sábado, 12 de setembro de 2009

Estresse causa Depressão?



A terceira hipótese causal da depressão relaciona a ação do estresse sobre o equilíbrio dos neurotransmissores e receptores. A hipótese da expressão gênica associa o estresse do ambiente às hipóteses anteriores. Aqui, tanto os neurotransmissores quanto os receptores estariam normais, mas a transmissão do sinal entre eles estaria falho. Existe a presença de um fator neurotrófico derivado do cérebro(BNDF), que produz o crescimento dos neurônios e é necessário para a recuperação cerebral após episódios de estresse. Um defeito genético impediria a produção desse fator neurotrófico, deixando os neurônios vulneráveis à atrofia e morte, principalmente na região do hipocampo( memória). Muitos depressivos possuem hipocampo atrofiado pelos exames de neuroimagem e queixam-se de falta de memória!
Um indivíduo possui uma capacidade inata de lidar com a carga de estresse ( resiliência). Se ultrapassado o limiar de resistência, a expressão dos genes ficaria comprometida pelo estresse. O eixo do estresse, que envolve o cérebro e as glândulas adrenais( produzem adrenalina) ficam desregulados, com hipersecreção de adrenalina e cortisol, que são tóxicos para os neurônios. Estados crônicos de desregulação hormonal resultam em depressão. Em suma, a depressão seria um defeito na reconstrução dos neurônios( neurogênese) e na resposta hormonal ao estresse crônico. Os antidepressivos ( e os exercícios físicos) demonstram capacidade de reequilibrar o eixo do estresse e produzir novamente a reconstrução neuronal, por ativarem o BNDF.

Hipóteses da causa da Depressão-Parte 2



A segunda teoria quanto à causa das depressões relaciona-se com o possível desequilíbrio nos receptores aos quais se ligam as catecolaminas. Na falta das catecolaminas, os receptores pós-sinápticos( que recebem a ligação da serotonina, noradrenalina e dopamina) precisam aumentar a sua concentração para compensar a escassez dos neurotransmissores. Denominamos esse aumento de "up-regulation". Essa proliferação de receptores foi demonstrada em estudos post-mortem. Por exemplo , em um estudo realizado em 1991, por Deakin, receptores da serotonina( 5HT2) presentes na amigdala cerebral e córtex pré-frontal estavam aumentados. Outros receptores ( 5HT1A), presentes no hipocampo( responsável pela memória) estavam diminuídos.
O tempo médio para um antidepressivo funcionar é de 3 a 4 semanas, o tempo necessário para que haja ( coincidentemente) o processo de alteração desses receptores( "down-regulation") e consequente melhora clínica dos sintomas depressivos!

Hipóteses da causa da Depressão-Parte 1



A depressão ou depressões são entidades heterogêneas, com diferentes classificações. Fala-se em espectro depressivo não-bipolar por alguns autores.
Quanto às explicações para a causa das depressões, existem teorias aceitas e outras em processo de investigação.

Entre as teorias aceitas, já explicamos a teoria monoaminérgica em outro tópico. Segundo essa teoria, a depressão seria o resultado do desbalanço químico cerebral. Haveria deficiência das chamadas "catecolaminas"( serotonina, dopamina e noradrenalina). Esses neurotransmissores estão envolvidos em várias funções cerebrais, entre elas a regulação do humor.
Como se chegou à formulação da teoria monoaminérgica? Em exames post-mortem em suicidas, observou-se uma diminuição do transporte e dos receptores de serotonina. Em outros estudos, metabólitos( pedaços da molécula de serotonina transformada) estavam reduzidos em depressivos. Com a ação de medicamentos serotoninérgicos que aumentavam a concentração de serotonina no cérebro, os sintomas depressivos cediam!
Da mesma maneira, a noradrenalina é outro neurotransmissor que está distribuido em diferentes regiões cerebrais( semelhante à serotonina). Um anti-hipertensivo chamado reserpina diminui os níveis da noradrenalina. E pessoas tomando reserpina ficavam depressivas. Havia diminuição de metabólitos urinários dessa substância nos depressivos. Mais um sinal do envolvimento desse neurotransmissor na depressão!
Por fim, a terceira catecolamina, a dopamina, presente no córtex pré-frontal e amigdala cerebral, que são importantes no controle do humor. Pessoas com doença de parkinson( que têm deficiência de dopamina), apresentam depressão com frequência. Uma medicação da classe dos inibidores de uma enzima ( monoaminoxidase) regulam a dopamina preferencialmente e são excelentes antidepressivos.