domingo, 24 de outubro de 2010

Contaminações Psicológicas e Comportamento Irracional

Vivemos numa sociedade composta de diferentes configurações psicológicas, que interagem entre si. Nenhum homem é uma ilha, portanto o ônus a ser pago pela vida em sociedade é o contato constante com as contaminações psicológicas.

Contaminações psicológicas são estados mentais pesados, de ordem neurótica ou psicótica, que contaminam os membros da sociedade no processo de comunicação. Já viram uma pessoa que perturba a paz mental de um grupo? da família? da sociedade? de uma pessoa? Essas pessoas, mentalmente doentes, extravasam a sua doença mental sobre as outras, amplificando o estado de perturbação social. Essas pessoas , mentalmente doentes, reunem-se em grupos mentalmente doentes.

As contaminações mentais acometem praticamente todas as pessoas. Algumas estão em estado mais agudo ( doenças mentais agudas), outros em estados crônicos, outros em estado de latência( de espera), sujeitos a um desequilíbrio a qualquer momento.
Os comportamentos irracionais são as marcas das contaminações psicológicas. Um comportamento criminoso enquadra-se nessa categoria. Um ato impulsivo agressivo ou suicida é uma marca de insanidade mental. Os suicídios coletivos são grupos mentamente insanos praticando comportamentos irracionais.

A resiliência é a capacidade de manter o equilíbrio mental( não necessariamente saudável) para não sucumbir à doença mental. Quando o indivíduo perdeu a sua resiliência, o caminho que ele percorre é das doenças mentais e das doenças físicas.
O recursos terapêuticos disponíveis procuram devolver ao indivíduo essa resiliência através do resgate de resquícios de sanidade mental obstruídos, seja pelo uso de medicamentos,direcionados exclusivamente a sintomas , as psicoterapias , a mudança ambiental, a mudança no estilo de vida e  a educação.

A Psiquiatria lida diretamente com sintomas mentais, responsivos a medicamentos psicotrópicos. Em muitas enfermidades mentais, a carga patológica é tão intensa, que a psicoterapia torna-se ineficaz, por não conseguir acessar os recursos psicológicos sadios. A tentativa de tratar psicoterapicamente indivíduos insanos provoca a piora da evolução, em casos agudos. O controle dos sintomas é imperativo. Posteriormente, avalia-se a necessidade e a elegibilidade para as psicoterapias.

As Psicoterapias são métodos de interação verbal e comportamental que almejam resgatar os recursos psicológicos primários sadios, com a liberação dos conteúdos e processos patológicos secundariamente instalados. A psicoterapia procura devolver ao indíviduo o seu autocontrole psicológico. Tal objetivo ambicioso não é alcançado pela maioria. O sucesso na psicoterapia precisa de motivação, capacidade intelectual e emocional e persistência num curso de tratamento longo e oneroso financeiramente. Quando o indivíduo apresenta as condições mínimas para ser bem-sucedido nessa modalidade de tratamento, os primeiros passos começam. O resultado final ou a chegada a um desfecho final são incogniscíveis de antemão. Quando o paciente pergunta quanto tempo vai levar a terapia, a resposta mais sincera é " não sei", "depende do seu ritmo de aproveitamento", depende de outros fatores externos imponderáveis no momento inicial. A psicoterapia é aventura que resulta em nada ou em muito.

A mudança ambiental é o indivíduo mentalmente doente poupar-se de conviver com outros indivíduos mentalmente insanos. Algo que contraria as internações psiquiátricas. Um indivíduo adoece e ele é trancafiado com outros indivíduos doentes. Isso provocará a piora da contaminação psicológica. Na verdade, as internações são alternativas para surtos agudos, com o intuito de proteger o paciente de riscos de autoagressividade e a sociedade de riscos de sofrer prejuízos de todas as ordens. A internação é poupar a sociedade da insanidade individual. Há muito tempo se sabe que os pacientes esquizofrênicos pioram a doença quando expostos a ambientes familiares carregados emocionalmente, hostis ou com expressão emocional ostensiva. São exemplos de contaminação psicológica.

