sábado, 5 de novembro de 2011

Superestresse

"Superestresse" é um termo surgido  nos Estados Unidos recentemente e citado por alguns estudiosos para caracterizar o estado de constante desgaste físico e mental em que se encontram as pessoas na sociedade atual. Há um aumento do grau de estresse nunca visto na história da humanidade. Esse tipo de estresse transformou-se numa enfermidade que atinge o estilo de vida, principalmente pela hegemonia tecnológica. Estimativas indicam que a internet dissemina 200 bilhões de emails e publica 75 milhões de postagens em blogs todos os dias. A cada minuto, 8 bilhões de webpages são criadas. São publicados mais 500 mil novos livros por ano. Há um "overload" de informações bombardeadas simultaneamente.

O estresse é silencioso e mortal. Ninguém está  imune. De acordo com dados do National Institute of Health, mais de noventa por cento das consultas médicas estão ligadas direta ou indiretamente ao estresse. Vivemos numa sociedade atrelada a multitarefas, o que é prejudicial para o cérebro depois de uma certa medida. Adicionados a isso, fatores externos como  problemas financeiros e sobrecarga de trabalho aumentam mais o estado crônico de estresse. A mente e o corpo não estão conseguindo lidar com esse ambiente danoso e administrá-lo adequadamente. Então, começam a sucumbir por doenças físicas e mentais, que aumentam vertiginosamente.

Em contraste com a sociedade pré-moderna, onde  estresse era uma resposta esporádica através do mecanismo clássico de  "lutar ou fugir", isto é , manifestava-se como estresse agudo. Atualmente vivemos numa sociedade com 7 bilhões de habitantes, milhões de carros nas ruas, congestionamentos, aparelhos celulares tocando a todo instante, num regime de autoescravidão portátil, milhões de tragédias, guerras  e crises dramatizadas pela mídia, subnutrição voluntária, por pressão do tempo e escolha de produtos industrializados, repleto de corantes e conservantes, consumo excessivo de refrigerantes, excesso de drogas de abuso e álcool. Todo esse cenário cria um estado de estresse crônico. Levado às últimas consequências, sem cessar, produz o "superestresse". O mecanismo de "luta ou fuga" fica ativado continuamente, produzindo a exaustão orgânica.

Hormônios do estresse, a adrenalina e o cortisol, são bombeados na sua corrente circulatória, produzindo um estado de alerta permanente, com aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial, do tencionamento muscular e da liberação de glicose. A sua digestão piora e o seu sistema imunológico enfraquece. Essas alterações fisiológicas antecedem a instalação de doenças crônicas. O aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial causam eventos cardiovasculares, o tencionamento muscular causa dores e distúrbios posturais, o aumento da glicose  causa diabetes, o enfraquecimento do sistema imunológico aumenta o risco de infecções sistêmicas e do câncer. A adrenalina é tóxica para o organismo, produzindo um estado de inflamação generalizada, que vai lesar diferentes sistemas: coração, articulações e cérebro. Quando ocupa os receptores cerebrais na região hipocampal, produz atrofia  e o consequente déficit de memória. Quando atinge as articulações, causa artrites.

As pessoas ficam irritadas, vulneráveis a desequilíbrios hormonais e a neurotransmissão cerebral sofre colapsos, podendo produzir transtornos psiquiátricos, principalmente ansiedade, ataques de pânico e depressão. O consumo do álcool aumenta para tentar "minimizar " esses estados de humor desagradáveis e os índices de alcoolismo disparam. Você começa a dormir mal, com desregulação dos ritmos biológicos e o seu metabolismo fica comprometido, levando ao ganho de peso e à obesidade.

Esse ritmo de vida acelerado causa um desequilíbrio interno e externo. A velocidade das mudanças e o bombardeamento cerebral por estímulos incessantes produz desatenção e hiperatividade, fazendo com que as percepções se tornem incompletas e não sejam apreciadas na sua velocidade normal. É como um carro em alta velocidade. A paisagem passa tão rapidamente, que enxergamos apenas um borrão, as árvores viram traços e as pessoas se transformam em vultos. Muitos defendem a desaceleração desse processo, através de iniciativas como a "slow foods"  em contraste com os "fast foods", preferidos em intervalos curtos para as refeições. Dizer NÃO ao "Superestresse" envolve viver a vida mais em "camêra lenta".

Em resumo, as doenças mentais e físicas estão crescendo como subproduto do Superestresse. Combater o "Superestresse" é atuar na causa primária de muitas doenças crônicas. Para isso, cada pessoa precisa compreender esses mecanismos explicados no post  para neutralizá-los. Obviamente que o estresse não é a causa de todas as doenças, mas está envolvido direta ou indiretamente.

Para evitar as consequências do "Superestresse", é hora de cuidar da sua alimentação, praticar exercícios físicos moderados, aprender a respirar adequadamente, diminuir a sobrecarga laborativa, investir tempo em lazer produtivo, evitar "pessoas negativas" e buscar tratamento sempre que perceber desequílibrios na sua funcionalidade e na sua autoeficácia frente às demandas cotidianas.







Um comentário:

  1. A questão é: com jornadas de trabalho absurdas, com meios que conhecem o superestresse melhor do que qualquer outro (como o meio médico) e seguem nos cobrando, como diminuir o superestresse? Impossível fazer isso, quando não se tem hora para dormir, feriado livre, onde a perfeição é exigida, onde se mostra hierarquia através de humilhação e ainda se enfrenta trânsito e os demais "fantasmas" da vida moderna!! O mesmo se aplica a corretores da bolsa, jovens advogados, administradores, onde tudo funciona à base da humilhação tb... "suporte quieto, respeite a hierarquia"... Complicado reverter isso, considerando que se disseminou um modo errado de funcionar da sociedade como um todo, onde se confunde autoridade com tirania e maus-tratos aos subalternos, onde se exige uma produção desumana, uma perfeição que não existe, onde se nega que o funcionário tenha vida pessoal e social, não achas? A partir do momento em que tudo funciona sobre uma base distorcida, não vejo solução a curto prazo para instituir mudanças, sem primeiro modificar essa base problemática!

    Bom texto. (:

    ResponderExcluir