sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Congresso Mundial de Psiquiatria 2011

Tema: Nossa Herança e Nosso Futuro
18 a 22 de setembro/2011- Buenos Aires, Argentina

15° Congresso Mundial de Psiquiatria, organizado pela World Psychiatric Association, a cada três anos, é o principal evento científico internacional da Psiquiatria. Ocorrerá no Sheraton Buenos Aires Hotel & Convention Center. São esperados 13000 participantes.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Déficits e Conflitos resultando em Transtorno Mental

O desenvolvimento psicológico é comparável  a  uma massa de modelagem. Se houver sobrecarga da mão que molda num lado e falta de modelagem no outro, a estrutura se solidifica com contornos específicos na personalidade. Os genes são os primeiros moldadores da personalidade. Muitos traços e características pessoais são geneticamente determinados. Os pais são os segundos moldadores. Conforme o peso de suas mãos, a argamassa psíquica adquire diferentes configurações.

Quando uma pessoa está no seu processo de desenvolvimento, a argamassa ainda está crua, portanto, pode ser modelada. A partir de uma determinada idade, a mudança torna-se mais difícil, pois os pontos centrais da personalidade estão estruturados. Mudar significa quebrar estruturas, derrubar defesas psicológicas, modificar padrões comodamente incômodos. Para o psiquismo é preferível o ruim sólido conhecido ao bom líquido e incerto.

Falamos em déficit e conflito. São duas teorias bastante elegantes para explicar o processo de estruturação da personalidade. Todos temos uma história única, uma trajetória singular, com vitórias e fracassos, o que vão construindo um mundo interno personalíssimo. Quando os pais são ausentes ou o ambiente é muito empobrecido emocional e materialmente, a criança sofre um empobrecimento no seu psiquismo. Ela sofre de "deficits" na sua formação psicológica e na sua potencialidade latente. Quando uma criança enfrenta situações estressoras, sofre um reflexo prejudicial ao seu equilíbrio, através de intensificação de conflitos desnecessários.

Todos somos uma amálgama de déficits e conflitos. Quanto maior ou menor essa proporcionalidade, maior a manifestação de sintomas. Pessoas com déficits, encontram-se incompletas no seu desenvolvimento psicológico, com lacunas internas, vazios, carências, que geram sensações de desprazer e insatisfações crônicas. Geralmente a busca no decorrer da vida é reviver padrões relacionais que possam "resgatar" neuroticamente as relações falhas. Isso leva maridos a buscarem esposas cuidadoras ou esposas buscarem maridos paternais.

Quando há uma predominância de conflitos, a estruturação é mais externalizante, com manifestações sintomáticas exuberantes, dramáticas, com conflitos abertos e ostensivos. São trantornos neuróticos graves ou transtornos de personalidade incapacitantes. Dizemos que os conflitos se exteriorizam e os déficits se internalizam. Ninguém é tão matematicamente esquemático, mas para fins de entendimento funciona assim.

Nos transtornos resultantes de conflitos intrafamiliares, a manifestação sintomática é nociva ao equilíbrio social. Tais indivíduos , sobrecarregados por impulsos agressivos e não canalizados positivamente, descarregam no mundo suas angústias e descontroles. Muitos brigam, criam confusões, sabotam o seu próprio crescimento, fazendo escolhas equivocadas ou autodestrutivas.

Nos transtornos resultantes de déficits, o indivíduo torna-se ensimesmado, retraído, um proscrito da convivência social, num ostracismo retroalimentador da solidão. Essa " timidez patológica", por contenção interior forçada, esmaga a personalidade, fazendo-a contrair-se ou desaparecer. Esse ciclo de encolhimento psicológico destrói a criatividade humana e cria personagens esquizóides, alheios à vida na sua fluência natural.

Somos o barro moldado pela genética inegociável e a criação cuidadosa ou inconsequente. Somos uma aposta arriscada. No decorrer do ciclo vital, poderemos corrigir alguns déficits e minorar alguns conflitos, mas jamais mudaremos a configuração primária. A psicoterapia é uma tentativa humana, mas falha, de melhorar o psiquismo humano, fazendo-o mais funcional e o seu dono, mais feliz e produtivo. Obviamente que as soluções humanas são parciais.

