quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ampliando o Espectro Bipolar



Há 10 anos os pesquisadores Akiskal e Olavo Pinto propuseram , com base nos seus dados de pesquisa, quatro protótipos do espectro bipolar: tipos I, II, III e IV, assim como casos intermediários ( I1/2, II1/2 e III1/2). O tipo I e II já foram explicados. O tipo bipolar I 1/2 diz respeito àqueles quadros que cursam com depressão e hipomania protraída. Já o tipo bipolar II 1/2( com depressões ciclotímicas) e hipomania com menos de três dias de duração. O bipolar tipo III alude à hipomanias induzidas por antidepressivos. A tipo III 1/2 alude à bipolaridade "mascarada" pelo abuso de estimulantes. A tipo IV diz respeito à depressão hipertímica( depressões tardias e que se sobrepôem a temperamentos hipertímicos de base.). Os temperamentos hipertímicos são comuns em homens, por volta dos 50 anos, cuja ambição e energia fizeram com que alcançassem sucesso em várias áreas de suas atividades.

Causas da Bipolaridade


Quanto às causas da bipolaridade, que denominamos etiologia, os THB são considerados transtornos predominantemente neurobiológicos com manifestação psicológica e comportamental. Os fatores genéticos possuem um papel maior do que em qualquer outro transtorno psiquiátrico. Existem o estressores sociais e familiares inespecíficos agindo como desencadeantes dos surtos ou mantenedores dos episódios patológicos.
A partir de estudos epidemiológicos , tem-se observado que cada episódio parece que predispõe ao próximo, tornando-se autônomo no decorrer do tempo, independentemente de fatores externos. A esse efeito damos o nome de kindling, para o aumento do número de episódios. Esse conceito significa que um estímulo elétrico poderia produzir uma resposta autônoma num neurônio mesmo que fosse subliminar.
Em torno de 5 % das manias há um fator secundário identificável, como encefalite, epilepsia, acidente vascular cerebral(AVC), traumatismo craniano, hipertireoidismo, entre outros. Essa mania recebe o nome de mania secundária. O uso e abuso de drogas como maconha, álcool, corticóides , L-dopa, também podem induzir mania.

Tipos de Bipolaridade


Os manuais diagnósticos fazem a distinção entre duas formas maiores do Transtorno de Humor Bipolar.(THB). O primeiro seria o THB tipo I( mania e depressão) e o Tipo II( depressão e hipomania), além de definir uma forma mais branda, a ciclotimia( flutuações entre hipomania e depressão menor ou subsindrômica). Há ainda o especificador ciclagem rápida, quando nos casos há 4 ou mais episódios por ano. Sintomas psicóticos podem ocorrer em 50 % dos casos( alucinações, paranóia, idéias delirantes), causando dificuldade diagnóstica com outras doenças, como a esquizofrenia, principalmente num primeiro episódio. Outro ponto que merece destaque é a especial atenção que o psiquiatra precisa dar às depressões pós-parto, pois muitas depressões são episódios de humor não diagnosticados.

Transtornos do Espectro Bipolar



Os Transtornos do Espectro Bipolar são crônicos, recorrentes, potencialmente letais( 25 % de tentativas de suicídio e 20 % cometem suicídio ), com remissão sintomatológica incompleta na maioria das vezes. Muitos casos são refratários aos tratamentos, com grandes custos para o paciente, seus familiares e a sociedade. Os polos de apresentação das doenças do espectro são o polo da mania e da hipomania( humor irritável, eufórico, pensamentos acelerados, idéias de grandeza, atividade motora aumentada, inquietação) e o polo da depressão( pensamento lentificado, idéias de culpa e ruína, tristeza e isolacionismo) e o polo misto( uma mistura de sintomas maníacos e depressivos).
Os transtornos de humor bipolar(THB) possuem uma prevalência estimada em 1,5%. Quando ampliamos a noção de espectro bipolar, a prevalência aumenta para 3 a 6%. O risco de desenvolver THB no decorrer da vida é de 1 a 2 %. Após o primeiro episódio, o risco de novos episódios é da ordem de 90 %, reforçando a necessidade de tratamento contínuo. Muita confusão se faz no diagnóstico diferencial entre pacientes depressivos puros( unipolares) e os pacientes depressivos bipolares. Estimativas mostram que 5 a 15 % dos pacientes depressivos unipolares são , na verdade, bipolares não diagnosticados. Há pesquisas que mostram que esse número é até mais alto, chegando a 50% em algumas amostras pesquisadas.
Esses transtornos iniciam na adolescência, mas podem começar em qualquer idade, inclusive na infância. A prevalência é igual em homens e mulheres, diferente da depressão unipolar, mais comum em mulheres.