Transtorno Mental é uma síndrome comportamental ou psicológica clinicamente significativa, associada à presença de angústia ou a um risco significativamente maior de morte, sofrimento, incapacidade ou perda importante de liberdade.( American Pscychiatric Association, 2000).
Essa definição é ampla e permite uma análise mais detalhada. Se levarmos em conta cada palavra envolvida, teremos uma riqueza de significados.
Síndrome é um conjunto de sintomas. Portanto, sem a presença de sintomas clinicamente significativos, não estaremos diante de um transtorno. O que torna esses sintomas significativos, passíveis de diagnóstico e possível tratamento, é a presença de angústia , risco maior de morte, sofrimento, incapacidade ou perda importante da liberdade.
Então, nem todo sintoma que envolva comportamento ou psiquismo é transtorno. Dizer que todo mundo é doente mental não é verdade. O que pode acontecer é que, em algum momento da vida, todas as pessoas podem desenvolver algum transtorno mental, de características transitórias ou crônicas. Atualmente, estima-se que 50 % da população está manifestando alguma síndrome mental clinicamente significativa, diagnosticável e tratável.
Os marcadores de transtorno mental dependem de uma avaliação médica adequada, através de um checklist de sintomas. O paciente pode negar a existência desses sintomas, apesar de gerarem sofrimento, percebido pelos familiares ou amigos. Outros pacientes buscam tratamento porque reconhecem que estão sofrendo, angustiados, incapacitados, escravizados por sintomas que não cessam espontaneamente, nem através da força de vontade.
Os transtornos mentais estão em grupos classificatórios e podem ocorrer isolada ou concomitantemente. Quando ocorrem simultaneamente, dizemos que o paciente apresenta comorbidades. É bastante comum a coexistência de mais de um transtorno mental. O paciente busca avaliação por um transtorno e pode descobrir outros transtornos subjacentes ou adjacentes. É importante uma avaliação clínica ampla, que contemple a parte mental, a parte física e a estrutura psicológica.
O paciente pode escolher a ordem de avaliação. Digamos que ele resolva começar pela estrutura psicológica. Então ele procura a Psicologia. Como hoje em dia a Psicologia trabalha em conjunto com a Psiquiatria, alinhada aos avanços da neurociência, a comunicação entre esses profissionais tornou-se mais cooperativa. Se a(o) psicóloga(o) detectar sintomas clinicamente significativos, pode solicitar uma avaliação psiquiátrica complementar. Por outro lado, o paciente pode recorrer diretamente à Psiquiatria , através da avaliação clínica primeiramente, para uma exclusão diagnóstica de transtorno mental em curso. Nessa avaliação, doenças físicas devem ser excluídas como causadoras de sintomas mentais, antes de qualquer conclusão diagnóstica. Se necessário, a Psiquiatria recorrerá a outras especialidades, como a Endocrinologia, a Cardiologia e a Neurologia.
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O importante é uma avaliação global. Falamos de eixos diagnósticos. O eixo I refere-se aos transtornos mentais classificáveis. O eixo II refere-se à estrutura psicológica e engloba tanto os traços de personalidade, quanto os transtornos de personalidade. O eixo III refere-se às doenças clínicas não psiquiátricas, da esfera da Medicina Geral. O eixo IV refere-se aos estressores( desencadeantes e mantenedores) dos transtornos mentais, psicológicos e físicos. O eixo V refere-se a uma escala de funcionamento global, que mensura o comprometimento funcional do paciente no ano anterior.
Voltemos à definição incial ,usando alguns exemplos classificados como transtornos propriamente ditos. Revisando:
Transtorno Mental é uma síndrome comportamental ou psicológica clinicamente significativa, associada à presença de angústia ou a um risco significativamente maior de morte, sofrimento, incapacidade ou perda importante de liberdade( APA).
Exemplo 1- Conflitos psicológicos que produzem sofrimento e perda da liberdade: neuroses, imaturidade emocional, dificuldades de relacionamento interpessoal, baixa autoestima, confusão de identidade pessoal, indefinição sexual, indefinição profissional, insatisfação interior e outros;
Exemplo 2- Síndrome comportamental : comportamentos disfuncionais, perda das funções mentais que coordenam o comportamento, inadequação social, perda do senso de realidade, psicoses, perda do juízo crítico, instabilidade de humor, agressividade , abuso de substâncias e outros.
Por fim, precisamos informar que existem tratamentos disponíveis para uma gama extensa de transtornos mentais. Esses tratamentos não curam, mas minimizam e controlam os sintomas, o que não é pouca coisa em se tratando de doenças crônicas. Os medicamentos são necessários muitas vezes para reduzir o sofrimento mental e comportamental, permitindo um retorno parcial ou completo ao estado pré-mórbido. Os tratamentos psicológicos( psicoterapias) permitem o crescimento da personalidade e o controle de pensamentos, sentimentos e comportamentos disfuncionais.
O melhor resultado é a combinação de medicamentos( quando bem indicados) e psicoterapia. Mas isso depende do tipo de transtorno mental, as condições mentais mínimas para adesão aos dois tratamentos combinados. O pior resultado é negar-se a buscar tratamento por preconceito, desinformação ou falta de acesso a atendimento especializado e continuar sofrendo.