O Congresso Brasileiro de Psiquiatria aconteceu em Natal, RN, entre os dias 10 e 13 de outubro de 2012.Compareceram ao evento 6000 psiquiatras, de todo o Brasil e do exterior.
Foi o evento mais organizado dos últimos anos. Havia espaço físico suficiente, o que permitiu a circulação livre e confortável dos participantes, uma distribuição equilibrada de temas, sem sobreposição exagerada de horários e um alto nível científico.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
O primeiro aspecto é o empenho da atual diretoria da ABP em promover a consciência social acerca dos transtornos mentais e a importância da Psiquiatria. Nas palavras do presidente Antônio Geraldo da Silva, no bate papo com o apresentador esportivo da TV Bandeirantes, Luciano do Vale, " a psiquiatria é a porta de entrada da saúde mental, através da prevenção, não a UTI da saúde mental". Na sua conversa com Luciano do Vale , fica evidente que o espaço pertencente à psiquiatria enfrenta resistências na sociedade e isso impede que os pacientes sejam adequadamente tratados. Luciano do Vale falou abertamente que acredita que a "psiquiatria deveria conquistar mais espaço nos meios de comunicação", para conscientizar a população brasileira sobre os transtornos mentais prevalentes. A participação de Luciano do Vale, Maurício Mattar e Luciana Vendramini foi a interface entre o mundo científico e o mundo artístico. Esse diálogo visou à dismistificação dos transtornos mentais, que atingem a todos na sociedade, através do testemunho de pessoas públicas e famosas. Quando lidamos com a ignorância e desinformação arraigadas no Brasil referente à Saúde Mental e outros temas, essa iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria( ABP) de convidar artistas é um marco significativo e um exemplo de mudança de mentalidade que precisa ser estimulado nas pessoas. Essa iniciativa surgiu no ano passado no RJ e deverá seguir nos próximos congressos , agregando novos exemplos corajosos de pessoas famosas, até que a população brasileira reconheça a psiquiatria como uma especialidade médica, que tem legitimidade científica para pesquisar e contribuir com a saúde da população. Já não se admite mais acreditar que psiquiatra é " médico de louco", e com esse rótulo pejorativo negar assistência urgente à nossa sociedade. Luciano do Vale chegou a dizer que o " psiquiatra é um amigo, com quem você pode conversar sobre os seus problemas e angústias. Todos deveriam ter acesso ao psiquiatra desde cedo." Ele defendeu essa postura não somente no esporte , para jovens talentos, mas também nas famílias.
Vários lemas ecoaram nos corredores , entre eles " Psicofobia é crime", isto é, o preconceito contra pessoas com transtornos e deficiências mentais, é crime. Craque que é craque não usa crack", na luta contra o avanço da epidemia da dependência química e como um alerta da ineficácia das políticas públicas no controle desse avanço.
MUDANÇAS DIAGNÓSTICAS EM 2013
O segundo aspecto foi a conferência do Professor Dr Luis Rohde, professor Titular de Psiquiatria da UFRGS e representante brasileiro no comitê internacional de elaboração dos novos critérios diagnósticos do DSM-5 e CID 11, na seção Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Ele nos brindou com uma visão panorâmica da evolução diagnóstica na psiquiatria, a situação esperada a partir de 2013 e as perspectivas para os próximos 10 anos. Falando nas "promessas" no início do processo de elaboração dos manuais diagnósticos há 4 anos e o que vai ser entregue efetivamente, " foram mais promessas que mudanças". Os avanços científicos no momento presente não permitem uma mudança significativa nos atuais manuais diagnósticos. Ele antecipa que haverá mudanças pouco substantivas na versão final desses manuais. "A possibilidade de mudanças mais significativas deverá ocorrer nos próximos dez anos." Ele acredita que o avanço da genética, neurobiologia e neuroimagem estarão na vanguarda dessas mudanças. Por fim, depois de uma brilhante explanação, nos revelou que há muitos interesses, além dos científicos, influenciando a elaboração dos manuais, entre eles as restrições do sistema de saúde americano e o movimento da antipsiquiatria e da cientologia contra essas mudanças.
Muitos temas foram discutidos, a informática na psiquiatria, o cyberbullying, o tratamento do crack, a integração da Psiquiatria, a ciência e prática clinica, entre outros. Muitos cursos foram disponibilizados em farmacologia avançada e psicoterapia, mesas redondas e uma seção " Como eu trato", coordenada pelos maiores estudiosos e especialistas das principais subáreas diagnósticas da psiquiatria.
INTERESSE NA LEGALIZAÇÃO DA MACONHA
Finalmente, houve uma discussão sobre os prós e contras da Maconha. O auditório Genipabu ficou lotado, com a presença de mais de 400 congressistas.O psiquiatra e psicanalista Sérgio de Paula Ramos enfatizou a situação preocupante da maconha como droga de iniciação juvenil. Segundo ele, " ha provas inequívocas de que a maconha faz mal na adolescência. Causa prejuízo no desempenho escolar, dependência, aumento de envolvimento com outras drogas, sintomas psicóticos, esquizofrenia e depressão."
Sérgio de Paula Ramos alerta que a liberação da maconha provocaria o aumento do consumo, porque o adolescente vai achar que o risco é menor. Ele convidou todos a refletir: " a quem interessa a legalização da maconha?". Ele especula que a indústria do tabaco, que perdeu grande espaço nos últimos tempos, poderia ser a principal interessada. " Passou um século e agora estamos batendo na mesma tecla, com um tipo diferente de cigarro."