domingo, 21 de outubro de 2012

"Highlights" no Congresso Brasileiro de Psiquiatria 2012


O Congresso Brasileiro de Psiquiatria aconteceu em Natal, RN, entre os dias 10 e 13 de outubro de 2012.Compareceram ao evento 6000 psiquiatras, de todo o Brasil e do exterior.

Foi o  evento mais  organizado dos últimos anos. Havia espaço físico suficiente, o que permitiu a circulação livre e confortável dos participantes, uma distribuição equilibrada de temas, sem sobreposição exagerada de horários e um alto nível científico.


RESPONSABILIDADE SOCIAL

O primeiro aspecto é o empenho da atual diretoria da ABP em promover a consciência social acerca dos transtornos mentais e a importância da Psiquiatria. Nas palavras do presidente Antônio Geraldo da Silva, no bate papo com o apresentador esportivo da TV Bandeirantes, Luciano do Vale, " a psiquiatria é a porta de entrada da saúde mental, através da prevenção, não a UTI da saúde mental". Na sua conversa com Luciano do Vale , fica evidente que o espaço pertencente à  psiquiatria enfrenta resistências  na sociedade e isso impede que os pacientes sejam adequadamente tratados. Luciano do Vale falou abertamente que acredita que a "psiquiatria deveria conquistar mais espaço nos meios de comunicação", para conscientizar a população brasileira sobre os transtornos mentais prevalentes. A participação de Luciano do Vale, Maurício Mattar e Luciana Vendramini foi a interface entre o mundo científico e o mundo artístico. Esse diálogo visou à dismistificação dos transtornos mentais, que atingem a todos na sociedade, através do testemunho de pessoas públicas e famosas. Quando lidamos com a ignorância e desinformação arraigadas no Brasil referente à Saúde Mental e outros temas, essa iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria( ABP) de convidar artistas  é um marco significativo e um exemplo de mudança de mentalidade que precisa ser estimulado nas pessoas. Essa iniciativa surgiu no ano passado no RJ e deverá seguir nos próximos congressos , agregando novos exemplos corajosos de pessoas famosas, até que a população brasileira reconheça  a psiquiatria como uma especialidade médica, que tem  legitimidade científica para pesquisar e contribuir com a saúde da população. Já não se admite mais acreditar que psiquiatra é " médico de louco", e com esse rótulo pejorativo negar assistência urgente à nossa sociedade. Luciano do Vale chegou a dizer que o " psiquiatra é um amigo, com quem você pode conversar sobre os seus problemas e angústias. Todos deveriam ter acesso ao psiquiatra desde cedo." Ele defendeu essa postura não somente no esporte , para jovens talentos,  mas também nas famílias.

Vários lemas ecoaram nos corredores , entre eles  " Psicofobia é crime", isto é,  o preconceito contra pessoas com transtornos e deficiências mentais, é crime. Craque que é craque não usa crack", na luta contra o  avanço da epidemia da dependência química e como um  alerta  da ineficácia das políticas públicas no controle desse avanço.


MUDANÇAS DIAGNÓSTICAS EM 2013

O segundo aspecto foi a conferência do Professor Dr Luis Rohde, professor Titular de Psiquiatria da UFRGS e representante brasileiro no comitê internacional de elaboração dos novos critérios diagnósticos do DSM-5 e CID 11, na seção Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Ele nos brindou com uma visão panorâmica da evolução diagnóstica na psiquiatria, a situação esperada a partir de 2013 e as perspectivas para os próximos 10 anos. Falando nas "promessas" no início do processo de elaboração dos manuais diagnósticos há 4 anos e o que vai ser entregue efetivamente, " foram mais promessas que mudanças". Os avanços científicos no momento presente não permitem uma mudança significativa nos atuais manuais diagnósticos. Ele antecipa que haverá mudanças pouco substantivas na versão final desses manuais. "A possibilidade de mudanças mais significativas deverá ocorrer nos próximos dez anos." Ele acredita que o avanço da genética, neurobiologia e neuroimagem estarão na vanguarda dessas mudanças. Por fim, depois de uma brilhante explanação, nos revelou que há muitos interesses, além dos científicos, influenciando a elaboração dos manuais, entre eles as restrições do sistema de saúde americano e o movimento da antipsiquiatria e da cientologia contra essas mudanças.

