sábado, 25 de setembro de 2010

Obesidade e Depressão


A obesidade aumenta o risco de depressão e a depressão aumenta o risco de desenvolvimento de obesidade. Essa foi a conclusão de uma metanálise publicada no Archives of General Psychiatry.


Tanto a depressão como a obesidade são problemas de saúde pública. Ambos aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Por isso, medidas preventivas se fazem necessárias para evitar o aumento dessas duas epidemias.


A análise de 15 estudos publicados envolvendo 58 745 pacientes no decorrer de vários anos mostrou uma associação bidirecional entre depressão e obesidade. Pessoas obesas tiveram um aumento de 55% no risco de desenvolver depressão  e as pessoas depressivas tiveram um aumento de 58 % no risco de se tornarem obesas. A associação entre depressão e obesidade foi mais forte do que a associação entre a depressão e sobrepeso.
A ligação biológica entre sobrepeso, obesidade e depressão permanece incerta e complexa, mas diferentes teorias têm sido propostas. A obesidade pode ser considerada um estado inflamatório, a inflamação está relacionada com risco de depressão. Outros fatores envolvidos são a baixa autoestima e insatisfação com a imagem corporal, pois o corpo esbelto é o ideal de beleza na atualidade. Por outro lado, a depressão pode aumentar o peso no decorrer do tempo, através da interferência no sistema endocrinológico ou aumento ponderal ser decorrente  dos efeitos colaterais de alguns antidepressivos.

A monitoração do risco deve ser feita pelos profissionais de saúde mental. O co-tratamento é indicado para aliviar as duas condições clínicas, para o benefício global dos pacientes.




sábado, 18 de setembro de 2010

Não se Pode Voltar para Casa

Esse é o título do livro de Thomas Wolfe. É também um comentário que ouço com frequência. Eles estão certos. Não se pode voltar para casa.

Se voltar para casa, terá que compactuar com "mentiras" para manter a imagem e a coesão familiar. Nenhum grupo social duradouro se mantém sem  que seus membros mintam. Qualquer convivência emocional precisa de espaço. E falar a verdade o tempo todo sufoca, machuca. Principalmente as famílias disfuncionais, que estacionaram no tempo, que congregam membros com doença mental e transtornos de personalidade, necessitam dessa compensação para sobreviverem. Se você voltar para casa e tentar uma "conversa profunda", descobrirá que  é inviável e perigoso para a homeostase familiar. Para que o amor-próprio coletivo se conserve e a sua imagem de boa filha, bom filho, excelente irmão ou irmã consiga um novo mandato, é preciso fingir coisas por mais quatro anos.

Por que funciona dessa maneira ? Primeiro, porque você cresceu! E os seus pais preferem enxergá-lo como aquela criancinha, bilu, bilu! Na palavra de muitos pais, " os filhos sempre serão nossas crianças, não importa a idade". Essa ideia aparentemente benigna esconde uma tentativa de não acompanhar a mudança  dos padrões de relacionamento familiar à medida que o tempo passa. Todos perdem, porque quando uma pessoa ou grupo resiste a mudanças , deixa de evoluir. E a vida está em  constante evolução. Outra consequência inevitável é o conflito. Nenhum adulto saudável aceita submeter-se à ditadura de outro adulto. Escutar ordens absurdas, pedidos inconvenientes, opiniões não solicitadas,  sofrer controle  ou  invasão de privacidade foram compulsórios na infãncia, mas se tornam simplesmente intoleráveis no mundo adulto.

Voltar para casa e tentar uma "conversa profunda", em busca das verdades escondidas é transformar-se num algoz, um (a)filho(a) desnaturado(a). Você descobre que é um desterrado. Poucas famílias estão dispostas a aceitar novos padrões de relacionamento, seja por medo, preguiça ou incapacidade. Ou você desempenha o seu eterno papel de títere, restrito ao seu personagem no seio familiar, ou perderá  a sua boa reputação construída em anos de obediência. Todos são proscritos na  história familiar. Não se pode conservar uma boa reputação e falar verdades ao mesmo tempo.