A mudança do estilo de vida é poupar-se do estresse. Uma pessoa estressada ativa mecanismos fisiológicos de desequilíbrio orgânico. Com o tempo produzem-se doenças mentais e físicas , que se autoperpetuam. Muitas doenças mentais( depressão, ansiedade, bipolaridade) sofrem o impacto negativo dos estressores ambientais. Uma alimentação saudável, a prática de exercícios físicos, um trabalho que se ama são "amortecedores" contra a insanidade. Uma vida desregrada, com abuso de substâncias químicas, sedentarismo e ociosidade laborativa são promotores e mantenedores de doenças.

A educação é outro elemento que "pode" promover alguma recuperação da sanidade mental. De maneira alguma é a garantia absoluta de equilíbrio( como pensam a sociedade e os governantes). A educação é um processo de acumulação de dados e experiências. Esses dados e experiências podem ser causadores de sobrecarga mental, piorando as doenças mentais. Você já escutou aquela frase- " uma pessoa educada e culta, teve um comportamento tão feio". Educação não é sinônimo de sanidade ou saúde. Muitos indivíduos com todos os cursos e graus acadêmicos possíveis( e ainda por inventar) podem ser extremamente doentes, inclusive em nível psicótico grave. A educação é o verniz final ,depois que o contéudo mental e físico foram consertados e reabilitados.

As contaminações psicológicas são inevitáveis. Isso decorre da interação social, familiar, laborativa e mesmo individual( conversa interna). Se você vive numa cultura insana,  vai começar a  pensar que não há mal algum em jogar alguns aviões em prédios por aí. Você vive numa família insana, apanhar , surrar e ser abusado verbal e fisicamente passam a ser o parâmetro nos anos de estruturação da personalidade básica. Se você odeia o seu trabalho, levantar todos os dias para ganhar um salário  transforma-se num inferno silencioso, provocando a sua   decadência externa( rugas, enfermidades físicas)  e interna( doenças mentais ,doenças glandulares e câncer). Lidar com as contaminações psicológicas começa com a identificação desse " virus" mental que o(a) contaminou, impelindo-o(a) a agir de maneira animal, animalesca ou irracional. Nesses momentos,a impulsividade leva a atos horrendos como homicídios, suicídios e todos os tipos de agressões, por exemplo.

Além dessas mudanças, você precisa buscar o fortalecimento mental, através do autodesenvolvimento, a conservação mental através dos recursos terapêuticos  e "cura dinâmica" através da evolução mental, física e espiritual, com o foco sempre no futuro.

sábado, 16 de outubro de 2010

Psicometria

Psicometria é a atividade de testar indivíduos para descobrir aptidões, traços de personalidade e a inteligência.

A psicometria é uma atividade realizada por psicólogos com especialização em neuropsicologia.  A Neuropsicologia é a aplicação de conhecimentos neuroanatômicos e neurofuncionais a determinadas funções psicológicas e comportamentais,  dedicando-se a investigar como diferentes lesões causam déficits em diversas áreas nas  funções mentais, com embasamento em avanços da neurociência. Entre as principais contribuições desse ramo do conhecimento estão os resultados de pesquisas científicas para elaborar intervenções em casos de lesão cerebral, auxiliando o diagnóstico psiquiátrico e providenciando técnicas de reabilitação neurofuncional.

O trabalho do neuropsicólogo é investigar alterações no funcionamento neurológico que produzem sintomas psicológicos e psiquiátricos. Para a realização desse trabalho, é preciso saber se o profissional possui especialização na área, com comprovada formação técnica para a realização dos testes e emissão de laudos. A formação acadêmica em Psicologia não é suficiente para o credenciamento de profissionais na realização dos testes.

Cabe ressaltar que na Psiquiatria essa avaliação psicométrica é auxiliar no entendimento de déficits causados pelas diferentes patologias mentais. Não é necessária a utilização desses instrumentos para a confirmação diagnóstica, que geralmente se faz pela avaliação do estado mental( EEM) e a exclusão de outras enfermidades físicas, utilizando exames complementares de sangue e de imagem. Quando o psiquiatra solicita a avaliação neuropsicológica é para confirmar ou desconfirmar a sua impressão diagnóstica. Jamais um instrumento de investigação vai substituir o raciocínio clínico, da mesma maneira que um RX de tórax não vai substituir o pneumologista.

