domingo, 27 de setembro de 2009

Estratégias para tratar TDAH



Sabendo que os pacientes com TDAH têm uma hipoatividade do córtex pré-frontal, vamos ajudá-los a ativar o córtex pré-frontal com atividades produtivas.

A primeira estratégia é Desenvolva um foco claro: isso se faz através do estabelecimento de metas diárias, semanais, a curto, médio e longo prazo. Vocês lembram que o córtex pré-frontal, entre outras atividades, faz justamente isso- planeja. Se não planeja, preocupa-se. Vamos dar metas para substituir preocupações inúteis. Sento com o meu paciente e o ajudo a escrever no papel suas metas. Essas metas precisam seguir regras claras: elas necessitam ser da pessoa, ser alcançáveis, datadas, ecológicas( isto é, não podem ferir a lógica nem causar danos a si ou terceiros) e precisam possuir um programa passo-a- passo detalhado para a execução. Gosto de usar a "roda da vida"( uma ferramenta de coaching), onde avaliamos as diferentes áreas da vida da pessoa que precisam de cuidados. Isso inclui os relacionamentos, o trabalho, o manejo financeiro, o autocuidado, a espiritualidade e outros.
A segunda estratégia é Concentrar-se no que gosta e não no que não gosta: O cérebro não lida com o " não", por isso se você pensar no que não quer, vai consegui-lo! Pense no que quer, canalize suas energias e entusiasmo na busca de metas excitantes. Não podemos bloquear o fluxo de energia de alguém com TDAH, mas podemos canalizá-lo! Esse vai ser um grande desafio, já que a tendência neurológica de focalizar os aspectos negativos dos projetos está sempre à espreita. Mas com bastante treino, tudo se consegue.
A terceira estratégia: Organize-se e procure ajuda de terceiros: Separe tempo extra, esvazie a agenda( isso deixa tempo extra) , dê prioridade a poucos projetos, marque prazos com bastante antecedência, carregue uma agenda com no máximo seis compromissos diários distribuídos por ordem de importância, use agendas e despertadores, divida tarefas grandes em micrometas, delegue e faça as tarefas mais incômodas primeiro. Segundo Brian Tracy, um coach internacional, " coma o sapo gelado no café da manhã".
A quarta estratégia: Pratique Neurobiofeedback e Meditação
A quinta estratégia: Pare de ser o estimulante de alguém: Fale calmamente, se começar a sair do controle, vá ao banheiro ou vá tomar um cafezinho. Use o humor para acalmar os ânimos. Seja um bom ouvinte. Quando tiver a tentação de interromper ou terminar a frase do interlocutor, conte até 10. Mesmo que tenha uma resposta pronta, peça tempo para pensar a respeito de qualquer coisa.
A sexta estratégia: Considere o uso de medicamento para o córtex pré-frontal.
A sétima estratégia: Alimente o seu córtex pré-frontal com os alimentos corretos: Invista nas proteínas(carnes magras, ovos, queijos magros, nozes , legumes, atum, frango, peixe,), suplementação de omega 3, e reduza os carboidratos.
A oitava estratégia: Pratique Exercícios Físicos Aeróbicos: Eles liberam neurotransmissores importantes e fazem bem ao coração e à memória!