Muitos temas foram discutidos, a informática na psiquiatria, o cyberbullying, o tratamento do crack, a integração da Psiquiatria, a ciência e prática clinica, entre outros. Muitos cursos foram disponibilizados em farmacologia avançada e psicoterapia, mesas redondas e uma seção " Como eu trato", coordenada pelos maiores estudiosos e especialistas das principais subáreas diagnósticas da psiquiatria.


INTERESSE NA LEGALIZAÇÃO DA MACONHA

Finalmente, houve uma discussão sobre os prós e contras da Maconha. O auditório Genipabu ficou lotado, com a presença de mais de 400 congressistas.O psiquiatra e psicanalista Sérgio de Paula Ramos enfatizou a situação preocupante da maconha como droga de iniciação juvenil. Segundo ele, " ha provas inequívocas de que a maconha faz mal na adolescência. Causa prejuízo no desempenho escolar, dependência, aumento de envolvimento com outras drogas, sintomas psicóticos, esquizofrenia e depressão."
Sérgio de Paula Ramos alerta que a liberação da maconha provocaria o aumento do consumo, porque o adolescente vai achar que o risco é menor. Ele convidou  todos a refletir: " a quem interessa a legalização da maconha?". Ele especula que a indústria do tabaco, que perdeu grande espaço nos últimos tempos, poderia ser a principal interessada. " Passou um século e agora estamos batendo na mesma tecla, com um tipo diferente de cigarro."

terça-feira, 10 de julho de 2012

100 000 Visitantes!


O blog Neurônios e Saúde Mental  alcançou a marca de 100 000 visitantes! Estamos muito felizes com essa conquista, pois acreditamos que a informação qualifica as decisões dos pacientes na hora de entender as patologias psiquiátricas.

Nos últimos anos tem crescido o interesse da população em buscar tratamento para doenças antes consideradas como "defeitos de caráter " ou "defeitos de vontade". Hoje temos diagnósticos mais acurados e recursos terapêuticos modernos. Obviamente que a neurociência e  a psiquiatria estão na infância, mas grandes avanços foram possíveis nesses anos.

O blog completa ,em agosto, apenas 3 anos de vida. E ganhamos esse presente dos leitores e seguidores do blog, dos pacientes e curiosos, enfim, de todos que dão uma espiadinha ou mesmo leem além do básico em busca constante de atualização pessoal e profissional.

Temos um imenso orgulho de contribuir com informações e conhecimentos, além da experiência clínica( para evitar o academicismo exagerado) nesse processo. Temos recebido postagens de todo o Brasil, perguntas, solicitações de ajuda para esclarecimento e realização de trabalhos, convite para entrevistas, participação em artigos em revistas nacionais e citação na mídia. Tudo isso é possível porque você lê, você divulga e você alavanca esse trabalho.

A você, meu leitor amigo, meu muito obrigado! Aos seguidores( 181 deles) ou quem quiser ser seguidor fica o convite de continuarem fomentando esse crescimento, indicando para amigos e parentes. O blog só é possível porque existem as pessoas que o demandam! Vejo que outros blogs perderam o fôlego no caminho e até desistiram. Nosso propósito é continuar adiante em busca da máxima longevidade possível. Enquanto isso for vontade dos leitores, continuaremos!

E em sinal de agradecimento aos seguidores do blog , no mês de agosto estaremos distribuindo 30 livros para os seguidores que estiverem interessados. Quem quiser, envie um e-mail para ferrmarpsi@bol.com.br, com endereço para entrega. O livro será gratuito, apenas será cobrada a taxa de entrega( 10,00 reais) se for fora da cidade de Santa Maria. Os primeiros 30 seguidores ganham o livro " As Duas Inteligências".

