quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Mudanças no Blog para 2012

Atendendo a solicitações dos leitores, a partir de 2012 os textos no Blog serão mais compactos, com enfoque de assuntos técnicos de aplicabilidade direta na saúde mental. Vamos aprofundar os temas mais comuns, de maior repercussão cotidiana.


O Blog já possui um arquivo ampliado das principais  doenças catalogadas na Psiquiatria. Agora vamos aprofundar esses temas específicos, ressaltando os avanços nas pesquisas, os tratamentos disponíveis e alguns exemplos clínicos elucidativos.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Mensagem de Fim de Ano

Agradeço a todos os leitores do blog por terem participado do nosso trabalho de divulgação de temas relacionados ao cérebro, mente e transtornos mentais.

Nossa jornada começou em 2009 e já tivemos milhares de visitantes, sempre curiosos acerca de temas pulsantes, com o intuito de aprender e serem informados a respeito dos mecanismos que nos tornam humanos.

Este blog tornou-se uma referência na internet, tendo despertado curiosidade de leitores em todas as partes do Brasil, suscitando a troca de experiências pessoais e possibilitando a aproximação com outras áreas do conhecimento, com convites de jornais e revistas especializadas , como a Revista Consulex, na qual abordamos a interface entre o Direito e a Psiquiatria, com o tema Sociopatia.

Sentimo-nos honrados ao sermos referidos no site da USP, com o texto " Doutor, devo beber?", com a anuência do professor Ronaldo Laranjeira, a maior autoridade reconhecida em dependência química no Brasil. Esses reconhecimentos diretos e indiretos nos encorajam a continuar contribuindo como um canal de divulgação científica e clínica, para que mais pessoas tenham acesso aos cuidados de saúde mental. E a informação bem comunicada é o melhor instrumento para esse fim.

Conclamo a todos os leitores e amigos do Brasil para continuarem participando do nosso blog, e renovamos o compromisso de empreender os melhores esforços para honrar a atenção e apoio recebidos nesses dois anos. Somos um bebê, que se mostra em pleno crescimento, além das expectativas sonhadas no início.

Feliz Natal e Próspero Ano Novo!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Anatomia do Suicídio

Anatomia= Estudo das partes constituintes de um determinado objeto ou tema.

Suicídio= Ato de autoinfligir-se a morte.


Na abordagem da Anatomia do Suicídio, verificamos tratar-se de um problema de saúde pública, com índices crescentes em países como o México e o Brasil. Estima-se que uma pessoa dá fim a própria vida a cada 40 segundos, totalizando 1 milhão de vidas anualmente no mundo.

Existem dois picos etários nos quais a incidência aumenta: entre os 15 e 24 anos, a adolescência e vida adulta jovem, e acima dos 70 anos, na terceira idade. Na faixa etária mais jovem há uma predominância da impulsividade, enquanto que na faixa etária mais tardia, o planejamento. Isso representa mais tentativas e menos óbitos na faixa etária mais jovem e menos tentativas e mais óbitos na terceira idade. Além disso, os meios utilizados são mais letais na terceira idade, principalmente o enforcamento e o uso de arma de fogo.

O suicídio é o um ato extremo que atinge diretamente , no mínimo, seis pessoas, deixando sequelas indeléveis e irreversíveis. Os principais sentimentos provocados são a vergonha e a culpa.

Em 90 % dos casos investigados podem ser encontrados sinais e sintomas de algum transtorno mental, entre eles o transtorno depressivo, o transtorno afetivo bipolar(TAB), a esquizofrenia, os transtornos de ansiedade, com ataques de pânico, o abuso e dependência de álcool e outras drogas e transtornos na personalidade.

A tentativa de encontrar explicações exatas para o esclarecimento do ato suicida é inalcançável, pois as hipóteses aventadas não podem ser confirmadas prospectivamente. A avaliação é sempre individualizada e retrospectiva, através de mais indícios do que provas.

Os motivos que levam ao intento suicida incluem: desejos de reencontro com entes falecidos, busca de alívio para sofrimentos físicos e mentais, fuga de problemas financeiros, dificuldade de recorrer à ajuda psiquiátrica para tratamento de doenças mentais, capacidade comprometida de enfrentar perdas e estressores ambientais, entre outros.

