terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Diagnóstico Multiaxial na Psiquiatria

A Psiquiatria estabelece 5 eixos diagnósticos. No eixo I catalogamos as doenças mentais clínicas. No eixo II catalogamos o retardo mental e os transtornos de personalidade(TP). No eixo III catalogamos as doenças clínicas físicas. No eixo IV catalogamos os estressores psicossociais. No eixo V aplicamos uma escala global de funcionalidade no último ano.
Mantendo a tradição de abordagem ampla e holística, avalia o ser humano como um todo. O objetivo é estudar a correlação entre a mente, o corpo e os aspectos ambientais. Com essa visão multiaxial, pretende-se englobar o máximo de nuances diagnósticas, para prover um tratamento mais específico e eficaz possível.
Cada indivíduo é multidimensional. No processo diagnóstico precisamos coletar dados do perfil de sinais e sintomas( diagnóstico psiquiátrico e clínico- eixo I e III) , num corte transversal no tempo, além de elaborarmos um raciocínio histórico longitudinal( eixo I, II, III, IV e V). O processo demanda mais de uma sessão, podendo demorar meses para o esclarecimento psiquiátrico completo. Por isso, a importância do acompanhamento psiquiátrico regular a longo prazo. Quando há remissão dos sintomas agudos, o paciente já quer alta! Isso invalida a continuidade do processo completo de investigação diagnóstica.
A psiquiatria está ampliando os recursos diagnósticos a cada ano. Atualmente a maioria dos diagnósticos depende da percepção e experiência do psiquiatra, que foi adquirida no atendimento do maior número possível de casos clínicos. Mas já estão em investigação outros processos mais objetivos( neuroimagem, testes genéticos, testagem neuropsicológica). Portanto, atualmente , a qualidade do diagnóstico é proporcional à capacitação técnica e psicológica do psiquiatra. A psiquiatria atual é subjetiva, baseada em referenciais classificatórios objetivos( checklist).
Além da acurácia diagnóstica, torna-se importante o vínculo terapêutico com o médico. Além do vínculo, o profissional precisa ter habilidades atualizadas em psicofarmacologia. Com o surgimento de novas classes de medicamentos, o potencial de interação com outros medicamentos de outras especialidades, o domínio de dezenas de medicamentos é um habilidade técnica fundamental. Essa alquimia psicofarmacológica faz a diferença no sucesso ou fracasso terapêutico!

Transtornos Psiquiátricos Intratáveis pelos atuais Métodos Terapêuticos- Parte II

A Medicina não cura todas as doenças. Muitas delas são crônicas e demandam tratamento a longo prazo, com controle sintomatológico( remissão), mas sem a cura definitiva. Se os pacientes interrompem o tratamento, os sintomas reaparecem( recaída ou recorrência). Entre as doenças clínicas mais conhecidas dentro desse padrão estão a HAS( hipertensão arterial Sistêmica), a diabetes, a artrite reumatóide e outras. Na psiquiatria não é muito diferente. A maioria das doenças são incuráveis, mas conseguimos controle sintomatógico( remissão), através do uso de medicamentos ou psicoterapias a longo prazo.
Existem doenças , entretanto, que não conseguimos nem uma remissão total , nem um controle sintomatológico ideal. São os casos intratáveis na Psiquiatria, principalmente os transtornos de personalidade. Por estarem rigidamente estruturados na maneira de ser, pensar, comportar-se do indivíduo, é extremamente trabalhoso produzir mudanças. Demanda a voluntariedade do paciente( rara), a habilidade técnica do psiquiatra, o tempo prolongado de tratamento( ou contínuo), o que produz resultados pífios.
Entre os transtornos de personalidade difíceis( ou impossíveis) de alcançar resultados terapêuticos substanciais estão o transtorno de personalidade antissocial, paranóide, esquizóide e em menor grau( alguma resposta e melhora com o tempo), o borderline. Esses transtornos são tratáveis( porque precisamos tratar), mas os resultados observados são mínimos. Os três fatores necessários para o sucesso terapêutico geralmente não conseguem acontecer simultaneamente.
Outros transtornos recorrentes e pouco responsivos ao tratamento, com a tendência de permanecerem a despeito do tratamento são os transtornos somatoformes, os transtornos conversivo-dissociativos, alguns transtornos neuróticos( esses passíveis de tratamento com psicoterapia). Eles ocupam a mente e a vida do paciente, que passam a viver em função dos sintomas, desinvestindo de outros aspectos mais importantes da sua existência. A perda de tempo e de tranquilidade são sinais óbvios de doença!

Transtornos Psiquiátricos Intratáveis pelos atuais Métodos Terapêuticos






Muitos casos na psiquiatria são considerados intratáveis. Isto é, eles recebem tratamento, entretanto não apresentam melhora suficiente. São casos difíceis, pouco responsivos, com os pacientes fazendo algumas consultas e depois abandonando o tratamento. As expectativas são irrealistas e esses pacientes com transtornos graves de personalidade(TP) querem resultados imediatos, senão culpam o psiquiatra ou psicólogo!


Lidar com trantornos graves de personalidade(TP) é um dos maiores desafios da Saúde Mental. Existem profissionais que se especializam em trabalhar especificamente com esses pacientes difíceis. Mas pode ser uma experiência frustrante.


Logo no início das consultas, percebemos a gravidade do quadro. Casos que envolvem dependência de substâncias geralmente estão associados a transtornos graves de personalidade. Nos transtornos graves de personalidade, há um desvio dos traços de personalidade ou comportamento, com sobrecarga da família, da sociedade, dos cônjuges, comportamentos disruptivos, prejuízos pessoais e profissionais. Apesar do tratamento, os pacientes melhoram pouco ou não melhoram!


Alguns sinais de TP se fazem notar na postura, na comunicação verbal, no histórico de vida e nos resultados alcançados na vida até aquele momento. Vamos a alguns sinais e sintomas prevalentes em pacientes portadores de TP:
1)Uso de múltiplas drogas( uma pesquisa demonstra associação de usuários de drogas com TP em mais de 60 % dos casos). As drogas podem ser álcool, cocaína, maconha e outros;
2) Revoltas frequentes desde a tenra infância, com sinais de agressividade física e verbal, com abuso da confiança dos pais( '" minha mãe confiava em mim , enquanto eu festiava");
3) Envolvimento com a polícia ou transgressões- dirigir embriagado, envolver-se em acidentes de trânsito e atropelamentos( " Subi na calçada umas três vezes ");
4) Abandono das atividades acadêmicas ou subaproveitamento acadêmico;
5) Indefinições profissionais( " vou fazer concurso de qualquer coisa") ;
6) Gasto de tempo em atividades improdutivas( " minha especialidade é sair para caçar");
7) Problemas com autoridades( " eu apanhei da polícia, porque eu não aceito que me mandem");
8) Envolvimento com atividades ilícitas( " eu passava na boladinha, só na agiotagem");
9) Comportamentos manipulativos( " sou estrategista e vingativa");
10) Falta de coesão de Identidade( "Não sou 100%, pareço uma personagem");
11) Ausência de culpa( " não me arrependo das coisas").