Nossa meta é alcançar 210 seguidores até o fim de agosto. Os próximos seguidores cadastrados a partir de hoje( 181 até 210), poderão escolher um  livro : " Vestibular , A Maratona pelo 1° Lugar" ou " As Duas Inteligências" , gratuitos. Só será cobrada a taxa de envio dos correios de 10,00, se for fora de Santa Maria. Os interessados podem escrever para o mesmo e-mail supracitado.

domingo, 15 de abril de 2012

Fibromialgia


A fibromialgia é um distúrbio doloroso crônico que se caracteriza por dores musculares generalizadas, rigidez e cansaço, além de outros sintomas locomotores. Acomete mais mulheres( 9: 1), aparecendo em todas as idades, embora o quadro tende a se manifestar mais frequentemente a partir da quarta ou quinta década de vida. Das doenças reumatológicas, é segunda mais comum, com prevalência de 2,5 % da população brasileira, logo após a osteoartrite.

As primeiras descrições históricas foram documentadas em 1843 na Alemanha, quando Froriep descobriu pacientes com pontos rígidos nos músculos, dolorosos à digitopressão. No início do século XX, o quadro recebeu o nome de miosite intersticial, evoluindo para fibrosite em 1904. Nessa época outros sinais patológicos foram identificados, além da dor, como a presença de fadiga, ausência de sinais inflamatórios e sono conturbado. Os sintomas pioravam com a exposição ao frio ou esforço muscular excessivo. Durante seis décados o transtorno ficou reputado por alguns como dor muscular de origem inflamatória e por outros como tensão ou "reumatismo psicogênico". As biópsias e estudos histopatológicos não revelavam lesão inflamatória.

O termo fibromialgia foi introduzido na literatura em 1977, quando se identificaram os tender points , pontos sensíveis à digitopressão. Foi observado distúrbio na arquitetura do sono, estágio 4 do sono Não REM. Posteriormente um comitê multicêntrico, composto por reumatologistas americanos, estabeleceu os critérios diagnósticos em 1990. Os critérios exigiam a presença de dor afetando o esqueleto axial e periférico, acima e abaixo da linha de cintura, além do achado de 11 dos 18 tender points específicos.

Estudos epidemiológicos , nos EUA, detectaram a prevalência de 3,5 % em mulheres e 0,5% em homens na população geral acima de 18 anos de idade. Vários outros países estudaram a prevalência do transtorno na população, sendo alguns resultados conhecidos: Noruega- 10,5 %, Inglaterra, 3,3 % Canadá, 2 % , Rússia - 13,3%.

A causa da doença permanece desconhecida. A maioria dos pacientes não identifica fatores desencadeantes ambientais. Quando há relação temporal com o surgimento dos sintomas, os principais eventos são trauma de acidentes automobilísticos, estresse emocional e infecção viral( Hepatice C, HIV, parvovirose, candidíase e coxsackie). Mas não se firmou nenhuma causa como responsável etiológica da síndrome.

A microscopia dos tecidos musculares não mostram alterações significativas em relação às pessoas não
acometidas. Cerca de 80 % dos pacientes apresentam níveis mais baixos de condicionamento aeróbico. Portanto, anormalidades metabólicas e diminuição de oxigenação dos tecidos musculares parecem exercer influência na dor nos tender points.

Hipóteses atuais ressaltam mecanismos centrais na modulação ou amplificação da dor no surgirmento da fibromialgia. Haveria um descontrole dos mecanismos centrais do controle da dor, resultante da disfunção de neurotransmissores, principalmente os neurotransmissores inibitórios em níveis espinhais e supraespinhais( serotonina, encefalina e norepinefrina) ou hiperativação dos neurotransmissores excitatórios( glutamato, substância P, bradicinina e peptídeos).