A Psicometria que mensura a inteligência cognitiva é interessante, pois permite acompanhar a evolução de muitas patologias psiquiátricas, que causam perda neuronal, com déficits intelectuais secundários. Entre essas patologias, podemos citar a esquizofrenia, a depressão , o transtorno Afetivo bipolar(TAB) e as demências . Muitas doenças produzem uma "assinatura" psicométrica, com déficits mais proeminentes em determinadas áreas cerebrais.

O trabalho clínico do psiquiatra se faz na consulta de avaliação, com duração média de 50 minutos, seguida de consultas de acompanhamento. Nessa avaliação inicial, formulamos as hipóteses diagnósticas( HD), que serão confirmadas ou descartadas no decorrer do tempo. Observamos que muitos pacientes querem um "rótulo diagnóstico" para entenderem ou aceitarem  a(s) sua(s) doença(s). Preferimos protelar o momento do diagnóstico para evitarmos equívocos. O uso de rótulos somente prejudica a autoimagem do paciente e não acrescenta muito na terapêutica. O diagnóstico, quando confirmado, poderá ser comunicado ao paciente e seus familiares.

O diagnóstico é um constructo teórico, elaborado a partir da  presença de sintomas persistentes que causam prejuízo funcional. Através da pesquisa clínica, muitos diagnósticos vão sendo aprimorados ou eliminados, conforme surgem novas síndromes( conjunto de sintomas). O objetivo do DSM( Manual Diagnóstico e Estatístico) é colocar ordem no caos subjetivo que domina o campo da saúde mental. Na avaliação fenomenológica, podemos prescrever a terapêutica de maneira mais racional e comedida, evitando erros e prejuízos ao paciente. Aqui se assenta a importância de consultar o especialista, pois ele está mais qualificado para diferenciar as diferentes categorias diagnósticas.

A Psiquiatria é uma especialidade médica. Trabalha , essencialmente, com doenças mentais , como esquizofrenia, depressão, transtornos de humor, transtornos de ansiedade, transtornos somatoformes e outros.

A Psicologia é uma especialidade independente da Medicina, que estuda o psiquismo humano e constrói teorias de como a mente funciona, fornecendo métodos de tratamento para  funcionamento anormal. Denominamos esses métodos de psicoterapias. Existem centenas de métodos psicoterápicos, cada um deles destinado a ser compatível com a teoria mental que lhe dá embasamento.

A Neurologia é uma especialidade médica. Trabalha , essencialmente, com doenças neurológicas e não com "doença dos nervos", sendo erroneamente confundida com a Psiquiatria. O neurologistas tratam epilepsia, derrames, neuropatias periféricas e outros. Muitas doenças, por apresentarem um perfil neuropsiquiátrico, são do domínio das duas áreas. Nessa categoria incluem-se as enxaquecas e as demências.

A diferenciação é fundamental para que o paciente possa procurar o profissional adequado em cada caso específico. A melhor ordem de investigação diagnóstica em sintomas mentais é o psiquiatra- neurologista-psicólogo. Isso segue a lógica de que uma doença médica tem precedência aos diagnósticos puramente psicológicos, por colocarem  a saúde orgânica e a vida dos pacientes em primeiro lugar. Caso o psiquiatra desconfie de uma doença neurológica, ele encaminhará o paciente para o neurologista. Se ele confirmar que o paciente tem sintomas psicológicos, com características neuróticas ou de personalidade, poderá encaminhar para o psicólogo. A inversão dessa ordem atrasa os diagnósticos e  aumenta o risco de tratamentos desnecessários e arriscados.






quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Legalizar a Maconha?

Li recentemente uma reportagem na revista Galileu, onde quatro conceituados neurocientisitas defendem a legalização da maconha. No contraponto, temos dois psiquiatras da USP contrários à legalização.

Sem parecer "dramático", posiciono-me contra à legalização da maconha e qualquer outra substância química , sem controle médico, que tenha o potencial de causar danos à saúde física e mental das pessoas e danos à saúde social.

Se uma pessoa quiser fumar maconha, que o faça na privacidade da sua casa. A legalização da maconha é estender esse limite para fora, envolvendo a sociedade como um todo. Quanto a isso, não podemos concordar, porque o  meu direito começa onde termina o seu direito. E o meu direito é não ser submetido aos vícios de quem quer que seja, incluindo cigarro, álcool e outras drogas!

