O segundo palestrante foi o psiquiatra de Alegrete, Marcelo Victor, mestre em Psiquiatria pela UFRGS e membro da equipe do ambulatório de TDAH em adultos do Hospital de Clinicas de Porto Alegre. Ele abordou os tratamentos disponíveis para o transtorno:
O Dr. Marcelo Victor mostrou dados de inúmeras metanálises( avaliação comparativa de diferentes trabalhos na literatura) a respeito dos tratamentos utilizados no TDAH. Há mais de 270 trabalhos publicados a respeito do metilfenidato, mostrando uma eficácia terapêutica da ordem de 0,67. Isso significa uma resposta robusta, maior até que a eficácia dos antidepressivos e antipsicóticos. O metilfenidato continua o padrão-ouro para o tratamento do TDAH tanto em crianças quanto em adultos.
Mesmo com a onda de desinformação quanto aos tratamentos, veiculada pela mídia, afirmando o excesso de prescrição de metilfenidato, nos EUA , apenas 10 %( 4 milhões de pessoas) se tratam para a doença. No Brasil esse número é menor. Aqueles que começam o tratamento com o metifenidato de liberação imediata seguem o tratamento, em média, por apenas 38 dias! Os que usam o metilfenidato de liberação prolongada atingem apenas 2 meses de tratamento! Tratando-se de um transtorno do neurodesenvolvimento cerebral, que vai durar a vida inteira, esse tempo de tratamento é ínfimo e insuficiente.
Outros pontos ressaltados foram os riscos envolvidos com o uso de um psicoestimulante. O Dr. Marcelo enfatizou a importância da exclusão do transtorno de humor bipolar como primeiro diagnóstico, pois o uso de metilfenidato pode piorar os sintomas desse transtorno. O TDAH seria um diagnóstico encoberto pelos principais transtornos psiquiátricos, com transtornos de ansiedade, transtornos de humor, transtorno por uso de substância( 50% dos usuários de drogas possuem diagnóstico de TDAH).
O uso de metilfenidato possui um risco pequeno de causar dependência, apesar de ser um derivado anfetamínico. Novas formulações estão sendo comercializadas nos EUA e devem chegar ao Brasil em breve( adesivo), diminuindo mais o possível abuso desse medicamento. O uso crônico de metilfenidato causa um atraso na estatura de crianças, mas no final da adolescência , essas crianças chegam à altura normal de outras crianças que não usaram o medicamento. Outros risco é o cardíaco, com elevação da pressão arterial média em 2 mmHG, o que equivale num aumento de risco cardíaco relativo em 10 anos de uso. Ele sugere o controle dos níveis pressóricos regularmente e a avaliação cardiológica antes do uso do metilfenidato( exclusão de doenças cardíacas estruturais). Devido à alta comorbidade( presença de outras doenças físicas e mentais), uma avaliação clínica é importante no decorrer do acompanhamento psiquiátrico. O ambulatório do Hospital das Clínicas possui o maior número individual de pacientes TDAH do mundo! São 500 pacientes em acompanhamento. Desses, apenas 40 são TDAH puros. Os outros 420 possuem alguma comorbidade.
Por fim, o Dr. Marcelo abordou outros tratamentos alternativos, mas com boa resposta também, como a bupropiona( eficácia terapêutica da ordem de 0,54), os antidepressivos tricíciclicos, a modafinila( usada para narcolepsia e transtorno da sonolência diurna) e a atomoxetina.