A vulnerabilidade à fibromialgia é influenciada por fatores genéticos, ambientais e hormonais, produzindo alterações neuro-hormonais, com desequilíbrio do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. A qualidade do sono contribui para intensificação dos sintomas fibromiálgicos, pois já se conseguiu induzir sintomas de fibromialgia-like em pessoas saudáveis , após perturbação do sono. Mecanismos envolvendo o neurotransmissor serotonina explicariam uma gama de alterações na fibromialgia, como aumento da sensibilidade à dor, anomalias no sono , depressão e liberação da substãncia P.

Os Exames de neuroimagem funcional demonstraram diminuição do fluxo sanguíneo em regiões bilaterais do tálamo e núcleo caudado( envolvidos na integração e percepção de sinais dolorosos e regulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal). Demonstrou-se também redução do fluxo sanguíneo em regiões corticais parietais e fronto-temporais, denotando um possível déficit primário ou secundário em nível do Sistema Nervoso Central. Em suma, diversas anormalidades estão presentes na fibromialgia, nenhuma delas é patognomônica para o diagnóstico, mas ajudam a entender os mecanismos fisiopatológicos subjacentes.

O sintoma principal é a dor músculo-esquelética difusa e crônica, que geralmente inicia num sítio anatômico- particularmente  região cervical e membros superiores- e depois se generaliza. A dor é em queimação, contusão ou peso, pode irradiar-se. Os pacientes queixam-se de cansaço , já percebido ao despertar e com piora no fim da tarde. Nesse caso, deve-se estar atento para uma outra comorbidade, a síndrome da fadiga crônica. Apresentam rigidez muscular e articular, com limitação da amplitude dos movimentos. O sono costuma ser perturbado, com muitos despertares noturnos, o que o impede de ser restaurador.

Diversas especialidades médicas atendem pacientes portadores de fibromialgia, devido à heterogeneidade de sintomas. Em 50 % dos casos os pacientes manifestam cefaleia tensional e enxaqueca. Além disso,apresentam constipação crônica, síndrome do cólon irritável, dormência em membros superiores, disúria, polaciúria, desconforto urinário, tonturas, zumbidos, dismenorréia, dificuldades de digestão, memória e concentração.

Muitos autores consideram a fibromialgia como uma subvariante da doença depressiva ou  um distúrbio do espectro afetivo. Mais de 50 % do pacientes com fibromialgia apresentam precedentes depressivos na sua história psiquiátrica. Apesar disso, a tendência atual é considerá-la uma afecção reumatológica comum em pacientes com transtornos psiquiátricos, devendo todos os quadros nosológicos serem considerados  independentes  e tratados simultaneamente.

Não existe um tratamento único, cada caso clínico  dependerá de uma abordagem multidisciplinar. O prognóstico é reservado. Apesar dos avanços e das melhoras clínicas observadas nos últimos anos, a maioria dos pacientes mantém sintomas residuais a longo prazo. Deve-se estimular a evitação de fatores agravantes e contribuitivos, como estresse emocional e hábitos de vida pouco saudáveis( etilismo, tabagismo), além de tratar os distúrbios psicogênicos associados. Atividades físicas regulares envolvendo alongamento e exercícios aeróbicos, como natação e caminhadas, são bem tolerados. A prática da Ioga , meditação e o apoio complementar de fisioterapia ajudam a minorar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.

Muitos recursos farmacológicos estão disponíveis atualmente tanto para o tratamento da dor , como das condições clínicas associadas.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

TDAH- Modismo e Realidade

O TDAH( Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) é considerado modismo por uns   e realidade por outros. Então, TDAH é modismo ou realidade?

A minha resposta é ambos.

O TDAH é modismo quando  pseudodiagnosticado por instrumentos não validados, opiniões subjetivas e avaliações moralistas e preconceituosas.

