quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Doutor, "Devo" Beber ?

Há 24 horas, o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, por meio de plebiscito, recusou a legalização da maconha para uso recreativo.

Levando-se em conta que a Califórnia é um dos estados mais libertários do país, concluo que a mentalidade desenvolvida e o bom senso suplantaram a irresponsabilidade daqueles que defendem o "tudo pode", a "anarquia", "a liberalização de seja lá o que for em nome de uma suposta liberdade". Na verdade, um pequeno percentual da população mundial usa maconha, portanto, os defensores da liberalização são um grupo minoritário, que tem a pretensão de estender as suas ideias à maioria, livre de drogas de abuso. Como toda a democracia, proponho um plebiscito nos mesmos moldes do plebiscito americano. Assim, encerraríamos esse capítulo lamentável que abriram alguns "intelectuais" em defesa de uma substância deletéria à saúde humana.

Mas o que eu gostaria de abordar hoje é a pergunta do título acima. Se ele despertou a sua atenção, garanto que vale a pena seguir a leitura até o fim.

Há 7 dias estiveram reunidos 5000 profissionais de Saúde Mental , entre eles, 3600 psiquiatras, em Fortaleza/CE no 28 º Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Lá estavam convidados nacionais e internacionais estudando avanços científicos na área. Engraçado, nenhum dos arautos da inocuidade da maconha passaram por lá. Nenhum jornalista da revista VEJA, que publicou uma reportagem sobre os "benefícios de beber álcool" foi convidado. Isso porque lá estavam os especialistas,  aqueles que  realmente estudam e entendem dos assuntos relacionados a transtornos por uso de substâncias, sem interesses midiáticos envolvidos, nem interesses de grupos de dependentes químicos.

A beleza de um blog como este é dar voz a especialistas verdadeiros. Faço aqui um pouco o papel de jornalista, fiel à coleta técnica dos dados, sem publicar distorções.

Uma palestra bastante interessante foi a do professor Ronaldo Laranjeira, da USP, um verdadeiro estudioso do assunto "drogas", além de reconhecido pesquisador ( inclusive com recursos oficiais) da realidade brasileira nesse tema. A propósito, o Dr. Ronaldo Laranjeira foi consultado pelo jornalista da revista VEJA, e mesmo explicando todos  os malefícios do uso de álcool acima de uma dose diária, a revista preferiu publicar o que bem quis, baseada numa pesquisa isolada, que é suplantada( mais uma vez, como no plebiscito americano) por centenas de outras pesquisas que comprovam o oposto da reportagem. Mas, como o que importa é vender notícias, todo mundo sabe que beber faz mal à saúde, então a revista preferiu  o sensacionalismo midiático de sempre. Os desavisados caem no conto da informação distorcida.

 O professor Laranjeira lembrou dois pontos relevantes quanto ao uso de álcool . Acima de uma dose diária de álcool, o equivalente a uma taça de vinho tinto( 12 % de álcool) , ou 2 copos de chopp( 5% de álcool) e 1/4 de uma dose de whisky( se isso é possível), certamente terá repercussões no organismo.

Mulheres que consomem duas taças de vinho por dia têm um risco aumentado de 20 % no desenvolvimento de câncer de mama!
O ministério de Saúde francês  desaconselha o consumo acima de uma dose diária de álcool, porque há uma elevação da hipertensão arterial Sistêmica(HAS). Cabe lembrar que a maioria dos usuários de álcool acima desse patamar correm o risco de desenvolver alcoolismo, com um risco de mortalidade precoce atingindo o ápice de óbitos por volta dos 50 anos de idade. Muitas pessoas com eventos cardiovasculares em idade adulta jovem são tabagistas e alcoolistas!

O levantamento epidemiológico conduzido pelo professor Laranjeira ( ainda não publicado)  revela que 60 % da população feminina brasileira não bebe , 33 % da população masculina brasileira não bebe. Entre aqueles que bebem, 70 % consomem cerveja. Dos bebedores brasileiros, 10 % se transformam em alcoólatras. O álcool leva a consumo de outras drogas, como maconha, cocaína, numa associação ainda mais perigosa. O professor Laranjeira enfatizou a importância do trabalho preventivo, com especial atenção para pessoas depressivas, principalmente mulheres, que se tornam alcoólatras secundariamente. No caso dos homens, a equação parece inversa na maioria dos casos. Os homens ficam depressivos pelo uso abusivo e/ou crônico de álcool, uma vez que ele é depressor do Sistema Nervoso Central(SNC), em não euforizante como pensam os leigos.

Segundo o Dr. Laranjeira, mesmo pequenas doses de álcool já são suficientes para alterar toda a química cerebral. Essa desregulação pode ser aguda ou crônica. O uso agudo de álcool reduz a ansiedade, enquanto que o uso crônico aumenta os níveis de ansiedade, irritabilidade, apatia e depressão. " As pessoas   valorizam o efeito agudo do álcool, mas negligenciam o efeito crônico", ressaltou o professor Laranjeira.

Para quem se interessa por detalhes neuroquímicos, saiba que o álcool afeta 5 sistemas neuroquímicos, envolvidos em outras enfermidades psiquiátricas:

-Dopamina: O uso agudo causa prazer. O uso crônico causa anedonia( ausência de prazer completo!). Como a dopamina participa do circuito do prazer, esse é o mesmo neurotransmissor desregulado no consumo de outras drogas, como cocaína, maconha e tabaco. Já observaram como é difícil um dependente químico ter prazer com os pequenos prazeres cotidianos? Eles abusaram demais do sistema dopaminérgico, então só têm prazer com doses cada vez mais altas da droga( tolerância), por desregulação maciça da dopamina.

-Serotonina: O uso crônico provoca depleção serotoninérgica, com aumento da impulsividade, irritabilidade e violência, além de sintomas depressivos e ansiosos.

- GABA-A: O uso agudo causa sedação. O uso crônico causa abstinência e convulsões.

- Sistema Opióide: O uso agudo causa euforia. O uso crônico causa " fissura"( desejo incontrolável por mais álcool).

- Glutamato: O uso crônico causa convulsões, apagamentos( "blackouts" ) e demência alcoólica( por destruição neuronal).

Em resumo, o álcool é uma droga, no sentido de ser uma porcaria para a saúde. Essa mania de buscar justificativas para usar substâncias é um viés da mídia em conluio com os usuários e abusadores( muitos são jornalistas). Nenhum profissional médico ou pesquisador sério chancelaria o uso de quaisquer substâncias de abuso. Isso será sempre uma irresponsabilidade e uma conduta antiética. Ainda bem que existem espaços livres de droga( como a Associação Médica do Rio Grande do Sul-AMRIGS, que baniu absolutamente o tabaco das suas dependências e espaços, deixando aquele ar livre dos 4000 tóxicos que querem obrigar as pessoas a inalar) e verdadeiramente científicos para desmascar as falsas verdades propaladas por grupos minoritários da nossa sociedade aberrada.

domingo, 24 de outubro de 2010

Contaminações Psicológicas e Comportamento Irracional

Vivemos numa sociedade composta de diferentes configurações psicológicas, que interagem entre si. Nenhum homem é uma ilha, portanto o ônus a ser pago pela vida em sociedade é o contato constante com as contaminações psicológicas.

Contaminações psicológicas são estados mentais pesados, de ordem neurótica ou psicótica, que contaminam os membros da sociedade no processo de comunicação. Já viram uma pessoa que perturba a paz mental de um grupo? da família? da sociedade? de uma pessoa? Essas pessoas, mentalmente doentes, extravasam a sua doença mental sobre as outras, amplificando o estado de perturbação social. Essas pessoas , mentalmente doentes, reunem-se em grupos mentalmente doentes.

As contaminações mentais acometem praticamente todas as pessoas. Algumas estão em estado mais agudo ( doenças mentais agudas), outros em estados crônicos, outros em estado de latência( de espera), sujeitos a um desequilíbrio a qualquer momento.
Os comportamentos irracionais são as marcas das contaminações psicológicas. Um comportamento criminoso enquadra-se nessa categoria. Um ato impulsivo agressivo ou suicida é uma marca de insanidade mental. Os suicídios coletivos são grupos mentamente insanos praticando comportamentos irracionais.

A resiliência é a capacidade de manter o equilíbrio mental( não necessariamente saudável) para não sucumbir à doença mental. Quando o indivíduo perdeu a sua resiliência, o caminho que ele percorre é das doenças mentais e das doenças físicas.
O recursos terapêuticos disponíveis procuram devolver ao indivíduo essa resiliência através do resgate de resquícios de sanidade mental obstruídos, seja pelo uso de medicamentos,direcionados exclusivamente a sintomas , as psicoterapias , a mudança ambiental, a mudança no estilo de vida e  a educação.

A Psiquiatria lida diretamente com sintomas mentais, responsivos a medicamentos psicotrópicos. Em muitas enfermidades mentais, a carga patológica é tão intensa, que a psicoterapia torna-se ineficaz, por não conseguir acessar os recursos psicológicos sadios. A tentativa de tratar psicoterapicamente indivíduos insanos provoca a piora da evolução, em casos agudos. O controle dos sintomas é imperativo. Posteriormente, avalia-se a necessidade e a elegibilidade para as psicoterapias.

