dificuldade cognitiva. A desatenção pode ser secundária à incapacidade de acompanhar os conteúdos acadêmicos. Uma testagem neuropsicológica está indicada em caso de dúvida diagnóstica.


O tratamento do TDAH costuma proporcionar importantes benefícios para o portador. Os medicamentos psicoestimulantes demonstraram corrigir a disfunção neuroquímica, envolvendo a dopamina e a noradrenalina nos circuitos fronto-estriatais. Além da correção sintomatológica, a psicoeducação é primordial para a reinserção da criança ou do adulto no contexto social , familiar e acadêmico. Os sintomas de desatenção , hiperatividade e impulsividade respondem bem aos psicoestimulantes.


Existem os psicoestimulantes de liberação imediata e os psicoestimulantes de liberação prolongada. Estes possibilitam uma tomada diária, facilitando a adesão, além de diminuirem o risco de abuso pela diminuição dos picos plasmáticos. Os níveis ficam mais estáveis no sangue, diminuindo também os parefeitos como a ansiedade, aumento da pressão arterial e palpitações.


A psicoterapia cognitivo-comportamental(TCC) ajuda esses pacientes a melhorar a sua autoestima, a reorganizar suas vidas através de tarefas estruturadas de planejamento e organização. Os medicamentos suprimem os sintomas cardinais da doença, enquanto a psicoterapia reorganiza o comportamento desadaptativo do portador, adquirido no decorrer dos anos.

Sintomas Depressivos e Risco Cardíaco em 10 anos

Um estudo conduzido na Finlândia demonstrou a associação entre o aumento do risco cardiovascular em pacientes depressivos durante 10 anos.
O estudo realizado em Savo Sul, Finlândia, acompanhou habitantes nascidos nos anos de 1942, 1947, 1952, 1957 e 1962, totalizando 1294 pacientes. Eles se submeteram a um check-up no ano de 1998. Os sintomas depressivos foram medidos usando o Inventário de Depressão de Beck. Os resultados demonstraram que os riscos gerais aumentados, com o aumento da mortalidade por doença cardiovascular(DCV) em homens.
Aventa-se a associação de inflamação sistêmica com o aumento dos riscos cardiovasculares e na promoção de quadros depressivos. A depressão passou a ser considerada fator de risco cardiovascular isolado, juntamente com outros fatores de mortalidade cardíaca, como o tabagismo, o sedentarismo, a obesidade, a diabetes e pressão alta.

Mortalidade em Pacientes Bipolares

Uma revisão sistemática das taxas de mortalidade global e por causas específicas entre pacientes bipolares foi realizada através do MEDLINE( até janeiro de 2008), incluindo referências bibliográficas em inglês e espanhol.
Onze estudos foram identificados. Oito foram realizados na Europa, dois nos EUA e um no Japão. A taxa de mortalidade nos pacientes com TAB foi mais alta que na população em geral , em 5 dos 7 estudos, para homens e mulheres. O índice de suicídio foi mais elevado que a população geral em 6 dos 6 estudos, o índice de doenças do aparelho cardiovascular foi mais elevado em 3 dos 5 estudos. Somente 1 dos 6 estudos demonstrou aumento da mortalidade por câncer.
Esse trabalho foi apresentado no 162 nd Annual Meeting American Psychiatric Association, em São Francisco (EUA), em maio de 2009.