O TDAH é realidade quando diagnosticado através de instrumentos validados, comprovação clínica indubitável e corroborado por dados científicos robustos.



Os adeptos do modismo se encontram em dois extremos: 1) aqueles que negam a existência do transtorno, dizendo que é mais uma invenção dos médicos, psicólogos e psiquiatras. Que estão "superdiagnosticando" e "rotulando" crianças sapecas de hiperativos. Dizem que há um excesso de prescrição de ritalina. Infelizmente os meios de  comunicação de massa disseminam essa distorção em pleno horário nobre, fazendo a  população confundir-se ainda mais.

2) No outro extremo, estão as pessoas que usam ritalina por conta própria e risco para "turbinar" o desempenho profissional e acadêmico, "para aumentar a inteligência", para combater o "excesso de sono" durante as longas jornadas de estudo ou trabalho.

Os modismos possuem características comuns. São leigos ou profissionais de saúde que não estudam o transtorno diretamente, nem possuem expertise para opinar dentro dos parâmetros aceitos pela comunidade científica internacional. E sem dados científicos, pululam opiniões e "achismos". São generalizações de crenças pessoais não chanceladas pela  pesquisa científica.

Os adeptos da realidade( na qual procuro me inserir constantemente) são diferentes profissionais da área de saúde, incluindo psiquiatras, neurologistas, psicólogos, psicopedagogos, educadores, além de familiares e pacientes, que vivenciam o transtorno no dia-a-dia, seja sofrendo as suas repercussões ou as tratando. 

Neste grupo há troca de informações atualizadas, oriundas da pesquisa científica séria. Aqui sabemos da existência do TDAH por dentro e por fora. Aqui sabemos que não existe excesso de prescrição de ritalina, inversamente a isso apenas 5 % dos portadores do transtorno são adequadamente diagnosticados e tratados. A falácia do "excesso de ritalina" decorre da contagem do número de comprimidos/dia, já que a dose de 10mg precisa ser tomada de 4/4h para manter os níveis sanguíneos estáveis.

Nessa desinformação, os pacientes verdadeiramente portadores são prejudicados. Demoram para receber ajuda especializada e sofrem os danos do transtorno. Vão acumulando perdas pessoais, baixa autoestima, prejuízos acadêmicos e profissionais e dificuldades nos relacionamentos. Mas aqueles que buscam uma avaliação adequada, podem mudar substancialmente a qualidade de suas vidas, acessando recursos cerebrais e mentais que estavam aprisionados. A vida passa a ser mais leve, mais fluida e produtiva em todos os aspectos.

O TDAH é um transtorno neurobiológico, com forte influência genética, que inicia na infância e pode persistir na vida adulta. Há três variantes do transtorno: hiperatividade, desatenção, impulsividade e características mistas. Trata-se de um diagnóstico dentro de um espectro de intensidade. Não é um diagnóstico categorial estritamente, mas um  gradiente de leve, moderado ou grave. Da mesma maneira que o acúcar no sangue é normal até um determinado nível, ter alguns sintomas de hiperatividade e desatenção não constitui uma doença, mas depois de um patamar mínimo torna-se patológico. O acúcar sanguíneo depois de um patamar é indicativo de  diabetes, analogamente falando.

Entre as consequências negativas do TDAH não tratado estão: dificuldades de aprendizagem , atraso acadêmico, dificuldades de socialização, aumento da suscetibilidade a acidentes, maiores taxas de desemprego e divórcio, maior incidência de uso e abuso de drogas, depressão e outros transtornos mentais.

Check list rápido:( apenas para despertar a suspeição, não tem validade diagnóstica). Você apresenta algum sinal ou sintoma abaixo?