As Psicoterapias são métodos de interação verbal e comportamental que almejam resgatar os recursos psicológicos primários sadios, com a liberação dos conteúdos e processos patológicos secundariamente instalados. A psicoterapia procura devolver ao indíviduo o seu autocontrole psicológico. Tal objetivo ambicioso não é alcançado pela maioria. O sucesso na psicoterapia precisa de motivação, capacidade intelectual e emocional e persistência num curso de tratamento longo e oneroso financeiramente. Quando o indivíduo apresenta as condições mínimas para ser bem-sucedido nessa modalidade de tratamento, os primeiros passos começam. O resultado final ou a chegada a um desfecho final são incogniscíveis de antemão. Quando o paciente pergunta quanto tempo vai levar a terapia, a resposta mais sincera é " não sei", "depende do seu ritmo de aproveitamento", depende de outros fatores externos imponderáveis no momento inicial. A psicoterapia é aventura que resulta em nada ou em muito.

A mudança ambiental é o indivíduo mentalmente doente poupar-se de conviver com outros indivíduos mentalmente insanos. Algo que contraria as internações psiquiátricas. Um indivíduo adoece e ele é trancafiado com outros indivíduos doentes. Isso provocará a piora da contaminação psicológica. Na verdade, as internações são alternativas para surtos agudos, com o intuito de proteger o paciente de riscos de autoagressividade e a sociedade de riscos de sofrer prejuízos de todas as ordens. A internação é poupar a sociedade da insanidade individual. Há muito tempo se sabe que os pacientes esquizofrênicos pioram a doença quando expostos a ambientes familiares carregados emocionalmente, hostis ou com expressão emocional ostensiva. São exemplos de contaminação psicológica.

A mudança do estilo de vida é poupar-se do estresse. Uma pessoa estressada ativa mecanismos fisiológicos de desequilíbrio orgânico. Com o tempo produzem-se doenças mentais e físicas , que se autoperpetuam. Muitas doenças mentais( depressão, ansiedade, bipolaridade) sofrem o impacto negativo dos estressores ambientais. Uma alimentação saudável, a prática de exercícios físicos, um trabalho que se ama são "amortecedores" contra a insanidade. Uma vida desregrada, com abuso de substâncias químicas, sedentarismo e ociosidade laborativa são promotores e mantenedores de doenças.

A educação é outro elemento que "pode" promover alguma recuperação da sanidade mental. De maneira alguma é a garantia absoluta de equilíbrio( como pensam a sociedade e os governantes). A educação é um processo de acumulação de dados e experiências. Esses dados e experiências podem ser causadores de sobrecarga mental, piorando as doenças mentais. Você já escutou aquela frase- " uma pessoa educada e culta, teve um comportamento tão feio". Educação não é sinônimo de sanidade ou saúde. Muitos indivíduos com todos os cursos e graus acadêmicos possíveis( e ainda por inventar) podem ser extremamente doentes, inclusive em nível psicótico grave. A educação é o verniz final ,depois que o contéudo mental e físico foram consertados e reabilitados.

As contaminações psicológicas são inevitáveis. Isso decorre da interação social, familiar, laborativa e mesmo individual( conversa interna). Se você vive numa cultura insana,  vai começar a  pensar que não há mal algum em jogar alguns aviões em prédios por aí. Você vive numa família insana, apanhar , surrar e ser abusado verbal e fisicamente passam a ser o parâmetro nos anos de estruturação da personalidade básica. Se você odeia o seu trabalho, levantar todos os dias para ganhar um salário  transforma-se num inferno silencioso, provocando a sua   decadência externa( rugas, enfermidades físicas)  e interna( doenças mentais ,doenças glandulares e câncer). Lidar com as contaminações psicológicas começa com a identificação desse " virus" mental que o(a) contaminou, impelindo-o(a) a agir de maneira animal, animalesca ou irracional. Nesses momentos,a impulsividade leva a atos horrendos como homicídios, suicídios e todos os tipos de agressões, por exemplo.

Além dessas mudanças, você precisa buscar o fortalecimento mental, através do autodesenvolvimento, a conservação mental através dos recursos terapêuticos  e "cura dinâmica" através da evolução mental, física e espiritual, com o foco sempre no futuro.

sábado, 16 de outubro de 2010

Psicometria

Psicometria é a atividade de testar indivíduos para descobrir aptidões, traços de personalidade e a inteligência.

A psicometria é uma atividade realizada por psicólogos com especialização em neuropsicologia.  A Neuropsicologia é a aplicação de conhecimentos neuroanatômicos e neurofuncionais a determinadas funções psicológicas e comportamentais,  dedicando-se a investigar como diferentes lesões causam déficits em diversas áreas nas  funções mentais, com embasamento em avanços da neurociência. Entre as principais contribuições desse ramo do conhecimento estão os resultados de pesquisas científicas para elaborar intervenções em casos de lesão cerebral, auxiliando o diagnóstico psiquiátrico e providenciando técnicas de reabilitação neurofuncional.

O trabalho do neuropsicólogo é investigar alterações no funcionamento neurológico que produzem sintomas psicológicos e psiquiátricos. Para a realização desse trabalho, é preciso saber se o profissional possui especialização na área, com comprovada formação técnica para a realização dos testes e emissão de laudos. A formação acadêmica em Psicologia não é suficiente para o credenciamento de profissionais na realização dos testes.

Cabe ressaltar que na Psiquiatria essa avaliação psicométrica é auxiliar no entendimento de déficits causados pelas diferentes patologias mentais. Não é necessária a utilização desses instrumentos para a confirmação diagnóstica, que geralmente se faz pela avaliação do estado mental( EEM) e a exclusão de outras enfermidades físicas, utilizando exames complementares de sangue e de imagem. Quando o psiquiatra solicita a avaliação neuropsicológica é para confirmar ou desconfirmar a sua impressão diagnóstica. Jamais um instrumento de investigação vai substituir o raciocínio clínico, da mesma maneira que um RX de tórax não vai substituir o pneumologista.

A Psicometria que mensura a inteligência cognitiva é interessante, pois permite acompanhar a evolução de muitas patologias psiquiátricas, que causam perda neuronal, com déficits intelectuais secundários. Entre essas patologias, podemos citar a esquizofrenia, a depressão , o transtorno Afetivo bipolar(TAB) e as demências . Muitas doenças produzem uma "assinatura" psicométrica, com déficits mais proeminentes em determinadas áreas cerebrais.

O trabalho clínico do psiquiatra se faz na consulta de avaliação, com duração média de 50 minutos, seguida de consultas de acompanhamento. Nessa avaliação inicial, formulamos as hipóteses diagnósticas( HD), que serão confirmadas ou descartadas no decorrer do tempo. Observamos que muitos pacientes querem um "rótulo diagnóstico" para entenderem ou aceitarem  a(s) sua(s) doença(s). Preferimos protelar o momento do diagnóstico para evitarmos equívocos. O uso de rótulos somente prejudica a autoimagem do paciente e não acrescenta muito na terapêutica. O diagnóstico, quando confirmado, poderá ser comunicado ao paciente e seus familiares.

O diagnóstico é um constructo teórico, elaborado a partir da  presença de sintomas persistentes que causam prejuízo funcional. Através da pesquisa clínica, muitos diagnósticos vão sendo aprimorados ou eliminados, conforme surgem novas síndromes( conjunto de sintomas). O objetivo do DSM( Manual Diagnóstico e Estatístico) é colocar ordem no caos subjetivo que domina o campo da saúde mental. Na avaliação fenomenológica, podemos prescrever a terapêutica de maneira mais racional e comedida, evitando erros e prejuízos ao paciente. Aqui se assenta a importância de consultar o especialista, pois ele está mais qualificado para diferenciar as diferentes categorias diagnósticas.

A Psiquiatria é uma especialidade médica. Trabalha , essencialmente, com doenças mentais , como esquizofrenia, depressão, transtornos de humor, transtornos de ansiedade, transtornos somatoformes e outros.

A Psicologia é uma especialidade independente da Medicina, que estuda o psiquismo humano e constrói teorias de como a mente funciona, fornecendo métodos de tratamento para  funcionamento anormal. Denominamos esses métodos de psicoterapias. Existem centenas de métodos psicoterápicos, cada um deles destinado a ser compatível com a teoria mental que lhe dá embasamento.

A Neurologia é uma especialidade médica. Trabalha , essencialmente, com doenças neurológicas e não com "doença dos nervos", sendo erroneamente confundida com a Psiquiatria. O neurologistas tratam epilepsia, derrames, neuropatias periféricas e outros. Muitas doenças, por apresentarem um perfil neuropsiquiátrico, são do domínio das duas áreas. Nessa categoria incluem-se as enxaquecas e as demências.

A diferenciação é fundamental para que o paciente possa procurar o profissional adequado em cada caso específico. A melhor ordem de investigação diagnóstica em sintomas mentais é o psiquiatra- neurologista-psicólogo. Isso segue a lógica de que uma doença médica tem precedência aos diagnósticos puramente psicológicos, por colocarem  a saúde orgânica e a vida dos pacientes em primeiro lugar. Caso o psiquiatra desconfie de uma doença neurológica, ele encaminhará o paciente para o neurologista. Se ele confirmar que o paciente tem sintomas psicológicos, com características neuróticas ou de personalidade, poderá encaminhar para o psicólogo. A inversão dessa ordem atrasa os diagnósticos e  aumenta o risco de tratamentos desnecessários e arriscados.






quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Legalizar a Maconha?