Essa colisão transgeracional se deve a diferentes fatores. Pais se recusam a enxergar o ponto de vista dos filhos. Filhos se recusam a continuar obrigados a enxergar somente o ponto de vista dos pais. Esse beco sem saída responde ao diálogo aberto, quando todos os envolvidos estão dispostos a escutar verdadeiramente, baixando as defesas e abdicando da posse da "verdade". Escutar ativamente é o passo essencial. Instigar a curiosidade mútua, para saber em quem todos se transformaram, sem comparações com o passado ou com as expectativas irrealistas projetadas. Na verdade, esse cenário é a exceção, mas famílias saudáveis conseguem vivenciá-lo na maior parte do tempo.

Pais e filhos não se entendem, da mesma maneira que as pessoas não se entendem. Ninguém está disposto a escutar primeiro.

Nessa dualidade de comunicação, pais acreditam que sabem mais que os filhos. Afinal de contas, eles têm mais experiência, viveram mais anos, são mais sábios. Por outro lado, filhos acreditam que sabem mais que seus pais. Afinal de contas, estão se livrando daquelas ideias anacrônicas que foram obrigados a seguir durante anos. Dominam mais a tecnologia. Estão mais abertos ao mundo, às mudanças, ao novo.

Pais tentam impor suas crenças "aparentemente racionais". Eles as receberam de seus pais, que acreditavam na  sua plausibilidade também.  O problema das crenças é que elas são apenas crenças, não a verdade. Crenças antigas são menos capazes de sobreviver no mundo em constante mudança. Crenças são inflexíveis( até que o sujeito decida mudá-las deliberadamente). Mas os pais nasceram antes e esse hiato cronológico concede-lhes um poder precedente. Então, a crença de que experiência é sinônimo de sabedoria impele-os a doutrinar e exigir respeito. Filhos também carregam suas próprias crenças. Entre elas , "os coroas estão ultrapassados". Isso provoca uma cisão no processo de entendimento recíproco.
Pais tentam ensinar( impor) o seus códigos morais . O que eles acreditam ser certo ou errado. Filhos recusam a aceitar esses códigos morais, porque cada grupo possui códigos morais distintos. Crescer é mudar de grupo, de turma. Conservar os códigos morais dos pais é continuar no grupo familiar e não no grupo atual. Os pais  que conseguem manter os filhos vivos até que tenham  juízo e  independência financeira, já são bem-sucedidos. Mais do que isso  é superproteção danosa ao psiquismo humano. Enquanto pais e filhos não entenderem que vivem em grupos diferentes, com regras diferentes, com um "gap" geracional entre eles, nenhum diálogo amistoso e construtivo terá oportunidade de acontecer.

Não se pode voltar para casa, a não ser que essas considerações sejam entendidas e colocadas em prática.

Outro fator que gera mal-estar nas relações familiares é a tranferência do sofrimento psicológico individual para o grupo. Famílias  que orbitam ao redor de um doente mental, um drogadicto, um alcoolista, um psicopata, um pródigo, são famílias disfuncionais. Um indivíduo desestrutura toda a família. Enquanto essa questão não for solucionada ou equacionada, todos os membros sofrerão coletivamente, carregando o sofrimento de um dos seus membros.

Basta uma pessoa insana para enlouquecer muitas pessoas. Inversamente, precisamos mobilizar muitas pessoas para controlar apenas um insano.

O caminho real geralmente não é o caminho sonhado ou desejado. Teremos que lidar com diferenças de opiniões. Isso é ótimo.
 Péssimo para  a maioria,  será  lidar com a indiferença quanto às opiniões diferentes. Nesse caso não vai haver diálogo, nem afinidade, nem crescimento. No seu lugar haverá a perpetuação do distanciamento entre pais e filhos.











quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Prevenção do Suicídio

A propensão ao suicídio está associada a transtornos mentais, principalmente depressão unipolar e bipolar.