__ Envolve-se excessivamente em atividades e /ou trabalhos
__ Considera-se um workaholic
__ Nunca para quieto
__ Está sempre fazendo alguma coisa
__ Sempre procurando algo para fazer
__ Dificuldade de esperar em filas
__ Abuso de velocidade
__ Interrupção abrupta de uma conversa e interrupção dos outros interlocutores
__ Dificuldades de memória
__ Dispersão com barulhos externos e sensação de" estar aéreo"
__ Dificuldade de memorizar leituras
__ Perda de objetos, atraso em compromissos
__ Hábito de procrastinar e desorganização

O diagnóstico do TDAH é essencialmente clínico e através de escalas validadas. Não existem exames para detecção do transtorno. Procure um profissional especializado para receber o diagnóstico adequado e excluir a possibilidade de comorbidades( outros transtornos simultâneos).

domingo, 22 de janeiro de 2012

Desenvolvimento Infantil e Resiliência Psicológica


A Resiliência Psicológica é um conceito que significa a capacidade de recuperação de situações estressoras com o potencial de causar danos psicológicos e aumento de suscetibilidade para doenças mentais.

O termo "resiliência" é emprestado da Física e se refere à capacidade que  alguns materiais  possuem de se dobrar, sem sofrerem fraturas, voltando ao estado original, depois de cessada a força mecânica. Analogamente, algumas pessoas são mais ou menos resilientes, elas sofrem o impacto dos estressores ambientais e não se quebram, isto é, não adoecem ou se recuperam mais rapidamente dos reveses.

Pesquisas demonstram que há fatores genéticos envolvidos no grau de resiliência de cada pessoa. Esses fatores sofrem a influência do meio ambiente, produzindo uma estrutura de personalidade.

Essa interação genética-meio ambiente começa no útero materno e se estende durante a infância até o fim da vida. Mas o período da infância é crítico para o desenvolvimento da resiliência. Existem crianças que parecem ter uma maior capacidade de sobrevivência , independentemente das condições adversas do meio ambiente. São psicologicamente resistentes. Outras crianças são mais sensíveis ao ambiente, sofrendo repercussões exacerbadas na sua estrutura mental, conforme os cuidados parentais. Quando negligenciadas sofrem desestruturação de personalidade, adoecem e definham. Mas se forem cuidadas com esmero, sobrevivem e prosperam.

Já foram descobertos genes envolvidos nessa sensibilidade infantil. Esses genes influenciam enzimas e receptores neuroquímicos, que na combinação com o estresse ambiental, disparam gatilhos para o desencadeamento de  transtornos de humor e comportamentos disfuncionais.

 Um gene chamado CHRM2, vinculado à dependência alcoólica e pertencente ao mesmo grupo dos comportamentos disruptivos, distúrbios de conduta e comportamento antissocial, foi  investigado pela Universidade da Comunidade Virgínia. O registro genético de 400 meninos e meninas acompanhados por mais de quinze anos mostrou que  certas variações no gene CHRM2 interagem com a negligência parental, produzindo comportamento indesejáveis na adolescência, principalmente delinquência e agressividade. Essa variação genética quando encontrava pais atenciosos e amorosos produzia resultados opostos. Nessa mesma pesquisa, crianças vulneráveis geneticamente tornavam-se menos propensas a brigar , por exemplo, ao serem criadas por famílias saudáveis, que forneciam atenção e carinho. O gene CHRM2 também está envolvido em casos graves de depressão e influencia  habilidades cognitivas.

Então o cuidado parental é importantíssimo para desligar( epigenética) os genes responsáveis por essa vulnerabilidade aumentada para comportamentos disruptivos.

A Resiliência não é a capacidade de negar os estressores. Na verdade, é justamente a capacidade de lidar com os estressores com mais competência. É buscar reparações para as perdas e lutos. Ser resiliente é encontrar algo " positivo" numa experiência negativa, principalmente o aprendizado que fica. Estudos com gêmeos, conduzidos pela Universidade de Western Ontário, no Canadá, envolvendo 219 pares de gêmeos, encontrou  as contribuições genéticas e ambientais mais relevantes na resiliência mental:

__ O comprometimento com projetos pessoais;
__ Controle sobre a própria vida;
__ Autoconfiança;
__ Disposição para encarar desafios.