Li recentemente uma reportagem na revista Galileu, onde quatro conceituados neurocientisitas defendem a legalização da maconha. No contraponto, temos dois psiquiatras da USP contrários à legalização.

Sem parecer "dramático", posiciono-me contra à legalização da maconha e qualquer outra substância química , sem controle médico, que tenha o potencial de causar danos à saúde física e mental das pessoas e danos à saúde social.

Se uma pessoa quiser fumar maconha, que o faça na privacidade da sua casa. A legalização da maconha é estender esse limite para fora, envolvendo a sociedade como um todo. Quanto a isso, não podemos concordar, porque o  meu direito começa onde termina o seu direito. E o meu direito é não ser submetido aos vícios de quem quer que seja, incluindo cigarro, álcool e outras drogas!

O uso de maconha provoca danos comprovados ao Sistema Nervoso Central(SNC). Apesar da opinião permissiva dos renomados neurocientistas, essas evidências estão disponíveis em publicações científicas. Minimizar isso através da legalização é irresponsável. Não se resolve um problema, criando outro. Se os governos estão perdendo a guerra do combate às drogas( o problema), legalizar o uso das drogas( outro problema) não vai amenizar o caos social causado pelo consumo, nem diminuir o tráfico.

O dinheiro do tráfico vêm de outras drogas, não da maconha, por ser barata e de fácil acesso. O que a legalização vai produzir é o aumento do consumo, seja por curiosidade, seja porque é "permitido mesmo". Isso produzirá o aumento do percentual de jovens que  experimentam, com o consequente aumento da dependência e o desencadeamento de outras doenças médicas e psiquiátricas. Qual será o benefício social disso? ? Ao meu ver, nenhum.

O debate quanto à legalização da maconha é um sintoma do fracasso dos governos em controlar o tráfico de drogas. Se não conseguem controlar, inventam "soluções" para o problema. Se não conseguem vencer o inimigo, buscam aliar-se a ele. Admitamos que esse não é o melhor caminho em defesa do interesse social.

O usuários de drogas têm a  inclinação de achar que não são doentes. Eles "param na hora que quiserem". O que observo é que essa hora nunca chega voluntariamente. Alguns morrem e matam outros antes dessa bendita hora chegar. Os usuários de drogas( inclusive a maconha) colocam a vida de pessoas inocentes em risco, quando usam a substância e vão para as ruas. Eles causam acidentes!!!!! Sim , as drogas nublam as percepções, rebaixando o estado de consciência. E uma pessoa sem percepções é  um risco, seja  dirigindo carros, operando máquinas, tomando decisões ou agindo impulsivamente.

Por isso, se você quiser usar drogas, o problema é seu! Use no recôndito do seu quarto ou casa. Não invada a vida dos outros que não querem sofrer as consequências da sua escolha individual.

Os usuários de drogas têm a inclinação de defender o uso de drogas( apesar das evidências dos malefícios) e procuram arrebanhar o máximo de "parcerias" para o grupo. Parece que se entorpecer sozinho não tem muita graça. Usar drogas é uma escolha individual.  Arrebanhar outros para o uso é aliciamento social. Deve ser combatido. Qual a diferença entre um traficante e um usuário aliciador? Se o resultado final vai ser o aumento do consumo, produzindo mais ganhos para o traficante e perdas para a sociedade?

Usuários de drogas são pessoas muito doentes. Essa observação é psiquiátrica. A droga invade a estrutura de personalidade como um parasita psicológico. Se tiramos a droga, a pessoa fica mutilada. A partir desse momento, desaprende a viver! Falta-lhe algo, falta-lhe a identidade. Muitos sacrificam o potencial produtivo da vida  pelo uso compulsivo de mais e mais doses. Uma pessoa busca a  " liberdade" através das drogas e acaba se transformando num escravo delas. Perde a sua autonomia, autodeterminismo e a Liberdade verdadeira. O dependente e o usuário buscam " a alteração de consciência" e encontram o rebaixamento da consciência, tornando-se insensatos e estúpidos, com atitudes anti-sobrevivência.

Sou contra à legalização da maconha, porque sou a favor de medidas que elevem a ordem social , que sejam pró-sobrevivência e não o contrário.

Como médico, serei sempre contra substâncias danosas à saúde e à mente humana. O maior exemplo de responsabilidade é não sobrepujar o interesse coletivo para fomentar desejos e interesses pessoais. Quando a mente humana se torna embotada, começa a buscar soluções inadequadas. Perdem-se objetivos que valem o esforço de melhoramento humano.Quando o EU fica maior do que o nós, estamos diante da irresponsabilidade e da imaturidade. Usar maconha e outras drogas é viver uma eterna "infância perigosa" que priva o mundo da evolução necessária  à níveis mais altos de Consciência e Felicidade.

sábado, 25 de setembro de 2010

Obesidade e Depressão


A obesidade aumenta o risco de depressão e a depressão aumenta o risco de desenvolvimento de obesidade. Essa foi a conclusão de uma metanálise publicada no Archives of General Psychiatry.


Tanto a depressão como a obesidade são problemas de saúde pública. Ambos aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Por isso, medidas preventivas se fazem necessárias para evitar o aumento dessas duas epidemias.


A análise de 15 estudos publicados envolvendo 58 745 pacientes no decorrer de vários anos mostrou uma associação bidirecional entre depressão e obesidade. Pessoas obesas tiveram um aumento de 55% no risco de desenvolver depressão  e as pessoas depressivas tiveram um aumento de 58 % no risco de se tornarem obesas. A associação entre depressão e obesidade foi mais forte do que a associação entre a depressão e sobrepeso.
A ligação biológica entre sobrepeso, obesidade e depressão permanece incerta e complexa, mas diferentes teorias têm sido propostas. A obesidade pode ser considerada um estado inflamatório, a inflamação está relacionada com risco de depressão. Outros fatores envolvidos são a baixa autoestima e insatisfação com a imagem corporal, pois o corpo esbelto é o ideal de beleza na atualidade. Por outro lado, a depressão pode aumentar o peso no decorrer do tempo, através da interferência no sistema endocrinológico ou aumento ponderal ser decorrente  dos efeitos colaterais de alguns antidepressivos.

A monitoração do risco deve ser feita pelos profissionais de saúde mental. O co-tratamento é indicado para aliviar as duas condições clínicas, para o benefício global dos pacientes.




sábado, 18 de setembro de 2010

Não se Pode Voltar para Casa

Esse é o título do livro de Thomas Wolfe. É também um comentário que ouço com frequência. Eles estão certos. Não se pode voltar para casa.

Se voltar para casa, terá que compactuar com "mentiras" para manter a imagem e a coesão familiar. Nenhum grupo social duradouro se mantém sem  que seus membros mintam. Qualquer convivência emocional precisa de espaço. E falar a verdade o tempo todo sufoca, machuca. Principalmente as famílias disfuncionais, que estacionaram no tempo, que congregam membros com doença mental e transtornos de personalidade, necessitam dessa compensação para sobreviverem. Se você voltar para casa e tentar uma "conversa profunda", descobrirá que  é inviável e perigoso para a homeostase familiar. Para que o amor-próprio coletivo se conserve e a sua imagem de boa filha, bom filho, excelente irmão ou irmã consiga um novo mandato, é preciso fingir coisas por mais quatro anos.

Por que funciona dessa maneira ? Primeiro, porque você cresceu! E os seus pais preferem enxergá-lo como aquela criancinha, bilu, bilu! Na palavra de muitos pais, " os filhos sempre serão nossas crianças, não importa a idade". Essa ideia aparentemente benigna esconde uma tentativa de não acompanhar a mudança  dos padrões de relacionamento familiar à medida que o tempo passa. Todos perdem, porque quando uma pessoa ou grupo resiste a mudanças , deixa de evoluir. E a vida está em  constante evolução. Outra consequência inevitável é o conflito. Nenhum adulto saudável aceita submeter-se à ditadura de outro adulto. Escutar ordens absurdas, pedidos inconvenientes, opiniões não solicitadas,  sofrer controle  ou  invasão de privacidade foram compulsórios na infãncia, mas se tornam simplesmente intoleráveis no mundo adulto.

Voltar para casa e tentar uma "conversa profunda", em busca das verdades escondidas é transformar-se num algoz, um (a)filho(a) desnaturado(a). Você descobre que é um desterrado. Poucas famílias estão dispostas a aceitar novos padrões de relacionamento, seja por medo, preguiça ou incapacidade. Ou você desempenha o seu eterno papel de títere, restrito ao seu personagem no seio familiar, ou perderá  a sua boa reputação construída em anos de obediência. Todos são proscritos na  história familiar. Não se pode conservar uma boa reputação e falar verdades ao mesmo tempo.

Essa colisão transgeracional se deve a diferentes fatores. Pais se recusam a enxergar o ponto de vista dos filhos. Filhos se recusam a continuar obrigados a enxergar somente o ponto de vista dos pais. Esse beco sem saída responde ao diálogo aberto, quando todos os envolvidos estão dispostos a escutar verdadeiramente, baixando as defesas e abdicando da posse da "verdade". Escutar ativamente é o passo essencial. Instigar a curiosidade mútua, para saber em quem todos se transformaram, sem comparações com o passado ou com as expectativas irrealistas projetadas. Na verdade, esse cenário é a exceção, mas famílias saudáveis conseguem vivenciá-lo na maior parte do tempo.