A prevenção absoluta do suicídio é impossível. Os recursos terapêuticos até o momento são o uso de medicamentos e psicoterapia para diminuir o risco e até fazer cessar o impulso iminente. Além dos fatores mentais e ambientais, há evidências de influências genéticas que interferem na regulação de neurotransmissores- serotonina e dopamina- essenciais para o humor e o pensamento.

Cabe aos médicos, familiares e amigos desenvolverem a percepção em detectar sinais indiretos da intenção suicida, pois esses pacientes sinalizam a vontade , em média, 1 mês antes do desfecho.





segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"Depressões " de Fim de Ano

Uma das queixas que se acentua no período natalino e de virada de ano são as "depressões". Na realidade, estamos falando das depressões clínicas, que demandam tratamento medicamentoso para a supressão sintomatológica e também do espectro de estados depressivos que causam sofrimento psicológico nesta fase do ano.

Em relação aos estados depressivos, há diferentes causas tanto quanto há diferentes pessoas no mundo. Cada indivíduo vivencia esta fase do ano de maneira subjetiva e ,de acordo com as suas experiências de vida, desenvolvimento da personalidade e demandas atuais, responde de maneira mais ou menos equilibrada.

As "depressões" incluem : estados de tristeza por motivos que vão da baixa autoestima a sentimentos de culpa que afloram por causas psicológicas mal-resolvidas no relacionamento com os pais  na infância até intolerância a perdas reais e imaginárias que são relembradas neste período de comemoração e confraternização. Quando há uma perda de um ente querido, que estará ausente da confraternização, estamos diante de uma rememoração do luto, onde os sentimentos de pesar fixam-se na perda irreparável. Onde deveria haver congregamento, há separação. Outra causa comum é a melancolia por introjeção de traços de personalidade herdados dos genitores, que ficam ressaltados nas reuniões familiares, reestimulando sofrimentos experienciados na infância, seja por alcoolismo, desavenças familíares, abusos físicos e psicológicos.

Todas as pessoas possuem "núcleos melancólicos", que são ativados em períodos festivos, por convivência com outras pessoas problemáticas, onde as diferenças sobressaem e a tolerância se encolhe. Conviver com familiares com quem se tem pouca afinidade desperta desprazeres e sensações de inutilidade, por incompatibilidade de gênios e preferências. A "sensação de falsidade" expande-se no ar. Pessoas com traços fóbicos sociais ou mesmo fobia social sentem-se obrigadas a passar " momentos de comemoração" com estranhos e familiares de familiares, cuja interação por si só, provoca estranhamento e desconforto. Isso alimenta sensações de ansiedade, angústia e  deslocamento social.

Pessoas muito preocupadas com o julgamento dos outros depositam expectativas irrealistas no desfecho da comemoração, almejando reconhecimentos por conquistas durante o ano, o que raramente acontece. A virada do ano sinaliza "mais um ano" , que nunca é isento de desafios, problemas, buscas e nisso tudo paira uma sensação de "algum desejo inalcançável". Essa constatação imaginária desperta angústias existenciais, como a impossibilidade de se ter a completude dos desejos, que não foram supridos no ano que finda e que não serão alcançados no ano que inicia. A rotina do fim de ano completa o ciclo da inquietação humana, com o estresse do materialismo fomentado pela mídia e pela correria de compras desenfreadas para agradar a todos. Presentes para fulano, beltrano, sicrano. Uma teatralização de afetos frágeis e uma obrigação da rotina natalina, cada vez mais forte e carregada com a mão do marketing.

A vida é calcada em rotinas. As expectativas frustradas, os afetos congelados, as mudanças interrelacionais que não acontecem, as pressões financeiras, as tragédias veiculadas como caldo de cultura de uma época, o egoísmo humano, são fatores contribuintes para a sensação de "depressão do fim de ano". A repetição desse estado todo ano denota uma constância de condições internas e externas que não mudaram o suficiente para haver uma cura psicológica. A restimulação torna as feridas agudamente dolorosas sempre que dezembro se aproxima.

Mais do que entender os fatores subjacentes aos sentimentos desagradáveis, faz-se necessário promover o tratamento amenizador dessa dores e angústias, até o completo restabelecimento do propósito básico do Natal e Ano Novo: a comemoração de mais um ano entre as pessoas que amamos e a esperança de um ano melhor que se desdobra diante das nossos olhos e corações.