O resultado da pesquisa demonstra que 52 % da variável resiliência mental é herdada geneticamente. Agora podemos compreender melhor as diferentes reações das pessoas quando se defrontam com frustrações, como separação amorosa, resolução de dificuldades financeiras, superação de doenças graves, aprovação no vestibular e outros desafios. Essa diferença pode determinar o resultado  da trajetória de vida, pela influência direta nas escolhas e nas estratégias que conduzem à perseverança ou degeneram em desistência.

sábado, 14 de janeiro de 2012

A Endocrinologia do Cérebro


A Endocrinologia é a especialidade médica que estuda os hormônios e suas ações no organismo.

Hormônios são moléculas que sinalizam intenções fisiológicas em células-alvo através da corrente circulatória.

No cérebro a comunicação interneuronal se faz através de sinalização eletroquímica basicamente, mas também através da ação hormonal. Alguns neurotransmissores funcionam como hormônios, enquanto alguns hormônios funcionam como neurotransmissores.

Os neurônios são conexões na forma de fios que alcançam outras conexões e sinalizam potenciais de  ação através de ordens neuroquímicas( neurotransmissores). Os hormônios funcionam mais como "ondas" que atingem receptores específicos a distância.

A epinefrina , por exemplo, é um neurotransmissor em nível cerebral e um hormônio em nível periférico. Os hormônios influenciam também a ação dos neurotransmissores. O neurotransmissor GABA( inibitório) sofre a influência dos hormônios esteroides. Quando o hormônio feminino progesterona atua no GABA há um aumento do influxo de cloro para dentro das células, modificando a sinalização neuronal. Isso talvez explique a sensibilidade das mulheres à flutuação hormonal, com surgimento de síndromes psiquiátricas.

Os hormônios diferem dos neurotransmissores pois causam efeitos a longo prazo ,são secretados na forma pulsátil, variam conforme o relógio biológico( ritmo circadiano) e produzem seus efeitos de maneira diferente em diferentes órgãos.

Entre os três principais tipos de hormônios podemos citar, de acordo com sua estrutura química, os seguintes: hormônios proteicos, como os neuropeptídeos, os hormônios aminas, derivados de aminoácidos e os hormônios esteroides, derivados do colesterol.

Entre os hormônios proteicos estão a ocitocina, a vasopressina, os hormônios liberadores de outros hormônios, que atuam no eixo hipotálamo-hipófise, os hormônios trópicos, que atuam diretamente nos órgãos-alvo, como a tireóide, as suprarenais, os folículos ovarianos; os hormônios aminas são representados pela epinefrina, a norepinefrina , o hormônio tireóide e a melatonina; os hormônios esteróides são representados pelos estrógenos, as progestinas, os andrógenos, os glucocorticóides e mineralocorticoides.

As duas ações básicas dos hormônios nas células-alvo são: promover o crescimento e diferenciação e modular a frequência do seu funcionamento. Dependendo do tipo de hormõnio , o encaixe ocorre na parede das células, através da parede celular no interior das células, dando início à síntese de proteínas ou no núcleo celular.Em todos os casos o resultado final dessas cascatas são o efeito genômico, isto é, ativar determinados genes ou efeito não genômico, como em alguns neurônios, modulando os íons que controlam os disparos neuronais.

A hipófise e hipotálamo são as duas principais glândulas no cérebro. O hipotálamo é a central de comando, que integra informações acerca do estado do cérebro com informações oriundas do corpo provenientes da coleta de dados via projeção de neurônios ou quimioneurônios.Do hipotálamo partem as ordens para a hipófise, em resposta a alterações corporais e ambientais, conforme a necessidade de secreção ou não de hormônios regulares do equilíbrio fisiológico( homeostase).