Pais e filhos não se entendem, da mesma maneira que as pessoas não se entendem. Ninguém está disposto a escutar primeiro.

Nessa dualidade de comunicação, pais acreditam que sabem mais que os filhos. Afinal de contas, eles têm mais experiência, viveram mais anos, são mais sábios. Por outro lado, filhos acreditam que sabem mais que seus pais. Afinal de contas, estão se livrando daquelas ideias anacrônicas que foram obrigados a seguir durante anos. Dominam mais a tecnologia. Estão mais abertos ao mundo, às mudanças, ao novo.

Pais tentam impor suas crenças "aparentemente racionais". Eles as receberam de seus pais, que acreditavam na  sua plausibilidade também.  O problema das crenças é que elas são apenas crenças, não a verdade. Crenças antigas são menos capazes de sobreviver no mundo em constante mudança. Crenças são inflexíveis( até que o sujeito decida mudá-las deliberadamente). Mas os pais nasceram antes e esse hiato cronológico concede-lhes um poder precedente. Então, a crença de que experiência é sinônimo de sabedoria impele-os a doutrinar e exigir respeito. Filhos também carregam suas próprias crenças. Entre elas , "os coroas estão ultrapassados". Isso provoca uma cisão no processo de entendimento recíproco.
Pais tentam ensinar( impor) o seus códigos morais . O que eles acreditam ser certo ou errado. Filhos recusam a aceitar esses códigos morais, porque cada grupo possui códigos morais distintos. Crescer é mudar de grupo, de turma. Conservar os códigos morais dos pais é continuar no grupo familiar e não no grupo atual. Os pais  que conseguem manter os filhos vivos até que tenham  juízo e  independência financeira, já são bem-sucedidos. Mais do que isso  é superproteção danosa ao psiquismo humano. Enquanto pais e filhos não entenderem que vivem em grupos diferentes, com regras diferentes, com um "gap" geracional entre eles, nenhum diálogo amistoso e construtivo terá oportunidade de acontecer.

Não se pode voltar para casa, a não ser que essas considerações sejam entendidas e colocadas em prática.

Outro fator que gera mal-estar nas relações familiares é a tranferência do sofrimento psicológico individual para o grupo. Famílias  que orbitam ao redor de um doente mental, um drogadicto, um alcoolista, um psicopata, um pródigo, são famílias disfuncionais. Um indivíduo desestrutura toda a família. Enquanto essa questão não for solucionada ou equacionada, todos os membros sofrerão coletivamente, carregando o sofrimento de um dos seus membros.

Basta uma pessoa insana para enlouquecer muitas pessoas. Inversamente, precisamos mobilizar muitas pessoas para controlar apenas um insano.

O caminho real geralmente não é o caminho sonhado ou desejado. Teremos que lidar com diferenças de opiniões. Isso é ótimo.
 Péssimo para  a maioria,  será  lidar com a indiferença quanto às opiniões diferentes. Nesse caso não vai haver diálogo, nem afinidade, nem crescimento. No seu lugar haverá a perpetuação do distanciamento entre pais e filhos.











quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Prevenção do Suicídio

A propensão ao suicídio está associada a transtornos mentais, principalmente depressão unipolar e bipolar.

Pesquisas mostram diferenças anatômicas e neuroquímicas nos cérebros dos suicidas. O suicídio possui uma base biológica , que frente a estressores sociais, experiências traumáticas e doenças mentais ativas, pode se manifestar com toda a sua força. Os estudos recentes  focam na avaliação do córtex pré-frontal orbital, responsável pelo controle da impulsividade, que mostrou  ser um fator de risco para tentativas de suicídio. A serotonina é o neurotransmissor deficitário em pacientes suicidas.

Estudos demonstram diminuição da atividade neuronal no córtex pré-frontal orbital envolvendo o sistema serotoninérgico. Outra linha de pesquisa procura correlacionar o desequilíbrio do eixo hipotálamo-hipófise- adrenal( eixo do estresse) com tentativas de suicídio. Charles B. Nemeroff, da Emory University School of Medicine e seus colaboradores estão descobrindo evidências de que abusos na infância podem desequilibrar o eixo do estresse, tornando-o vulnerável à depressão e a reações exageradas frente a estressores psicossociais.
Os receptores para serotonina no cérebro e nas plaquetas( sangue) estão aumentados, denotando uma diminuição da serotonina nos pacientes suicidas. Essa regulação de receptores para cima( up-regulation) é uma tentativa de compensar os baixos níveis serotoninérgicos pelo aumento da captação via receptores.

Apesar dos exames de sangue mostrarem essas diferenças, não são usados para o diagnóstico de pessoas mais vulneráveis a impulsos suicidas. Ainda a melhor prevenção se faz através do diagnóstico precoce de doenças mentais e o seu tratamento adequado. A investigação de parentes biológicos também é uma tentativa de mapear as famílias de suicidas. Uma publicação no Archives of General Pscychiatry, em 2002, conduzida pelos pesquisadores do Western Psichiatric Institute and Clinic, em Pittsburgh, afirma que os filhos de pessoas que tentam suicídio têm um risco  6 vezes maior de cometer suicídio que os filhos de pais que nunca tiveram essa intenção. Parece haver uma explicação genética para essa predisposição, já que trabalhos que investigam gêmeos univitelinos( idênticos) mostraram uma concordância de desfecho suicida  de 13 %, enquanto apenas 0,7 % dos gêmeos bivitelinos( fraternos) tinham essa relação.

No Brasil, 24 pessoas cometem suicídio diariamente. Nos últimos dez anos houve um crescimento de 15 % nas taxas de suicídio no país. Atualmente a taxa de suicídio é de 6,5 /100 000 habitantes. Em 23 % dos casos, o suicida estava sob efeito de álcool e drogas. Para cada 20 tentativas de suicídio, uma se consuma. O suicídio é uma das três causas de morte em jovens na faixa etária dos 15 aos 34 anos.

O carbonato de Lítio(carbolitium) é um medicamento usado como estabilizador de humor. Trabalhos demonstram o seu potencial protetor contra o suicídio. Em pesquisa realizada em 1998, na Dinamarca, concluiu-se que o lítio diminui as tentativas de suicídio de seis a quinze vezes. O medicamento, derivado do metal lítio, parece regular a excitabilidade neuronal, controlando o influxo iônico nas membranas dos neurônios e através de sistemas intracelulares(segundo mensageiros). Precisa ser tomado regularmente para atingir uma concentração sanguínea eficaz (litemia), para surtir seus efeitos terapêuticos. É um medicamento acessível, mas causa muitos efeitos colaterais, como ganho de peso, alterações renais , tireoidianas e cognitivas. Mas todos os outros estabilizadores de humor que o sucederam não conseguiram superá-lo em eficácia, mas são mais tolerados pelos pacientes, por apresentarem efeitos colaterais mais leves.

domingo, 29 de agosto de 2010

A Maconha Danifica o Cérebro de Adolescentes


Uma pesquisa conduzida pela Dra. Gabriella Gobbi,  do Centro de Saúde da Universidade de McGill, no Canadá, e publicado na Neurobiology of Disease, em dezembro de 2009, demonstra que os danos da maconha nos cérebros jovens são piores do que originalmente se pensava. Os adolescentes canadenses estão entre os maiores consumidores de maconha do mundo.

O estudo sugere que o consumo diário de maconha por adolescentes pode causar depressão e ansiedade, e tem um efeito irreversível no cérebro a longo prazo.

Seu estudo ressalta que  a ação da maconha acontece em dois importantes neurotransmissores cerebrais- a norepinefrina e a serotonina, as quais estão envolvidas nas regulação de funções neurológicas tais como o controle do humor e da ansiedade. Adolescentes expostos à maconha apresentam uma diminuição na transmissão serotoninérgica, o que leva a transtornos de humor, e um aumento na transmissão noradrenérgica, que intensifica a suscetibilidade ao estresse a longo prazo.

Estudos epidemiológicos anteriores  já haviam demosntrado como o consumo de maconha podia afetar o cérebro. Esse trabalho enfoca os mecanismos neurobiológicos causadores da depressão e ansiedade em adolescentes. É o primeiro trabalho que demonstra que os danos ao cérebro do adolescente são mais intensos comparativamente ao cérebro adulto.

domingo, 1 de agosto de 2010

Exercícios Físicos e Cognitivos para a Saúde Mental

Há muito tempo se sabe dos benefícios da prática regular de exercícios físicos moderados para a saúde física. Atualmente, mais evidências científicas demonstram os benefícios da associação de exercícios físicos aeróbicos moderados e o treinamento das funções cognitivas na saúde mental.
Já na década de 80, a cientista Marion Diamond demonstrava a importância de ambientes enriquecidos para o desenvolvimento das conexões sinápticas em ratos. Ratos expostos a ambientes estimulantes, onde podiam se exercitar, correr, percorrer labirintos, apresentavam uma expansão cortical de seus cérebros e viviam três anos mais que os ratinhos pouco estimulados. Como apresentamos a mesma funcionalidade neuronal que os ratinhos, esses resultados foram extrapolados para os humanos.