As teorias sobre como educar as crianças mudam todos os anos. Mas fatores essenciais perduram, como dar bons exemplos, ensinar valores éticos, transmitir afetividade, congregar as crianças em atividades familiares conjuntas, instilando padrões de responsabilidade infantil. Os pais são importantes para o futuro dos filhos, mas não podem responsabilizar-se por tudo, assumindo "culpas" que não lhe são imputáveis. Pais doentes mentalmente, abusadores e negligentes vão gerar filhos conflituados e deficitários. Genéticas desfavoráveis criam temperamentos doentios. Ninguém escapa das imposições da vida.

Quanto é possível mudar? A humildade faz bem, porque dimensiona as probabilidades e prenuncia as possibilidades. Mudanças discretas, mas valorosas, a longo prazo, através da psicoterapia, a convivência com pessoas e ambientes corretivos, a interação emocional positiva e encorajadora, são fatores importantes na reestruturação almejada. Entretanto, a sorte de um início menos conflituoso e menos deficitário, facilita o resultado final.

Cabe a cada pessoa fazer um inventário pessoal, buscando identificar seus déficits e seus conflitos. Nos déficits, cada aquisição e aprendizagem  são uma capacitação extra. Nos conflitos, cada flexibilização de crenças rígidas é uma conquista pessoal, na busca de harmonização interior e exterior e melhor convivência interpessoal.

Quais são os seus déficits? Os medos, as inseguranças, as vergonhas, os comportamentos desajeitados e derrotistas estão aqui.

Quais são os seus conflitos? As revoltas, as raivas, as brigas, a vitimização pessoal , as dramatizações infantis estão aqui.

Somos o resultado dinâmico , mas solidamente estruturado e identificado, de uma sucessão de déficits e conflitos. A mente humana é feita dessas duas interfaces. Reforçar os potenciais e enfraquecer os conflitos é um caminho salutar no desenvolvimento humano bem-sucedido. Enredar-se numa das duas faces ou nas duas é estar mentalmente enfermo. É estar neurótico. É estar psicótico.

Os tratamento visa à promoção do equilíbrio mental, não a perfeição, porque nenhuma escultura humana é perfeita. A genialidade do artista modifica-se conforme cada cultura ou pessoa que observa. A busca da perfeição é uma patologia mental em si mesma. A ocupação despreocupada e irresponsável  com imperfeições é uma patologia mental autoevidente na nossa sociedade. A cada um cabe resgatar o seu melhor e minorar o seu pior, se considerar a vida uma oportunidade de evolução. 


sábado, 3 de setembro de 2011

Preocupações Excessivas e Ruminações Mentais

O cenário é conhecido. Quem não passou uma noite sem dormir, pensando em problemas? O sono não vem, as preocupações aumentam, você levanta, vai tomar uma água, tenta ler um livro soporífero, mas nada funciona. Então você vai até armário da sua avó e "pega emprestado" um remedinho para dormir. Ainda demora um pouco, mas finalmente adormece. No dia seguinte , você tem outro problema, não consegue levantar e fica sonolento o dia inteiro.

De acordo com as bases biológicas e neuroquímicas, os benzodiazepínicos(BZD) ocupam receptores gabaérgicos , distribuídos no cérebro , com propriedades depressoras do Sistema Nervoso Central(SNC). Esses medicamentos aumentam o influxo de íons cloro nos neurônios, causando um bloqueio do potencial de ação, o que impede os disparos neuronais. O mecanismo produz então efeito hipnótico, relaxante muscular, ansiolítico e  anticonvulsivante.

Esses medicamentos são úteis se bem escolhidos pelo médico e usados por períodos curtos para corrigir as insônias que acompanham os  diferentes transtornos mentais. Entretanto, o uso prolongado, sem a supervisão médica, leva à dependência física e mental, com efeito rebote, nas tentativas abruptas de suspensão do uso. Também é bastante comum os pacientes perambularem por diferentes médicos em busca da sua receita azul.