Destacamos abaixo as principais funções desses hormônios:

__ Ajuste do fluxo sanguíneo
__ Regulação do metabolismo
__ Regulação da atividade reprodutiva
__ Resposta a ameaças
__ Controles do ritmos circadianos( relógio biológico).

A relação estreita entre cérebro e corpo se faz às expensas da ação integrada dos hormônios. Indivíduos depressivos, por exemplo, exibem hipecortisolemia, atrofia do hipocampo( região da memória) e prejuízo das funções cognitivas. Contrariamente, no transtorno de estresse pós-traumático( TEPT), o hormônio cortisol está baixo, predispondo o indivíduo a responder abaixo do esperado aos estressores, com resposta inflamatória e simpática excessivas. O cortisol também está baixo em patologias como fibromialgia e síndrome da fadiga crõnica. Doenças como hiper e hipotireoidismo também produzem sintomas psiquiátricos que se confudem com transtornos de humor e psicóticos, devido à similaridade sindrômica e alteração da taxa metabólica. No hipertireoidismo, há aumento da ansiedade, irritabilidade, agitação psicomotora e labilidade emocional. No hipotireoidismo há humor depressivo, ganho de peso, diminuição do desejo sexual, déficit de memória e até alucinações e delírios.

A Endocrinologia e a Psiquiatria precisam trabalhar em conjunto para o aprimoramento diagnóstico e controle de diferentes patologias que apresentam sobreposições clínicas.






segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Neurotransmissores e Transtornos Mentais

Os transtornos mentais são estudados a partir do vértice do desequilíbrio de substâncias químicas, os neurotransmissores, cuja alteração, produz sintomas clinicamente relevantes. A descoberta de medicamentos que corrigem esse desequilíbrio inaugurou uma nova fase no tratamento dos transtornos mentais, possibilitando o controle de uma parcela significativa deles, livrando o paciente do estigma da " falta de força de vontade". Surgiu a teoria monoaminérgica, onde as monoaminas( tipo de neurotransmissores) supostamente causam doenças através do seu desequilíbrio e se preconizou a partir dessa teoria a  utilização de medicamentos para executar o reequilíbrio neuroquímico.

Existem mais de cem neurotransmissores conhecidos, mas alguns são cogitados como causais das alterações patológicas.

Um neurotransmissor é uma substância  que é armazenada num neurônio pré-sináptico, depois é liberada entre os neurônios, a fenda sináptica, depois produz seus efeitos específicos ao se ligar a um receptor pós-sináptico, sendo o seu excedente recaptado pelo neurônio pré-sináptico. Os dois neurotransmissores em maior concentração cerebral são o glutamato e o GABA. O glutamato é um neurotransmissor excitatório, aumentando os disparos neuronais. O GABA, por outro lado, é um neurotransmissor inibitório, diminuindo a hiperexcitação neuronal.  O glutamato está envolvido em mecanismos de memória e também em doenças como a doença de Alzeihmer e morte neuronal pós-acidente vascular( pós-AVC). O GABA está envolvido com os mecanismos de controle do sono, da ansiedade e em doenças como epilepsia.

Em menor concentração, estão as monoaminas, divididas em duas classes: as catecolaminas: dopamina, norepinefrina e epinefrina e as indolaminas: serotonina e melatonina. Existem núcleos espalhados pelo cérebro, dos quais partem ramificações neuronais para diferentes regiões cerebrais, onde neurônios apresentam função predominantemente serotoninérgica, dopaminérgica , noradrenérgica ou melatoninégica. Acredita-se que os transtornos ansiosos, depressivos e desregulação do ciclo do sono-vigília envolvam esses neurotransmissores. O uso de antidepressivos e ansiolíticos manipula esses sistemas para produzir os efeitos terapêuticos, através do bloqueio da bomba de recaptação, produzindo uma concentração constante dos neurotransmissores na fenda sináptica, corrigindo o déficit causador ou promotor do transtorno.