Atualmente se demonstrou que os exercícios físicos estimulam o crescimento neuronal e vascular, melhorando a oxigenação cerebral e com isso as capacidades cognitivas( memória, pensamento abstrato), retardando o processo natural de declínio cérebral com o avanço dos anos.  Os exercícios físicos liberam endorfinas, que são neuromoduladores cerebrais responsáveis pela sensação de bem-estar pós-atividade física. As endorfinas neutralizam os efeitos do estresse cotidiano,aliviando a ansiedade e a depressão. Outros benefícios dos exercícios físicos incluem  o aumento da síntese do aminoácido precursor da serotonina, o triptofano. A serotonina regula o humor e está alterada em transtornos depressivos e ansiosos. Além disso, os exercícios físicos produzem o crescimento neuronal ( neurogênese) principalmente na região hipocampal, responsável pela mémoria e a aprendizagem. Esse processo ocorre por meio da secreção de móleculas responsáveis pelo crescimento neuronal  e vascular, entre elas o BDNF, o VGF e o IGF.
As atividades cognitivas, como leitura, aprendizagem de novos conhecimentos, treinamento da memória de trabalho( http://www.highiqpro.com/ ) , a socialização, o cultivo do bom humor, a convivência com pessoas positivas e a busca de novos desafios constantemente potencializam os ganhos mentais, prevenindo a eclosão de doenças psiquiátricas e melhorando o desempenho intelectual e físico.

Depressão Materna e Repercussões nos Filhos

A depressão materna é um fator de risco para o desenvolvimento infantil, com prejuízos na idade escolar e tardiamente na vida adulta. Como os transtornos mentais são mais frequentes no sexo feminino, esse grupo necessita de avaliações regulares para a detecção de sintomas psiquiátricos. A depressão atinge em torno de 10 a 20 % das mulheres pelo menos uma vez na vida e em 1/3 delas os sintomas persistem por toda a vida.
Diversas pesquisas apontam que a depressão materna é um fator de risco para prejuízos no desenvolvimento  psicológico dos filhos, com dificuldades cognitivas, comportamentais e emocionais resultantes.
Os principais achados na avaliação de inúmeros trabalhos científicos demonstra que mães com depressão apresentaram níveis mais elevados de estresse em comparação com mães não depressivas. Esse estresse impactou negativamente no desenvolvimento infantil, com potencialização do risco de psicopatolgia dessas crianças na vida adulta.
Filhas que tiveram que conviver com sintomas depressivos de suas mães, em comparação com filhas que não tiveram que conviver, apresentaram taxas mais altas de indicadores depressivos, reconhecimento predominante de estímulos negativos do ambiente e carência de bases positivas na autoestima. As meninas parecem mais suscetíveis aos danos causados pela depressão materna, enquanto que os meninos parecem mais vulneráveis a  fatores ambientais e aspectos cognitivos.
A maioria dessas mães não recebe o tratamento psiquiátrico adequado, piorando ainda mais as repercussões na saúde mental dos filhos a longo prazo. Há ainda os fatores genéticos associados `a transmissão transgeracional da doença.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sociopatia


Um indivíduo em cada vinte cinco pessoas é sociopata. Isso significa que , estatisticamente falando, você interage com sociopatas o tempo todo. A maioria deles não são  homicidas, nem "Serial Killers", mas apresentam um potencial danoso enorme para o equilíbrio social. Recentemente ficamos chocados com um crime que ocorreu no meio futebolístico. Em entrevista, o principal suspeito declarou,  a uma revista de circulação nacional, a seguinte frase " Eu tenho a consciência tranquila." A sociedade se baseia em regras de boa convivência, respeito aos direitos coletivos, preservação das normas, comportamento responsável, cumprimento de obrigações pessoais e familiares. Esses indivíduos sociopatas descumprem esse código de conduta repetidamente e não sentem culpa por fazê-lo. Os sociopatas são desprovidos de consciência. A consciência só pode ser tranquila neste caso citado se for inexistente. Pessoas normais sentem culpa ( até de coisas pelas quais  não são responsáveis). Os sociopatas não sentem culpa, sabem o que estão fazendo( por isso, são imputáveis pelos crimes) , predam o mundo, buscando sempre os seus benefícios em detrimento dos outros, "eliminando", em maior ou menor grau, qualquer obstáculo.
As pessoas desavisadas acreditam que todos são essencialmente confiáveis. Por não investigarem acuradamente o comportamento dos outros, caem em armadilhas perigosas. São exploradas, iludidas, torturadas, logradas, sugadas, assassinadas, esquartejadas, pagando um preço alto.




As condições que nos levam a pensar em sociopatia incluem: envolvimento repetitivo com delitos, mentiras, uso e abuso de substâncias entorpecentes, "vida boêmia e irresponsável", "autovitimização", desmotivação para o trabalho( o que se confunde com depressão), envolvimento com amizades ligadas à contravenção. Cabe a todos ficarem atentos para não caírem na armadilha nefasta da sociopatia que domina os nossos tempos. "Quando os bons se omitem, uma minoria peçonhenta triunfa."
Eu recomendo que  vocês comprem essa revista de circulação nacional e leiam a reportagem.Não poderia haver uma melhor descrição do cotidiano comportamental de um sociopata, nem mesmo em livros de psicopatologia psiquiátrica. Os sociopatas falam sem o menor sinal de emoção. Quando perguntado sobre a vítima, o suspeito resignou-se a dizer que "ainda ia rir muito disso tudo"( divulgado na televisão, mas não na revista).Vamos aos pontos altos , em trechos selecionados da revista. ..." Era uma orgia só", "uma p...",
" rezo para que a E apareça."( bonzinho), " Vou brigar pela guarda"( pai amoroso, snif, snif, quase me emociono), "Ela disse que tinha gente atrás dela"( distorção da história, aproveitando para jogar a culpa em alguém)... Quando entrou em contradição( mentiras demais), simplesmente emendou a história... " É que quando...", ou preferiu não responder ..." Não sei dizer o dia". " Quem tem que provar o que está dizendo é quem está me acusando"...( isso mesmo, ou você se entregaria, sabichão?).
Não podemos minimizar a origem desses "craques". O fato de serem bem-sucedidos no futebol não vai modificá-los na sua essência. Vai  apenas intensificar os traços sociopáticos. Como diz o velho ditado, " um tolo e muito dinheiro fazem uma grande bagunça". E a bagunça alimentada por dinheiro, fama, orgias, ostentação, exibicionismo, vai crescer até chegar ao crime. Outros craques oriundos de favelas tomadas por traficantes já protagonizaram comportamentos sociopáticos.  Nas palavras de um outro atacante, cujos "amigos " são traficantes, " Não vou deixar as minhas raizes."( isso mesmo, não vai, está nos seus genes, na sua essência mental).
Quando são flagrados, inventam histórias absurdas, sempre na tentativa de passarem por vítimas ou bonzinhos. Não é dinheiro para o tráfico, é para "cestas básicas".( snif, snif, quase me emociono). E assim seguem, porque são sociopatas. E sociopatas  são irrecuperáveis. Lugar de sociopata é trancafiado numa cadeia, longe da convivência humana. Só assim estaremos seguros.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Fobias, Pânico e Obsessões

Os Transtornos Ansiosos estão entre os mais prevalentes na população geral. As características marcantes desses transtornos são as alterações no sistema nervoso autônomo, com manifestações somáticas( físicas), como palpitações, tremores, sudorese, opressão torácica, tensão muscular, e alterações psíquicas como apreensão, angústia, medo intenso, nervosismo, preocupações antecipatórias, incapacidade para relaxar, pensamentos fixos em situações improváveis( variando de tragédias a riscos imaginários) , etc. A ansiedade é uma resposta normal dependendo do estímulo estressor( interno ou externo), mas quando alcança uma intensidade excessiva e persistente, com prejuízos funcionais na vida do indivíduo, caracteriza algum transtorno do espectro ansioso.
As sensações de ansiedade são descritas como desagradáveis, desproporcionais e irracionais frente à argumentação lógica e evidências negativas de perigo.

Entre os Transtornos Ansiosos, as Fobias se destacam em prevalência estatística. A Fobia é um medo intenso e irracional diante de situações, objetos e estímulos. Divide-se em fobia social, que é o medo de exposição a situações de interação social ,como falar em público, comer em público, assinar documentos em público, ser apresentado a pessoas desconhecidas. A Fobia social é uma timidez excessiva que incapacita o paciente de interagir socialmente de modo a atingir os objetivos almejados. A Fobia específica é  o medo exagerado de objetos, situações( as mais variadas possíveis, mais de 400 fobias catalogadas), como elevador, aranha, cobra, o número oito, etc.
Entre os Transtornos Ansiosos de características episódicas, está a Síndrome do Pânico, que se manifesta com crises agudas e paroxísticas de ansiedade somática e psicológica, de intensidade moderada a alta, levando ao estado de medo intenso de morrer por um "ataque cardíaco", "enlouquecer", "sufocar". Os sintomas mimetizam doenças orgânicas como enfarto do miocárdio, doenças pneumológicas e outras. A avaliação clínica é negativa para doença física. O tratamento deve ser conduzido por psiquiatras.
Os Transtornos Obsessivo-compulsivos também estão enquadrados nos Transtornos de Ansiedade. Caracterizam-se por pensamentos fixos, parasitários do pensamento, seja de conteúdo obsceno, religioso, catastrófico ou de dúvidas, levando a sofrimento intenso. O paciente identifica a irracionalidade, mas é incapaz de controlar voluntariamente o aparecimento súbito de ideias e ruminações obsessivas. Para aplacar o sofrimento, realiza compulsões( atos repetitivos e ritualísticos) com o intuito de fazer cessar ou acalmar os pensamentos obsessivos.

