quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Tratamentos do Transtorno Bipolar


Os tratamentos para o Transtorno Bipolar vão depender do diagnóstico acurado. Se estivermos frente a um surto maníaco clássico( com euforia, idéias de grandeza, humor elevado, verborragia, taquilalia), o carbolitium pode ser uma opção interessante. Se estivermos diante de um surto maníaco com sintomas psicóticos, a associação do lítio com antipsicóticos pode ser necessária para a aceleração do esbatimento dos sintomas. Se estivermos diante de uma mania com ciclagem rápida ou episódios mistos, o lítio não funciona com eficácia, sendo necessário o uso dos anticonvulsivantes( ácido valpróico, carbamazepina, oxcarbazepina ou antipsicóticos atípicos).
Se estivermos diante de uma depressão bipolar, podemos usar a associação zyprexa+ fluoxetina, o seroquel e a lamotrigina.

Como diferenciar Depressão Bipolar da Unipolar?




Antes de diferenciarmos as depressões, cabe dizer que o transtorno afetivo bipolar não anda sozinho. Em 63% dos casos estudados havia descontrole de impulsos associado. Um estudo feito em 2007 por Merikangas et al verificou que 60 % dos bipolares tipo I e 42,3 % de todos os bipolares tiveram ao longo da vida o diagnóstico de abuso/dependência de álcool e drogas. As chances para os bipolares tipo I terem tais diagnósticos é nove vezes maior que para a população em geral.
Em 2006, Ghaemi propôs os seguintes itens para identificar uma depressão bipolar ao invés de unipolar:




* Idade de início precoce



* Recorrência( > de três episódios)




* Ocorrência pós-parto




* Ciclagem rápida( > de 4 episódios /ano)




* Duração curta dos episódios depressivos



* Personalidade de base hipertímica




* Sintomas Atípicos( muito sono, muita fome, muito cansaço)




* Estado misto depressivo




* Depressão agitada, ansiosa




* Depressão anérgica( sem energia)




* Irritabilidade/ Ataques de Raiva



Temperamentos e Bipolaridade






Temperamento é a composição biológica da personalidade. A personalidade é construída pela interação da genética( temperamento) com meio ambiente. O meio ambiente molda o caráter.
Segundo Akiskal( 1987), os estados mistos emergem quando um episódio afetivo se assenta sobre um temperamento de polaridade oposta.




Os três possíveis estados mistos seriam:




1) temperamento depressivo + episódio maníaco


2) temperamento ciclotímico + depressão maior


3) temperamento hipertímico + depressão maior




A situação 1 geralmente produz estados mistos do tipo psicótico, com características incongruentes com o humor. Observam-se crises de choro, euforia, grandiosidade, aceleração de pensamento, hipersexualidade, ideação suicida, irritabilidade, raiva, insônia grave, agitação psicomotora, delírios paranóides persecutórios, alucinações auditivas.




A situação 2 caracteriza-se mais por humor depressivo, excesso de sono e apetite, fadiga, hipersexualidade impulsiva, tentativas dramáticas de suicídio , jogo patológico , abuso de álcool e estimulantes.




A situação 3 caracteriza-se por disforia, irrascibilidade, agitação sobre um fundo de inibição motora, aceleração de pensamentos, insônia, excitação sexual, histrionismo, intenso sofrimento, fadiga, podendo haver abuso de álcool e estimulantes também.

Estados Mistos Maníacos e Depressivos


Em 1192 McElroy e colaboradores propuseram o termo mania disfórica para episódios maníaco ou hipomaníaco completos associados ao aparecimento simultâneo de três ou mais sintomas depressivos.
Os estados mistos depressivos foram retomados na pesquisa por Akiskal, Perugi e Benazzi e outros. As depressões agitadas foram sugeridas como forma de estados mistos, porque melhoram com o uso de estabilizadores de humor e antipsicóticos atípicos e pioram com os antidepressivos. Os sintomas depressivos nos estados mistos são irritabilidade, hiperatividade mental, ( fuga de idéias, pensamentos acelerados, dificuldade de seguir uma linha de raciocínio), hiperatividade comportamental( agitação psicomotora e loquacidade excessiva).

Estados Mistos no Transtorno Bipolar


Quando tratados com antidepressivos, pacientes com temperamento hipertímico sofrem o agravamento de seus sintomas , com o aparecimento de estados mistos. Muitos pacientes diagnosticados como depressivos unipolares( são pseudounipolares) recebem antidepressivos e podem sofrer uma viragem maníaca.
Portanto, a investigação exaustiva da história psiquiátrica pregressa é importantíssima, em busca de sinais e sintomas de hipomania ou mania, para evitar a indução de quadros iatrogênicos( causados pelo médico). A prescrição desenfreada de antidepressivos( receita de bolo) pelo clínicos gerais e neurologistas é condenável, por causa dos riscos citados.
Nos estados mistos, o paciente apresenta uma mescla de sintomas depressivos e maníacos. Como os critérios diagnósticos são bastante rígidos, exigindo uma semana de manifestação simultânea de sintomas maníacos e depressivos, muitos estados mistos subsindrômicos ficam sem diagnóstico.
Com o advento do movimento neo-kraepeliano nos EUA, muitos trabalhos investigando estados mistos começaram a surgir. Os trabalhos encontraram prevalências que vão desde 16 % a 65 %, de acordo com a metodologia aplicada. A formulação do conceito unitário de Kraepelin reconhecia a existência desses estados mistos. Muitos autores sugerem a flexibilização dos critérios diagnósticos do DSM- IV( manual diagnóstico e estatístico das enfermidades mentais) para podermos englobar mais estados mistos vistos na clínica diária.