O uso de maconha provoca danos comprovados ao Sistema Nervoso Central(SNC). Apesar da opinião permissiva dos renomados neurocientistas, essas evidências estão disponíveis em publicações científicas. Minimizar isso através da legalização é irresponsável. Não se resolve um problema, criando outro. Se os governos estão perdendo a guerra do combate às drogas( o problema), legalizar o uso das drogas( outro problema) não vai amenizar o caos social causado pelo consumo, nem diminuir o tráfico.

O dinheiro do tráfico vêm de outras drogas, não da maconha, por ser barata e de fácil acesso. O que a legalização vai produzir é o aumento do consumo, seja por curiosidade, seja porque é "permitido mesmo". Isso produzirá o aumento do percentual de jovens que  experimentam, com o consequente aumento da dependência e o desencadeamento de outras doenças médicas e psiquiátricas. Qual será o benefício social disso? ? Ao meu ver, nenhum.

O debate quanto à legalização da maconha é um sintoma do fracasso dos governos em controlar o tráfico de drogas. Se não conseguem controlar, inventam "soluções" para o problema. Se não conseguem vencer o inimigo, buscam aliar-se a ele. Admitamos que esse não é o melhor caminho em defesa do interesse social.

O usuários de drogas têm a  inclinação de achar que não são doentes. Eles "param na hora que quiserem". O que observo é que essa hora nunca chega voluntariamente. Alguns morrem e matam outros antes dessa bendita hora chegar. Os usuários de drogas( inclusive a maconha) colocam a vida de pessoas inocentes em risco, quando usam a substância e vão para as ruas. Eles causam acidentes!!!!! Sim , as drogas nublam as percepções, rebaixando o estado de consciência. E uma pessoa sem percepções é  um risco, seja  dirigindo carros, operando máquinas, tomando decisões ou agindo impulsivamente.

Por isso, se você quiser usar drogas, o problema é seu! Use no recôndito do seu quarto ou casa. Não invada a vida dos outros que não querem sofrer as consequências da sua escolha individual.

Os usuários de drogas têm a inclinação de defender o uso de drogas( apesar das evidências dos malefícios) e procuram arrebanhar o máximo de "parcerias" para o grupo. Parece que se entorpecer sozinho não tem muita graça. Usar drogas é uma escolha individual.  Arrebanhar outros para o uso é aliciamento social. Deve ser combatido. Qual a diferença entre um traficante e um usuário aliciador? Se o resultado final vai ser o aumento do consumo, produzindo mais ganhos para o traficante e perdas para a sociedade?

Usuários de drogas são pessoas muito doentes. Essa observação é psiquiátrica. A droga invade a estrutura de personalidade como um parasita psicológico. Se tiramos a droga, a pessoa fica mutilada. A partir desse momento, desaprende a viver! Falta-lhe algo, falta-lhe a identidade. Muitos sacrificam o potencial produtivo da vida  pelo uso compulsivo de mais e mais doses. Uma pessoa busca a  " liberdade" através das drogas e acaba se transformando num escravo delas. Perde a sua autonomia, autodeterminismo e a Liberdade verdadeira. O dependente e o usuário buscam " a alteração de consciência" e encontram o rebaixamento da consciência, tornando-se insensatos e estúpidos, com atitudes anti-sobrevivência.

Sou contra à legalização da maconha, porque sou a favor de medidas que elevem a ordem social , que sejam pró-sobrevivência e não o contrário.

Como médico, serei sempre contra substâncias danosas à saúde e à mente humana. O maior exemplo de responsabilidade é não sobrepujar o interesse coletivo para fomentar desejos e interesses pessoais. Quando a mente humana se torna embotada, começa a buscar soluções inadequadas. Perdem-se objetivos que valem o esforço de melhoramento humano.Quando o EU fica maior do que o nós, estamos diante da irresponsabilidade e da imaturidade. Usar maconha e outras drogas é viver uma eterna "infância perigosa" que priva o mundo da evolução necessária  à níveis mais altos de Consciência e Felicidade.