Nesta noite tivemos a palestra com o Prof. Dr. Ângelo Cunha, chefe do Departamento de Neuropsiquiatria da UFSM. A palestra faz parte da tese de doutorado do Dr. Ângelo, que pesquisou a relação entre as "neurotrofinas e os transtornos de Humor."
Antigamente se acreditava que o cérebro humano era incapaz de formar novos neurônios. Com o avanço nas pesquisas, descobriu-se que existem fatores de crescimento neuronal, " as neurotrofinas", que promovem o crescimento neuronal em diferentes regiões cerebrais, principalmente no hipocampo( área responsável pela memória).
O trabalho de pesquisa do Dr. Ângelo Cunha, juntamente com outros colegas da UFRGS, investiga uma neurotrofina específica, envolvida na proliferação neuronal . Trata-se do BDNF( Fator de Crescimento Neuronal derivado dos Neurônios).
Nos pacientes com quadros depressivos e no transtorno de humor, o BNDF estava diminuído. Quanto maior a intensidade dos sintomas, menor a concentração desse fator. Essa pesquisa foi feita em laboratório, envolvendo ratos e depois confirmada em exames anatomopatológicos pos mortem de pacientes depressivos ou maníacos.
Quanto maior a situação de estresse, maior a diminuição do BDNF no cérebro humano. A produção excessiva de cortisol seria tóxico para os neurônios, causando a morte celular. O uso de antidepressivos, acido valpróico( estabilizador de humor), carbonato de lítio( estabilizador de humor) , a prática regular de exercícios físicos aumentariam a concentração de BDNF no cérebro, que estimula a proliferação de novos neurônios.
Trabalhos mediram a concentração de BNDF em pessoas depressivas antes do tratamento , que receberam antidepressivos( paroxetina e minalciprano) e depois do tratamento. Há uma normalização dos níveis dessa neurotrofina.
As implicações desse trabalho mostra que o uso de antidepressivos e estabilizadores de humor são benéficos na neuroproteção contra as doenças mentais e o estresse crônico.
O modelo teório relacionando o estresse ao desencadeamento de quadros depressivos envolve a exposição de indivíduos vulneráveis geneticamente a situações estressoras( perda de entes queridos precocemente, ambiente familiar caótico, doenças nos pais, condição de trabalho e sócio-econômica), produzindo o aumento da secreção dos hormônios do estresse( cortisol e adrenalina), que seriam tóxicos para o cérebro. Pessoas nessas condições apresentam uma atrofia do córtex pré-frontal( relacionado a pensamento abstrato, planejamento e controle de impulsos) , do hipocampo( relacionado com memória e localização espacial) e uma hiperativação do sistema límbico( envolvido com as respostas emocionais). Pessoas com esse perfil teriam um padrão de resposta depressiva aos eventos cotidianos, com hiperreatividade ansiosa a eventos neutros.
Cada vez mais o estresse tem sido o vilão no processo patológico das doenças mentais. Prevenir o estresse inclui um estilo de vida saudável, jornada de trabalho adequada( nem excessiva , nem ociosidade), a prática regular de exercícios físicos e o uso de medicamentos psiquiátricos a longo prazo. Sabemos que o estresse oxidativo( dentro das células), produz a morte celular, causando inflamações generalizadas no organismo. Pacientes com surtos maníacos teriam um prejuízo mental( pela toxicidade da doença), até maior que os surtos depressivos. Vários surtos vão alterando a funcionalidade do SNC( Sistema Nervoso Central), alterando a anatomia cerebral( aumento do ventrículos cerebrais).
Testes neuropsicológicos demonstram que pacientes que desenvolveram esquizofrenia na vida adulta, já apresentavam déficits cognitivos( menor QI), enquanto que pacientes que desenvolveram transtorno bipolar tinham QI acima da média. Isso demonstra uma deterioração precoce nos pacientes esquizofrênicos, muito antes dos sintomas eclodirem. E mostram que no início do transtorno bipolar, os pacientes não apresentavam comprometimento cognitivo( que pode até ter compensado os sintomas da doença), mas se não tratados evoluem com déficits cognitivos graves.
Em resumo, o BDNF é um fator marcador do estresse cerebral, estando diminuído na depressão e no transtorno bipolar. O uso de antidepressivos e estabilizadores de humor normalizam esse fator, protegendo o cérebro a longo prazo de desenvolver doenças neurodegenerativas. Ao contrário do que pensa a população leiga, tomar esses remédios protege o cérebro e não tomar desprotege o cérebro contra as doenças mentais e diminui as capacidades intelectuais.
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