Existem pessoas que sofrem demasiadamente com preocupações excessivas e ruminações mentais. Esses padrões de funcionamento mental podem acometer a todos em vários momentos de nossas vidas, frente a estressores internos e ambientais. Quando esses padrões mentais se tornam frequentes e intensos, estamos diante de um funcionamento anormal, com sofrimento psíquico e físico prejudiciais ao bem-estar do indivíduo.

O que pode desencadear essas preocupações excessivas e ruminações mentais?

As principais causas são os trantornos mentais do cluster dos Transtornos de Ansiedade e também os traços de Personalidade Anancástica( obsessivo-compulsiva). Obviamente que outras condições mentais e psicológicas produzem uma gama de sintomas, dentre os quais as preocupações e ruminações, mas para fins de compreensão geral, vamos focalizar esses dois transtornos principais.

Preocupações Excessivas são ideias, pensamentos, imaginações, medos , que antevem perigos reais ou imaginários. A emoção primária frente ao desconhecido ou a desfechos arriscados, que infligem dor ou perda futura, é a ansiedade. As preocupações excessivas compõem o que denominamos ansiedade psicológica. "Anxious", de onde deriva o vocábulo ansiedade, significa, aperto, asfixia, angústia. O termo é adequado, pois além dos pensamentos antecipatórios negativos e catastróficos que acompanham as preocupações excessivas, pode haver sintomas físicos , o que denominamos ansiedade somática, e incluem palpitações, sudorese nas mãos e pés, tensão muscular, dores no corpo, dificuldades de digestão, aperto no peito, falta de ar e tremores.

Ruminações Obsessivas são as preocupações excessivas  em nível mental, repetitivos, circulares e recalcitrantes,  de diferentes conteúdos, constantes , que invadem e ocupam toda a reserva mental. As ruminações obsessivas não cessam com a argumentação lógica interna ou externa que demonstram  a improbabilidade dos cenários temidos. O indivíduo continua a ter pensamentos parasitários, sempre envolto por dúvidas, medo de perdas e riscos. O sofrimento leva a um esgotamento de neurotransmissores importantes para o bom funcionamento mental. Essa "desmoralização" silenciosa vai enfraquecendo os mecanismos de defesa psicológica, levando a várias doenças mentais, entre elas os transtornos depressivos e ansiosos. Em nível corporal( fisiológico), o pensamento tem o poder de ativar diferentes cascatas hormonais, como o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, com dois hormônios do estresse- cortisol e adrenalina, deletérios para o equilíbrio psicofísico( homeostase) a longo prazo.

Nenhuma pessoa é imune a preocupações e ruminações. Mas se essas condições se tornam crônicas, a busca de tratamento médico é recomendada. Há duas abordagens complementares. Uma abordagem é a prescrição de medicamentos que vão regular os níveis de neurotransmissores responsáveis pelos sintomas psicológicos e físicos. Além dos benzodiazepínicos já citados, os antidepressivos inibidores da serotonina possuem uma ação bloqueadora de receptores serotoninérgicos, reduzindo a ansiedade, a irritabilidade, as preocupações e  as obsessões. Mesmo com a redução dos sintomas, muitos outros resistem à melhora, pois estão na estrutura de personalidade e não somente na neuroquímica anormal. Neste caso, a intervenção com técnicas cognitivo-comportamentais e técnicas de relaxamento são indicadas.

A associação medicamentos e psicoterapia produzem resultados sinérgicos e funcionam melhor do que aplicados isoladamente. Em casos de manifestação ansiosa aguda, os medicamentos têm ação mais rápida e  aliviam o sofrimento. Em casos de constituição de caráter, a abordagem das crenças irracionais subjacentes à produção de sintomas torna-se o foco de tratamento. Tratar a causa produtora das preocupações e ruminações produzirá benefícios a médio e longo prazo, prevenindo novas emoções similares no futuro. Uma vez aprendida a lição, as estratégias de enfrentamento em situações similares no futuro, provam ser capazes de controlar os sintomas.