Pesquisas mostram diferenças anatômicas e neuroquímicas nos cérebros dos suicidas. O suicídio possui uma base biológica , que frente a estressores sociais, experiências traumáticas e doenças mentais ativas, pode se manifestar com toda a sua força. Os estudos recentes  focam na avaliação do córtex pré-frontal orbital, responsável pelo controle da impulsividade, que mostrou  ser um fator de risco para tentativas de suicídio. A serotonina é o neurotransmissor deficitário em pacientes suicidas.

Estudos demonstram diminuição da atividade neuronal no córtex pré-frontal orbital envolvendo o sistema serotoninérgico. Outra linha de pesquisa procura correlacionar o desequilíbrio do eixo hipotálamo-hipófise- adrenal( eixo do estresse) com tentativas de suicídio. Charles B. Nemeroff, da Emory University School of Medicine e seus colaboradores estão descobrindo evidências de que abusos na infância podem desequilibrar o eixo do estresse, tornando-o vulnerável à depressão e a reações exageradas frente a estressores psicossociais.
Os receptores para serotonina no cérebro e nas plaquetas( sangue) estão aumentados, denotando uma diminuição da serotonina nos pacientes suicidas. Essa regulação de receptores para cima( up-regulation) é uma tentativa de compensar os baixos níveis serotoninérgicos pelo aumento da captação via receptores.

Apesar dos exames de sangue mostrarem essas diferenças, não são usados para o diagnóstico de pessoas mais vulneráveis a impulsos suicidas. Ainda a melhor prevenção se faz através do diagnóstico precoce de doenças mentais e o seu tratamento adequado. A investigação de parentes biológicos também é uma tentativa de mapear as famílias de suicidas. Uma publicação no Archives of General Pscychiatry, em 2002, conduzida pelos pesquisadores do Western Psichiatric Institute and Clinic, em Pittsburgh, afirma que os filhos de pessoas que tentam suicídio têm um risco  6 vezes maior de cometer suicídio que os filhos de pais que nunca tiveram essa intenção. Parece haver uma explicação genética para essa predisposição, já que trabalhos que investigam gêmeos univitelinos( idênticos) mostraram uma concordância de desfecho suicida  de 13 %, enquanto apenas 0,7 % dos gêmeos bivitelinos( fraternos) tinham essa relação.

No Brasil, 24 pessoas cometem suicídio diariamente. Nos últimos dez anos houve um crescimento de 15 % nas taxas de suicídio no país. Atualmente a taxa de suicídio é de 6,5 /100 000 habitantes. Em 23 % dos casos, o suicida estava sob efeito de álcool e drogas. Para cada 20 tentativas de suicídio, uma se consuma. O suicídio é uma das três causas de morte em jovens na faixa etária dos 15 aos 34 anos.

O carbonato de Lítio(carbolitium) é um medicamento usado como estabilizador de humor. Trabalhos demonstram o seu potencial protetor contra o suicídio. Em pesquisa realizada em 1998, na Dinamarca, concluiu-se que o lítio diminui as tentativas de suicídio de seis a quinze vezes. O medicamento, derivado do metal lítio, parece regular a excitabilidade neuronal, controlando o influxo iônico nas membranas dos neurônios e através de sistemas intracelulares(segundo mensageiros). Precisa ser tomado regularmente para atingir uma concentração sanguínea eficaz (litemia), para surtir seus efeitos terapêuticos. É um medicamento acessível, mas causa muitos efeitos colaterais, como ganho de peso, alterações renais , tireoidianas e cognitivas. Mas todos os outros estabilizadores de humor que o sucederam não conseguiram superá-lo em eficácia, mas são mais tolerados pelos pacientes, por apresentarem efeitos colaterais mais leves.