Tratamento Multidisciplinar para TDAH



Apesar do metilfenidato demonstrar eficácia terapêutica da ordem de 70 a 90 % em relação aos sintomas do transtorno, sabemos que o TDAH é mais complexo do que simplesmente controlar os sintomas da doença.
Muitos pacientes descobrem que são hiperativos ou desatentos depois de anos de evolução do transtorno e já apresentam déficits neurobiológicos e comportamentais instalados. O que fazer para tratar as consequências do transtorno na fase crônica?
Costumo dizer que o metilfenidato ou outras medicações ( atomoxetina, bupropiona, venlafaxina, modafinila) vão controlar os sintomas agudos da doença, devolvendo ao paciente a capacidade de ter um cérebro normal. Entretanto, as medicações não vão ensinar o paciente a corrigir os vícios compensatórios adquiridos ao longo de anos! Formou-se um círculo vicioso, em que a hipoatividade neuronal levou o paciente a usar vias neuronais anômalas alternativas para contornar a deficiência e com isso gerou distorções comportamentais consequentes.
Cabe a uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, psicopedagogos, orientadores educacionais, reorganizar " a agenda mental" e a "agenda cotidiana" desse indivíduo.
A combinação entre medicação e terapia comportamental resultou na maior taxa de sucesso, 68%. Essa pesquisa ressalta a importância do tratamento combinado. Os pais e educadores podem ajudar as crianças e adultos com TDAH a lidar com as tarefas com mais organização e menos impulsividade. Uma estratégia é contar até 10 antes de emitir uma resposta, como treinamento de controle de impulsos. Cartões com dizeres com "Pare", ajudam na tarefa. Outra estratégia é o estabelecimento de cronograma de metas, com objetivos claros e alcançaveis diariamente.
Outro recurso tecnológico que está sendo testado é o neurofeedback, que funciona através de jogos interativos no computador, que ensinam as crianças a influenciar conscientemente suas ondas cerebrais. Elas podem ficar mais atentas e calmas se reforçarem certos tipos de ondas cerebrais e reduzirem outras. Sons, músicas ou vídeos são a recompensa quando conseguem a alteração desejada. Geralmente as sessões duram 30 a 40 minutos três a quatro vezes por semana, num período de seis a dez semanas.

TDAH , Genética e Padrão Familiar



Pesquisas recentes demonstram que o TDAH é uma doença de transmissão genética e com alta herdabilidade nos descendentes de pais acometidos pelo transtorno.

Estudos conduzidos por Anita Thapar, da Universidade de Cardiff, em 1999 e por Philip Aherson, do King´s College, de Londres, em 2001, por Susan Sprich, do Hospital Geral de Massachusetts, em 2001, mostraram que 80 % dos casos de TDAH tem relação com a hereditariedade. Os pesquisadores estão trabalhando para identificar os genes envolvidos na doença. Esse grupo inclui genes para proteínas que influenciam a circulação da dopamina nas sinapses neuronais. Parece que a mediação da dopamina nas sinapses nesses pacientes é mais fraca e a captação da dopamina remanescente é muito mais rápida do que em pessoas não afetadas. Haveria, portanto , uma falha no metabolismo da dopamina, um dos neurotransmissores envolvidos nos sintomas. O outro neurotransmissor estudado, a norepinefrina, mas as pesquisas genéticas são menos categóricas em afirmar relação causal. Especialistas acreditam que os locais( loci) gênicos descobertos até o momento explicam apenas 5 % dos comportamentos problemáticos. A probabilidade de desenvolver o TDAH depende da associação de diferentes genes! Por outro lado, o resultado final é sempre considerado como a interação de fatores psicossociais promovendo a "expressão gênica", isto é, o ambiente funciona como um facilitador da instalação e desenvolvimento do TDAH. Muitos pais trazem filhos para consultar e no final da consulta descobrem que também têm TDAH.

TDAH , Mau Humor e Desorganização



A energia e o entusiasmo de pessoas com TDAH as leva a se envolver em muitos projetos. Mas são pouco afeitos a conclui-los! Iniciam projetos, deixam pela metade. A falta de foco e organização faz com que deixem a operacionalização das fases intermediárias de qualquer trabalho incompleta.
A desorganização inclui tanto o aproveitamento do espaço físico como salas, malas, gabinetes, escrivaninhas e armários, como quanto à administração do tempo.
O mau humor característico do TDAH pode nos levar a concluir que eles possuem algum transtorno de humor( e a maioria têm!), mas o que acontece em nível cerebral é a incapacidade cortical de moderar o sistema límbico( responsável pelas emoções), que então fica muito ativo, levando a humor descontrolado e irritadiço!
Nenhum exame de imagem é suficiente para o diagnóstico de TDAH, mas testes neuropsicológicos mostram os sinais de desatenção e impulsividade comum nesses pacientes. Em fase de pesquisa, um exame chamado SPECT( tomografia computadorizada por emissão de pósitron) demonstra as alterações funcionais nas áreas envolvidas.
Outra queixa frequente é considerar crianças e adultos com TDAH como preguiçosos e criticá-los por isso. Quando tratados, o desempenho acadêmico e profissional melhora "milagrosamente".
Vale a pena ressaltar que existem inúmeros estímulos que são buscados( inconscientemente) como meio de tratar do TDAH não diagnosticado pelo médico: vida agitada, café, cigarro, outras drogas, atividades físicas altamente estimulantes( esportes radicais).