Os Transtornos de Ansiedade demandam tratamento psiquiátrico, com o uso de psicofármacos, que regulam a neuroquímica cerebral, principalmente em regiões específicas na produção de serotonina. Os medicamentos de escolha a longo prazo são os antidepressivos reguladores de serotonina. A associação com outros medicamentos pode ser necessária, quando os sintomas se mostram resistentes e crônicos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Mente-Corpo-Sistema Imunológico

Queda de cabelo, enxaqueca, candidíase de repetição, alergias de pele, ataques de pânico, crises hipertensivas, déficits de memória, desconcentração, apreensão, contraturas musculares, sudorese profusa, descontrole emocional. Esses são alguns dos sinais do estresse fisiológico.
A Psiconeuroimunologia é um campo de estudo que investiga a ligação intrínseca e recíproca de sistemas orgânicos como psiquismo, o sistema endócrino , neurológico e imunológico.
No 23° ciclo de Avanços em Clínica Psiquiátrica, que ocorreu em Porto Alegre nos dias 21 e 22 de maio de 2010, houve um debate sobre estudos recentes nessa área.
Cada vez mais as pesquisas avançam no sentido de correlacionar esses sistemas de regulação orgânica. A Psiconeuroimunologia entende que o indivíduo é um sistema biopsicossocial e quaisquer alterações num dos componentes do sistema afeta os demais.
O estresse explica o desencadeamente de inúmeras doenças físicas e mentais, que são causadas pela ativação aguda ou crônica do Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), responsável pelas ordens de secreção de hormônios como cortisol e adrenalina. A hipersecreção desses hormônios afetaria o equilíbrio do organismo( homeostase), provocando as doenças. Inclusive uma nova frente de pesquisas estuda o desenvolvimento de classes de antidepressivos que atuem nesse eixo do estresse, ao invés dos antidepressivos atuais, que atuam na neurotransmissão central.





O hipotálamo é uma região cerebral , responsável pela memória , que possui receptores para o cortisol. O cortisol agudo até melhora a memória, porque deixa a pessoa mais atenta. Por outro lado, a ocupação crônica desses receptores, como ocorre em quadros crônicos de estresse( e depressão), causa a morte neuronal, com consequente perda de memória. O controle do estresse, o tratamento da depressão e ansiedade e  a prática de atividades físicas são medidas preventivas e terapêuticas nesses casos. Aventa-se também a utilização de antiinflamatórios associados ao tratamento antidepressivo, para neutralizar o estado de inflamação sistêmica( que afeta todo o organismo).

segunda-feira, 3 de maio de 2010

TOC( Transtorno Obsessivo- Compulsivo)

O TOC( Transtorno obsessivo-compulsivo) é um transtorno de ansiedade que envolve obsessões ou compulsões recorrentes que consomem tempo e causam dificuldades na vida diária.

As obsessões são pensamentos invasivos, parasitários, que interferem no fluxo normal do pensamento, causando sofrimento emocional e angústia subjetiva. Podem ser palavras, frases, rimas, de diferentes conteúdos( religiosos, blasfêmias, absurdos, obscenidades). Há também imagens vívidas, retratando cenas violentas, sexuais ou perturbadoras. Em níveis mais estruturados, há as crenças irracionais, medos obsessivos, rituais obsessivos, ruminações obsessivas.

As compulsões são atos repetitivos, a fim de aliviar as obsessões. Muitas vezes esses comportamentos tornam-se ritualísticos, desde cantar músicas, executar limpezas exageradas e metódicas e uma gama de comportamentos anulatórios das obsessões( lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais( orar, contar, repetir palavras em silêncio). A não realização do ato compulsivo gera uma ansiedade muito grande no paciente.

Esses sintomas causam acentuado sofrimento, consomem tempo( mais de 1 hora por dia) ou interferem significativamente na rotina, no funcionamento ocupacional( ou acadêmico), em atividades ou em relacionamento sociais habituais do indivíduo.

O indivíduo reconhece que as obsessões e compulsões são excessivas e irracionais( ego-distonia). Para que efetuemos o diagnóstico, outras patologias psiquiátricas precisam ser excluídas, como o uso de substâncias, uma condição médica geral, ou outros transtornos psiquiátricos que cursem com sintomas obsessivo-compulsivos. Também precisamos diferenciar "traços obsessivo-compulsivos", que são constituintes normais da personalidade adulta, de intensidade leve a moderada, sem gerar sofrimento subjetivo( ego-sintonia), pois dessa diferenciação vai depender a modalidade de tratamento.
Muitos pacientes obsessivo-compulsivos vivenciam a diminuição significativa na capacidade funcional, incluindo perda do emprego, separação conjugal e dificuldades nos relacionamentos interpessoais.





sábado, 10 de abril de 2010

Escolhas ,Consequências e Saúde Mental

Da mesma maneira que uma pessoa é responsável pela sua higiene física para manter o corpo saudável e atraente, ela é responsável pela sua higiene mental para manter-se sana e atraente para o mundo.
"Estamos condenados à Liberdade", asseverou o filósofo Jean Paul Sartre. Sim, em resposta à liberdade de escolha de como se comportar, quais  crenças cultivar, quais  valores existenciais nos quais se basear em diferentes circunstâncias, respondemos aos desafios do mundo.
Em nessa diversidade de histórias de vida, personalidades vão sendo construídas e reforçadas no decorrer dos anos. Nenhuma personalidade é melhor ou pior que outra, apesar de que algumas personalidades manifestam distúrbios( transtornos) que as tornam ineptas para viver a vida com funcionalidade. Tais pessoas, portadoras dessas personalidades disfuncionais, sofrem e fazem sofrer aqueles com quem convivem.
Os transtornos de personalidade são facilmente detectáveis. Essas pessoas causam mal-estar no mundo, criam confusões, reagem com agressividade e impulsividade, são inflexíveis nos seus comportamentos, exploram os relacionamentos, transformando-os em fontes de nutrição para suas manias e imaturidade. Conviver com pessoas transtornadas nas suas personalidades é um processo desgastante e sofrido. Apesar do tratamento psicoterápico, muitos pacientes conservam suas doenças, recusando-se a mudar, seja por incapacidade ou por falta de vontade. 
A responsabilidade pela mudança é do paciente, pelo compromisso em se empenhar na modificação dos traços de personalidade danosos para si , para sua família e  para a sociedade. Estima-se que 25 % das pessoas possuam transtornos de personalidade, em diferentes graus. Quando não conseguimos fechar o diagnóstico, por insuficiência de itens diagnósticos, ainda conseguimos perceber traços de personalidade normais exacerbados, causando transtornos indiretos.
Essas pessoas infelizmente pagam um preço alto por não mudarem. Elas recebem a retribuição exata da inconsequência dos seus atos e escolhas equivocadas. São problemáticas ( conhecidas e rotuladas como tal), são rechaçadas no meio social e profissional, perdem oportunidades de progresso, de avanço evolutivo, são abandonadas pelos amigos, pela família e pelas parcerias afetivas.
A higiene mental é tão importante quanto a higiente corporal. Tomamos banho e escovamos os dentes todos os dias para evitar os odores fétidos do corpo. E quanto aos odores fétidos da personalidade? Que higiene mental você faz todos os dias? Que crenças ultrapassadas você teimar em impor às pessoas que o rodeiam? Vejo pessoas negligenciando as suas mentes, as suas escolhas e as consequências inevitáveis dessas escolhas erradas. Não adianta passar a vida inteira queixando-se e colocando a culpa nos outros
A heterogeneidade de personalidades nos faz encarar comportamentos estranhos para um observador atento. Dependendo da crença subjacente, vemos escolhas difíceis de entender.
Temos a senhora de 40 anos, aparentando 60 anos, de tanto se estressar com o trabalho, de sol a sol, negligenciando a sua saúde física e mental, porque não tem tempo para essas coisas( cuidar da saúde) e "precisa trabalhar". Que absurdo, diria uma observador atento. Na ordem de prioridades, a saúde não é mais importante que o trabalho? É possível trabalhar doente?
Temos o jovem de 25 anos, que adia sempre assumir a sua profissão, porque passa doente e   " enquanto não cuidar da sua saúde", não tem cabeça para pensar em trabalho. Ele não percebe que o verdadeiro motivo de continuar doente é que ele não ama o trabalho que faz e a única maneira que encontrou até o momento para justificar o seu absenteísmo, é adoecer.
Temos os pacientes que só falam em dinheiro. Esse materialismo é um sinal de insanidade mental. Um observador desatento pode pensar que a vida é dura, todo mundo precisa ganhar a vida e esse assunto é justo. Mas só falar em dinheiro, só pensar no próximo apartamento e outras coisas materiais é uma inversão de valores, quando meios transformam-se em fins. Doença mental!
O mundo anda insano, porque as pessoas se recusam a mudar para melhor, seja por incapacidade , seja por teimosia. E por trás desses sinais que passam despercebidos para a maioria ,ocupada com o seu mundanismo e suas frivolidades, enxergamos a doença mental nos seus múltiplos desdobramentos.
A higiene mental é uma necessidade fundamental, como prática diária, na busca de uma melhor qualidade de vida para cada indivíduo e para a sociedade global. Aqueles que se recusarem a fazer isso, estarão sempre aquém de suas potencialidades, vulneráveis a resultados existenciais pobres, em estado permanente de infelicidade( e queixumes), procurando "soluções artificiais " em valores vazios como drogas de abuso, materialismo desenfreado, competição selvagem, busca de satisfação narcisista a qualquer custo, numa eterna insatisfação, que alimentam as patologias da modernidade.


