domingo, 20 de setembro de 2009

Principais Pontos no Evento TDAH-18/09


O segundo palestrante foi o psiquiatra de Alegrete, Marcelo Victor, mestre em Psiquiatria pela UFRGS e membro da equipe do ambulatório de TDAH em adultos do Hospital de Clinicas de Porto Alegre. Ele abordou os tratamentos disponíveis para o transtorno:


O Dr. Marcelo Victor mostrou dados de inúmeras metanálises( avaliação comparativa de diferentes trabalhos na literatura) a respeito dos tratamentos utilizados no TDAH. Há mais de 270 trabalhos publicados a respeito do metilfenidato, mostrando uma eficácia terapêutica da ordem de 0,67. Isso significa uma resposta robusta, maior até que a eficácia dos antidepressivos e antipsicóticos. O metilfenidato continua o padrão-ouro para o tratamento do TDAH tanto em crianças quanto em adultos.
Mesmo com a onda de desinformação quanto aos tratamentos, veiculada pela mídia, afirmando o excesso de prescrição de metilfenidato, nos EUA , apenas 10 %( 4 milhões de pessoas) se tratam para a doença. No Brasil esse número é menor. Aqueles que começam o tratamento com o metifenidato de liberação imediata seguem o tratamento, em média, por apenas 38 dias! Os que usam o metilfenidato de liberação prolongada atingem apenas 2 meses de tratamento! Tratando-se de um transtorno do neurodesenvolvimento cerebral, que vai durar a vida inteira, esse tempo de tratamento é ínfimo e insuficiente.
Outros pontos ressaltados foram os riscos envolvidos com o uso de um psicoestimulante. O Dr. Marcelo enfatizou a importância da exclusão do transtorno de humor bipolar como primeiro diagnóstico, pois o uso de metilfenidato pode piorar os sintomas desse transtorno. O TDAH seria um diagnóstico encoberto pelos principais transtornos psiquiátricos, com transtornos de ansiedade, transtornos de humor, transtorno por uso de substância( 50% dos usuários de drogas possuem diagnóstico de TDAH).
O uso de metilfenidato possui um risco pequeno de causar dependência, apesar de ser um derivado anfetamínico. Novas formulações estão sendo comercializadas nos EUA e devem chegar ao Brasil em breve( adesivo), diminuindo mais o possível abuso desse medicamento. O uso crônico de metilfenidato causa um atraso na estatura de crianças, mas no final da adolescência , essas crianças chegam à altura normal de outras crianças que não usaram o medicamento. Outros risco é o cardíaco, com elevação da pressão arterial média em 2 mmHG, o que equivale num aumento de risco cardíaco relativo em 10 anos de uso. Ele sugere o controle dos níveis pressóricos regularmente e a avaliação cardiológica antes do uso do metilfenidato( exclusão de doenças cardíacas estruturais). Devido à alta comorbidade( presença de outras doenças físicas e mentais), uma avaliação clínica é importante no decorrer do acompanhamento psiquiátrico. O ambulatório do Hospital das Clínicas possui o maior número individual de pacientes TDAH do mundo! São 500 pacientes em acompanhamento. Desses, apenas 40 são TDAH puros. Os outros 420 possuem alguma comorbidade.
Por fim, o Dr. Marcelo abordou outros tratamentos alternativos, mas com boa resposta também, como a bupropiona( eficácia terapêutica da ordem de 0,54), os antidepressivos tricíciclicos, a modafinila( usada para narcolepsia e transtorno da sonolência diurna) e a atomoxetina.

Principais Pontos no Evento TDAH-18/09



O primeiro palestrante, Dr. Eugênio Grevet, doutor em Psiquiatria pela UFRGS e coordenador do ambulatório de TDAH em adultos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre:
O Dr. Eugênio iniciou fazendo um breve histórico da classificação de TDAH.Já no século passado havia descrições esparsas de "crianças que não conseguiam parar quietas", principalmente feitas por pediatras. Mas foi no início do século que houve uma descrição formal desse quadro patológico. No início se pensou num "distúrbio moral" nessas crianças com dificuldades escolares, de atenção e comportamento. A partir da década de 50, com a utilização do metilfenidato, esses quadros começaram a ser tratados. A resposta ao tratamento se mostrou excelente. Até o ano de 1976, pouco se falou sobre TDAH em adultos. Um pesquisador americano resolveu acompanhar crianças hiperativas até a vida adulta. E ele descobriu que muitos adultos continuavam com os déficits de atenção , mas os sintomas de hiperatividade sofriam uma atenuação. A partir da década de 90, os estudos com déficit de atenção em adulto começaram a ganhar espaço na literatura científica.

Ainda hoje o desafio é a extrapolação diagnóstica, pois os sintomas classificatórios do TDAH, segundo o DSM-IV TR e a CID 10(OMS) , estão adaptados para crianças. Da mesma maneira isso ocorre com outros transtornos de início na infância, como autismo, transtornos de aprendizagem. A partir de 2012 com o lançamento do DSM V esses critérios precisarão ser melhor operacionalizados. Temos um representante gaúcho no comitê de reelaboração, o prof. Luis Rodhe, da UFRGS.
Outro desafio é a diferenciação diagnóstica com outros transtornos psiquiátricos, já que 80 % dos portadores de TDAH possuem mais de um diagnóstico psiquíátrico concomitante. Muitos sintomas são sobrepostos, principalmente sintomas de humor maníaco. Um ponto relevante é diferenciar a "impulsividade agressiva" do bipolar, da "impulsividade bobinha" do hiperativo( por exemplo, não consegue esperar numa fila). Por fim, o Dr. Eugênio ressaltou a importância dos psiquiatras ficarem atentos para a percepção diagnóstica do transtorno. Ele usou o exemplo da mira dos atiradores, onde existem muitos alvos ( diagnósticos), mas precisamos estar atentos para não atirar no alvo errado( achar que tudo é TDAH) e esquecer outros transtornos, mas também não podemos subestimar um transtorno que afeta no mínimo, 2,5 % da população adulta geral no mundo e 16,5 % dos pacientes em consultórios psiquiátricos.