Da mesma maneira que uma pessoa é responsável pela sua higiene física para manter o corpo saudável e atraente, ela é responsável pela sua higiene mental para manter-se sana e atraente para o mundo.
"Estamos condenados à Liberdade", asseverou o filósofo Jean Paul Sartre. Sim, em resposta à liberdade de escolha de como se comportar, quais crenças cultivar, quais valores existenciais nos quais se basear em diferentes circunstâncias, respondemos aos desafios do mundo.
Em nessa diversidade de histórias de vida, personalidades vão sendo construídas e reforçadas no decorrer dos anos. Nenhuma personalidade é melhor ou pior que outra, apesar de que algumas personalidades manifestam distúrbios( transtornos) que as tornam ineptas para viver a vida com funcionalidade. Tais pessoas, portadoras dessas personalidades disfuncionais, sofrem e fazem sofrer aqueles com quem convivem.
Os transtornos de personalidade são facilmente detectáveis. Essas pessoas causam mal-estar no mundo, criam confusões, reagem com agressividade e impulsividade, são inflexíveis nos seus comportamentos, exploram os relacionamentos, transformando-os em fontes de nutrição para suas manias e imaturidade. Conviver com pessoas transtornadas nas suas personalidades é um processo desgastante e sofrido. Apesar do tratamento psicoterápico, muitos pacientes conservam suas doenças, recusando-se a mudar, seja por incapacidade ou por falta de vontade.
A responsabilidade pela mudança é do paciente, pelo compromisso em se empenhar na modificação dos traços de personalidade danosos para si , para sua família e para a sociedade. Estima-se que 25 % das pessoas possuam transtornos de personalidade, em diferentes graus. Quando não conseguimos fechar o diagnóstico, por insuficiência de itens diagnósticos, ainda conseguimos perceber traços de personalidade normais exacerbados, causando transtornos indiretos.
Essas pessoas infelizmente pagam um preço alto por não mudarem. Elas recebem a retribuição exata da inconsequência dos seus atos e escolhas equivocadas. São problemáticas ( conhecidas e rotuladas como tal), são rechaçadas no meio social e profissional, perdem oportunidades de progresso, de avanço evolutivo, são abandonadas pelos amigos, pela família e pelas parcerias afetivas.
A higiene mental é tão importante quanto a higiente corporal. Tomamos banho e escovamos os dentes todos os dias para evitar os odores fétidos do corpo. E quanto aos odores fétidos da personalidade? Que higiene mental você faz todos os dias? Que crenças ultrapassadas você teimar em impor às pessoas que o rodeiam? Vejo pessoas negligenciando as suas mentes, as suas escolhas e as consequências inevitáveis dessas escolhas erradas. Não adianta passar a vida inteira queixando-se e colocando a culpa nos outros!
A heterogeneidade de personalidades nos faz encarar comportamentos estranhos para um observador atento. Dependendo da crença subjacente, vemos escolhas difíceis de entender.
Temos a senhora de 40 anos, aparentando 60 anos, de tanto se estressar com o trabalho, de sol a sol, negligenciando a sua saúde física e mental, porque não tem tempo para essas coisas( cuidar da saúde) e "precisa trabalhar". Que absurdo, diria uma observador atento. Na ordem de prioridades, a saúde não é mais importante que o trabalho? É possível trabalhar doente?
Temos o jovem de 25 anos, que adia sempre assumir a sua profissão, porque passa doente e " enquanto não cuidar da sua saúde", não tem cabeça para pensar em trabalho. Ele não percebe que o verdadeiro motivo de continuar doente é que ele não ama o trabalho que faz e a única maneira que encontrou até o momento para justificar o seu absenteísmo, é adoecer.
Temos os pacientes que só falam em dinheiro. Esse materialismo é um sinal de insanidade mental. Um observador desatento pode pensar que a vida é dura, todo mundo precisa ganhar a vida e esse assunto é justo. Mas só falar em dinheiro, só pensar no próximo apartamento e outras coisas materiais é uma inversão de valores, quando meios transformam-se em fins. Doença mental!
O mundo anda insano, porque as pessoas se recusam a mudar para melhor, seja por incapacidade , seja por teimosia. E por trás desses sinais que passam despercebidos para a maioria ,ocupada com o seu mundanismo e suas frivolidades, enxergamos a doença mental nos seus múltiplos desdobramentos.
A higiene mental é uma necessidade fundamental, como prática diária, na busca de uma melhor qualidade de vida para cada indivíduo e para a sociedade global. Aqueles que se recusarem a fazer isso, estarão sempre aquém de suas potencialidades, vulneráveis a resultados existenciais pobres, em estado permanente de infelicidade( e queixumes), procurando "soluções artificiais " em valores vazios como drogas de abuso, materialismo desenfreado, competição selvagem, busca de satisfação narcisista a qualquer custo, numa eterna insatisfação, que alimentam as patologias da modernidade.