quarta-feira, 7 de abril de 2010

Transtorno Neurótico e a sua Dissolução

O Transtorno Neurótico é a tentativa da mente humana de solucionar problemas. Como a mente nunca descansa, ela se ocupa com problemas reais e imaginários! Uma pessoa neurótica é aquela que nunca desliga dos problemas imaginários! A pessoa fica tão conturbada, antevendo problemas, "solucionando mentalmente problemas imaginários", pre-ocupando-se com tudo e todos, nos mínimos detalhes, que perde o contato com a percepção do momento presente. As pessoas neuróticas sacrificam o momento presente para se ocuparem com passado ou se projetarem no futuro.

O Transtorno Neurótico é resultado de alterações na estruturação da personalidade. O surgimento de doenças psiquiátricas clínicas pode agravar os sintomas neuróticos, demandando o uso de medicamentos, além da realização de psicoterapia. Pacientes neuróticos sofrem muito, porque nunca "desligam", nunca "descansam", enredados que estão nos meandros da sua mente repetitiva, exigente, medrosa, angustiada e ansiosa. Essa mescla emocional enturbula a clareza mental do paciente, levando-o a um ciclo vicioso de mais pensamentos disfuncionais e inúteis.

As neuroses aumentaram com as demandas do mundo moderno. A avalanche de informações e a competitividade fomentam a busca frenética por resultados. O bom nunca é suficiente, sendo que o ótimo é uma meta sujeita a obstáculos de todas as ordens. A mente humana tenta compensar, produzindo mais neuroses e com elas o estado crônico de infelicidade, insatisfação e sensações corporais estranhas( somatização e desrealização).

O sucesso na "administração" do estado neurótico é o tratamento das doenças psiquiátricas clínicas e o tratamento psicoterápico que ajude o paciente a libertar-se do passado e deixar de focalizar obsessivamente no futuro. Quando o indivíduo focaliza no presente, ele consegue transcender a tirania das neuroses.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

" A Minha Família estragou a minha Vida"


" A minha família estragou a minha vida."

Diante de uma frase dessa intensidade catastrófica, me preparei para algum trauma dos graves. Mas depois de cinquenta minutos de sessão, o que pude entender do relato dessa moça,  era que a família  tinha um comportamento neurótico, conflituoso, controlador, "chato", "problemático" e outros identificadores repetitivos. Mas a paciente insistia na frase " a minha família estragou a minha vida".

Essa frase seria mais preocupante se fosse dita por uma senhora de 65 anos, mas era uma jovem de 17 anos, ansiosa, irritada, mentalmente perturbada, falando sem parar e descontente com tudo e com todos. Depois de um medicamento antidepressivo e um estabilizador de humor, curamos o "estrago" que a família tinha causado e ela conseguiu viver a sua vida relativamente bem. Nesse caso, o final foi feliz.

No decorrer dos anos descobri variantes dessa frase em outras(os) pacientes:  "Minha família é isso, é aquilo"... "Você precisa conhecer a minha mãe, doutor.".. " Meu pai é um carrasco...", ..."Se eu tivesse  uma outra infância, seria diferente..." Como poderia não ser louco, olha minha história de vida..." Eu não tenho problemas, eu vim no lugar da minha mãe."..

Há situações em que realmente os pais estragaram a vida dos filhos. Apesar de negarmos as repercussões mentais produzidas por famílias doentes, elas existem, são frequentes , duradouras no tempo e difíceis de tratar. A "atitude polyanna" de negar esses traumas é contraproducente. O melhor é admitirmos que a família legou uma herança para essa pessoa, a carga da doença mental, os descuidos parentais que fragilizaram a estrutura de personalidade da criança em formação e fomentaram problemas na vida adulta. Encarar a verdade é o primeiro passo.Sim, pais destróem a vida de filhos. E filhos destróem a vida de pais.

Na avaliação psiquiátrica precisamos diferenciar casos como o da moça de 17 anos e casos reais em que os traumas infantis, os maus-tratos, a negligência, a doença mental dos pais provocaram sequelas indeléveis no cérebro dos filhos. Se for um caso real, a expectativa de recuperação é bem menor. Se houve a produção de  sequelas neurológicas por agressão, privação alimentar, privação emocional, vamos ter que aceitar a inevitável irreversibilidade do quadro, com um discreta melhora parcial, talvez.

Existem casos em que os pais são inocentes. Eles fizeram o seu melhor, mas os filhos insistem em culpá-los de todas as mazelas da vida. Mesmo investigando o histórico desenvolvimental , não encontramos evidências contundentes( desculpa a linguagem jurídica, andei acompanhando o "caso Nardoni") para caracterizar o alegado trauma. Neste caso, o neurótico é o (a) filho(a). Inocentamos os pais e tratamos o(a) filho(a).

Concluí que pais são culpados  ao receber no consultório o(a) paciente acompanhado pelos pais. Depois de cinquenta minutos de sessão, dei o meu veredicto. __ Culpados! Na sala, a pessoa mais sana era o(a) paciente. Em silêncio me perguntava: __ Como não enlouquecer com uma família  assim? Eu estou com a minha cabeça doendo e foram só cinquenta minutos. Até que o (a) paciente não está tão mal.

A diferenciação de histórias reais e histórias irreais é trabalho de investigação psiquiátrica e psicológica. Através da montagem de um quebra-cabeças vamos fazendo a releitura dos fatos e interpretações, para chegarmos à versão mais aproximada da realidade.

O que queremos com essa diferenciação é planejar o tratamento. Casos irreais respondem rapidamente a medicamentos controladores do humor e ansiedade, ou mesmo  a uma boa terapia para salvar essa pessoa da "adolescência eterna", sempre reclamando, queixando-se, "porque outros, os outros, os outros, os outros". Crescer, amadurecer é descobrir que os outros não têm tanto poder assim nesta fase da vida. E ficar culpando o passado é recusar-se a assumir a  própria vida e as responsabilidades. Essa culpabilização dos pais, depois passa para a esposa ou marido, transita para o chefe, mas a única pessoa presente em todas as cenas do crime é a própria pessoa ,que  insiste em projetar nos outros os seus demônios psicológicos. Não existe determinismo psicológico. Isto é, não existe fatalismo psicológico. Sempre é possível melhorar algum aspecto do psiquismo por ação do tratamento.

Casos reais vão seguir com as sequelas indefinidamente. Conviver com as limitações impostas pela história de vida é um exercício de superação mais produtivo, do que tentar medidas de transformação psicológica radical, seja através de mantras " Pense positivo", " A vida é tão bela, o céu é azul e o sol brilha", seja através da autovitimização exagerada. O ser humano é multidimensional, sofre influências genéticas, familiares, sociais e interpessoais.  O mecanismo de mudança é experiencial. Viver o presente , em contato com experiências que transformem a visão negativa do passado é necessário e terapêutico. Quanto mais uma pessoa colhe experiências construtivas, mais ela remodela a sua história de vida, mudando o final. Neste caso, o final pode ser feliz outra vez.







segunda-feira, 29 de março de 2010

Comportamento Agressivo

O comportamento agressivo nunca é normal. Se um ato agressivo ocorreu isoladamente, precisamos examinar o contexto em que ele aconteceu. Em momentos de tensão, estresse, ameaça à vida, o ser humano pode reagir  em resposta ao risco iminente. Essa resposta reflexa é determinada geneticamente e desencadeada neurologicamente por uma estrutura nervosa, chamada amigdala cerebral.
Ao contrário do ato agressivo único, o comportamento agressivo é um conjunto de ações repetidas no decorrer do tempo e indica um sintoma de algum transtorno psiquiátrico. Mesmo o ato agressivo isolado deve ser elucidado à luz da avaliação psiquiátrica, porque pode ser um indício de doença mental encoberta.

O doente mental não é mais agressivo que a população em geral. Mesmo que os meios de comunicação mostrem casos de esquizofrênicos que matam pessoas, esses casos são a exceção , não a regra. A maioria das situações envolvendo comportamento agressivo ou violento está em outros domínios classificatórios, como usar da força para obter ganhos materiais, status, o prazer sádico, vingança ou mesmo afirmação de algum dogmatismo ou fundamentalismo religioso ou político. Esse domínio engloba pessoas com características antissociais.