TDAH e Busca de Conflitos


Inconscientemente indivíduos com TDAH buscam conflitos nas interações humanas como uma maneira de estimular o próprio córtex pré-frontal. Eles não se dão conta que fazem isso, mas quem está ao redor percebe! O córtex pré-frontal hipoativo anseia por mais atividade. Provocar confusão é uma maneira de auto-estimulação pré-frontal! Muitas crianças se envolvem em brincadeiras irritantes sem se dar conta do mal-estar que causam nas outras pessoas.
Outra maneira de auto-estimulação em indivíduos com TDAH é preocupar-se com problemas ou se concentrar neles. Isso produz cortisol que ativa o cérebro. Esse comportamento "incomodativo" deveria ser o foco de qualquer terapia adjuvante no tratamento desses pacientes. Em suma, fique atento para pessoas que são muito raivosas, criam tumultos emocionais e focalizam aspectos negativos das coisas. Pode ser uma maneira viciante de estimular os seus cérebros hipoativos! A propósito, um dos transtornos comórbidos com TDAH é justamente o transtorno de oposição e desafio, bastante prevalente nessa população. Agora entendemos melhor os motivos cerebrais e neuroquímicos envolvidos!

TDAH e o ENEM



O TDAH ocorre como disfunção de duas regiões responsáveis pela atenção e concentração, além de inibirem comportamentos impulsivos. A primeira região, o córtex pré-frontal, em pessoas com TDAH, tem a sua atividade diminuída quando os portadores do transtorno tentam se concentrar, ao invés de aumentar( como acontece com indivíduos normais). Esses indivíduos com TDAH têm pouca capacidade de supervisão interna, pequeno âmbito de atenção, são distraídos, desorganizados , hiperativos, com descontrole de impulsos, apresentam dificuldade de aprender com os erros passados e capacidade de adiamento da gratificação de impulsos imediatos.
As pesquisas mostram que quanto mais as pessoas tentam se concentrar, pior para elas. A atividade pré-frontal desliga. Pessoas com TDAH precisam de ambientes com pouca pressão e mais elogios, principalmente se os ambientes forem estimulantes, interessantes e tranquilos.
Existem exemplos de crianças que levam horas tentando completar o dever escolar, algo que poderia ser feito em minutos, justamente por causa do pequeno âmbito de atenção e a tendência de se distrair com coisas novas, bonitas, novidades, estímulos externos à tarefa. A sala de aula com muitas crianças é um verdadeiro laboratório para a "descoberta" e " manutenção" de TDAH por causa da configuração rígida e entediante, que os portadores do transtorno não toleram.
Agora, com a nova prova do ENEM, com questões longas, quem tiver TDAH vai precisar tratar, senão vai ter grandes dificuldades de se manter concentrado em assuntos longos, variados, onde se encontram muitas respostas encobertas nas entrelinhas.

TDAH e Regiões Cerebrais Afetadas


Existem regiões cerebrais disfuncionantes responsáveis pelos sintomas de TDAH. A primeira região alterada é o Sistema Atencional Anterior( composto por áreas na região frontal-atrás da sua testa, que incluem o córtex pré-frontal , o córtex cingulado anterior e estruturas mais na base cerebral- os gânglios da base e o corpo estriado), dependentes de um neurotransmissor chamado dopamina. A segunda região alterada é o Sistema Atencional Posterior( composto pelo tálamo e lobo Parietal) , cujo neurotransmissor relevante é a norepinefrina.