Quando o comportamento agressivo está dentro do domínio de doença mental tratável, esse comportamento raramente isenta o infrator da sua responsabilidade criminal, exceção feita às doenças psicóticas que comprometem o juízo crítico do portador, por incapacitá-lo de enxergar a realidade.

O uso de substâncias é de longe a causa mais frequente de comportamento agressivo. Vimos recentemente o assassinato do cartunista Glauco em São Paulo ,o que reforça essa estatística. Os outros transtornos relacionados com comportamento agressivo são: a Esquizofrenia, o Transtorno afetivo bipolar, Transtornos de Personalidade e Transtornos de Conduta. O comportamento agressivo pode ocorrer transitoriamente em quadros orgânicos, quando há uma oscilação de consciência, por desequilíbrio metabólico, o que ocorre em pessoas internadas por diferentes doenças físicas. O nome dado a esse quadro de flutuação de consciência e rebaixamento do controle dos impulsos é Delirium. Outra causa de agressividade é a demência, por haver uma perda das funções cognitivas, incluindo a avaliação dos próprios atos.

Se  a causa for produzida por alguma doença clínica de ordem médica geral, devemos tratar a doença básica e excluir outras possíveis patologias psiquiátricas. Não menos frequentes estão outras doenças psiquiátricas percentualmente menos comuns como o transtorno de controle de impulsos, transtorno de ajustamento, transtorno de estresse agudo , transtorno explosivo intermitente e bullying entre os estudantes.

sábado, 27 de março de 2010

Lei 80: 20: 3

"Somente aquilo que você desconhece pode feri-lo."( Mega-genius)


A lei 80: 20: 3 significa a proporção entre as pessoas confiáveis, os psicopatas gerais e os psicopatas malignos. Em torno de 80 % das pessoas são boas, honestas, adotando um comportamento de preservação dos direitos dos membros da sociedade e respeitando as normas legais. Em torno de 20 % das pessoas adotam comportamentos psicopáticos, desrespeitando as regras sociais, descumprindo a lei, incapazes  de se  adequarem às normas sociais, agindo com insinceridade  e com  tendência à manipulação, impulsividade, irresponsabilidade persistente e ausência de remorso. Em torno de 3 % das pessoas são psicopatas malignos, capazes de atos hediondos, incluindo matar, estuprar, sequestrar, torturar e outros ataques à integridade humana e à sobrevivência da humanidade.Incorporando o papel de um marido agressivo ou um pai que maltrata os filhos( o os mata) , um chefe que humilha os funcionários, um colega que puxa o tapete( cobras corporativas).

 A psicopatia é chamada de Transtorno da Personalidade Antissocial na classificação psiquiátrica e  deve ser investigada quando um indivíduo apresentar, no mínimo, três das sete características a seguir:
 +  Incapacidade de adequação às normas sociais;
 +  Falta de sinceridade e tendência à manipulação;
 +  Impulsividade, incapacidade de planejamento prévio;
 +  Irritabilidade, agressividade;
 +  Permanente negligência com a própria segurança e a dos outros;
 +  Irresponsabilidade persistente;
 +  Ausência de remorso após magoar, maltratar ou roubar outra pessoa.

A combinação de três dessas características é suficiente para levar muitos psiquiatras a considerarem o distúrbio. O transtorno é incurável até o momento e a única medida protetora contra essas pessoas é isolá-las da sociedade, para que os malefícios sejam atenuados. O lugar dos psicopatas é na prisão, isolados de qualquer possibilidade de "influenciar" outras pessoas. Bandidos encarcerados com psicopatas viram bandidos perigosos, porque "aprendem a malandragem maligna desses professores do crime hediondo". Os bandidos comuns praticam delitos por inúmeros motivos, por serem incapazes ou preguiçosos em conseguir seus objetivos pela via honesta( trabalho, esforço). Os psicopatas praticam seus crimes por desvio de personalidade, pela incapacidade de sentir culpa e portanto incapazes de responder à reabilitação.

Baseados na lei 80: 20 : 3, a partir de hoje você é convidado a ampliar sua percepção em relação aos membros da sociedade. Deixe de cometer o equívoco de achar que todas as pessoas são iguais. Deixe de cometer o equívoco ingênuo de achar que os outros são honestos e sinceros, porque você o é. Essa tendência de avaliar os outros, projetando neles a sua bondade e honestidade, irá colocá-lo em armadilhas perigosas. Parta do pressuposto de que 20 pessoas de cada 100 são desonestas, mentirosas, exploradoras, manipuladoras, perigosas para a sua sobrevivência e integridade. Três em cada 100 são verdadeiros demônios encarnados, capazes de atos atrozes e repugnantes!!

Mas e os 80% que são honestos, sinceros, bem-intencionados, respeitosos, bons cidadãos, pais e amigos? Eles são a regra, mas devem ser encarados como exceção. Infelizmente, na sociedade moderna, os 20 % causam muito estrago nas relações humanas e sociais, porque os 80% das pessoas confiáveis se omitem, são ignorantes quanto aos inimigos da harmonia social. Se 80% entendesse esse blog e aplicasse os conhecimentos aqui contidos, nas pequenas coisas e nas grandes coisas, essa proporção maligna ficaria imobilizada e não conseguiria cometer seus delitos e crimes. Não vou entrar nas explicações científicas das causas subjacentes da psicopatia( vide outros posts), mas agora importa saber que você precisa abdicar da sua ingenuidade, deixar de ser incauto e começar a bloquear esses "camaradas" parasitas"!

Não passa um dia no consultório, que não atendo alguém vitimado por um psicopata. Eu mesmo já atendi psicopatas, mas logo os dispensei. Quem mora com psicopatas, dorme ao lado de um psicopata, trabalha com um psicopata, faz negócios com um psicopata, vai pagar o preço de ser lesado repetidamente , desenvolvendo doenças psiquiátricas decorrentes da manipulação. Os psicopatas são sedutores e produzem um campo magnético que hipnotiza as suas vítimas. Fico perplexo de ver mulheres "defendendo" psicopatas, como se eles fossem vítimas, sendo que na verdade eles são "lobos em pele de cordeiro".

Mulheres, vocês são as principais vítimas! Se um homem quer passar nas suas costas, gastar o seu dinheiro,usar o seu carro, pedir dinheiro emprestado( e nunca mais devolver), agindo de maneira agressiva e depois se fazendo de "coitadinho", cuidado!!!!Você está lidando com alguém com comportamentos psicopáticos e a sua vida está correndo perigo. Os psicopatas estão em todas as profissões, seria injusto citar algumas apenas, mas eles têm predileção por profissões em que possam ganhar dinheiro, fama e mulheres! Obviamente que existem mulheres psicopatas, mas o percentual é menor. Muitas vezes existem duplas, trios psicopáticos( também conhecidos como formadores de quadrilha).

Se queremos combater o Mal, precisamos unir as pessoas de Bem! Oitenta contra 20 é vitória garantida,se não nos omitirmos mais. Para quem deseja se aprimorar na percepção acurada desses "camaleões peçonhentos", leia "Fundamentos da Trapaça I, II e II( no meu outro blog : http://academiainteligencia.blogspot.com/ ). Lá eu faço uma exposição completa para desmascarar esses intrusos sociais. Os estragos causados por essas pessoas excedem a imaginação mais fértil. Não podemos contabilizar o número de vidas destruídas, estragadas, liquidadas, solapadas, por esse exército maléfico.

A lei 80: 20 : 3 deve cintilar na sua tela mental, toda vez que for apresentado a uma  pessoa desconhecida , for convidado para algum empreendimento ou escolher um parceiro(a) de trabalho ou  parceiro(a) amoroso(o). Nunca é tarde para despertar do sonho de acreditar que esse planeta é "lindo e maravilhoso" e que "as pessoas são tão legais". A sedução que produziu essa visão idílica foi armada por um psicopata!!!!!!

quinta-feira, 25 de março de 2010

Motoboys e Doença Psiquiátrica

Recentemente uma pesquisa realizada na UFRGS com 101 motoboys demonstrou que 75 % deles apresentam algum transtorno psiquiátrico.Os profissionais foram selecionados junto a empresas de tele-entrega, a um estacionamento na Capital e ao Hospital de Pronto Socorro (HPS).

Nem precisava fazer essa pesquisa, haja vista o comportamento dos motoboys no trânsito. Ninguém que pilota uma moto da maneira arriscada como eles pode ser considerado sano. Essa pesquisa só comprova o que a observação sugeria há muito tempo.

Essa pesquisa investigou os motoboys que sofreram acidente de trânsito entre 2006 e 2008. Os principais problemas são : crises de ansiedade, transtornos de personalidade, uso abusivo de álcool( 43,6%) , cocaína( 32,7%) , maconha( 39,6%) e distúrbios de conduta e de humor( 60,4 %). A maioria são homens( 95%) e casados.
 Há mais 15 mil motoboys em atividade na Capital, submetidos diariamente a situações de estresse extremo no trânsito . Dos 101 participantes, 37 não tinham carteira de trabalho assinada, e a maioria circulava, em média, 9,8 horas por dia. Ainda segundo o estudo, 23 motoboys disseram trabalhar durante os sete dias da semana. "A combinação entre esse tipo de atividade, o trânsito, patologias psiquiátricas e o uso de substâncias transforma o motoboy em uma bomba" ,avalia o coordenador do Nepta, o psiquiatra Flavio Pechansky.