domingo, 22 de janeiro de 2012

Desenvolvimento Infantil e Resiliência Psicológica


A Resiliência Psicológica é um conceito que significa a capacidade de recuperação de situações estressoras com o potencial de causar danos psicológicos e aumento de suscetibilidade para doenças mentais.

O termo "resiliência" é emprestado da Física e se refere à capacidade que  alguns materiais  possuem de se dobrar, sem sofrerem fraturas, voltando ao estado original, depois de cessada a força mecânica. Analogamente, algumas pessoas são mais ou menos resilientes, elas sofrem o impacto dos estressores ambientais e não se quebram, isto é, não adoecem ou se recuperam mais rapidamente dos reveses.

Pesquisas demonstram que há fatores genéticos envolvidos no grau de resiliência de cada pessoa. Esses fatores sofrem a influência do meio ambiente, produzindo uma estrutura de personalidade.

Essa interação genética-meio ambiente começa no útero materno e se estende durante a infância até o fim da vida. Mas o período da infância é crítico para o desenvolvimento da resiliência. Existem crianças que parecem ter uma maior capacidade de sobrevivência , independentemente das condições adversas do meio ambiente. São psicologicamente resistentes. Outras crianças são mais sensíveis ao ambiente, sofrendo repercussões exacerbadas na sua estrutura mental, conforme os cuidados parentais. Quando negligenciadas sofrem desestruturação de personalidade, adoecem e definham. Mas se forem cuidadas com esmero, sobrevivem e prosperam.

Já foram descobertos genes envolvidos nessa sensibilidade infantil. Esses genes influenciam enzimas e receptores neuroquímicos, que na combinação com o estresse ambiental, disparam gatilhos para o desencadeamento de  transtornos de humor e comportamentos disfuncionais.

 Um gene chamado CHRM2, vinculado à dependência alcoólica e pertencente ao mesmo grupo dos comportamentos disruptivos, distúrbios de conduta e comportamento antissocial, foi  investigado pela Universidade da Comunidade Virgínia. O registro genético de 400 meninos e meninas acompanhados por mais de quinze anos mostrou que  certas variações no gene CHRM2 interagem com a negligência parental, produzindo comportamento indesejáveis na adolescência, principalmente delinquência e agressividade. Essa variação genética quando encontrava pais atenciosos e amorosos produzia resultados opostos. Nessa mesma pesquisa, crianças vulneráveis geneticamente tornavam-se menos propensas a brigar , por exemplo, ao serem criadas por famílias saudáveis, que forneciam atenção e carinho. O gene CHRM2 também está envolvido em casos graves de depressão e influencia  habilidades cognitivas.

Então o cuidado parental é importantíssimo para desligar( epigenética) os genes responsáveis por essa vulnerabilidade aumentada para comportamentos disruptivos.

A Resiliência não é a capacidade de negar os estressores. Na verdade, é justamente a capacidade de lidar com os estressores com mais competência. É buscar reparações para as perdas e lutos. Ser resiliente é encontrar algo " positivo" numa experiência negativa, principalmente o aprendizado que fica. Estudos com gêmeos, conduzidos pela Universidade de Western Ontário, no Canadá, envolvendo 219 pares de gêmeos, encontrou  as contribuições genéticas e ambientais mais relevantes na resiliência mental:

__ O comprometimento com projetos pessoais;
__ Controle sobre a própria vida;
__ Autoconfiança;
__ Disposição para encarar desafios.

O resultado da pesquisa demonstra que 52 % da variável resiliência mental é herdada geneticamente. Agora podemos compreender melhor as diferentes reações das pessoas quando se defrontam com frustrações, como separação amorosa, resolução de dificuldades financeiras, superação de doenças graves, aprovação no vestibular e outros desafios. Essa diferença pode determinar o resultado  da trajetória de vida, pela influência direta nas escolhas e nas estratégias que conduzem à perseverança ou degeneram em desistência.

sábado, 14 de janeiro de 2012

A Endocrinologia do Cérebro


A Endocrinologia é a especialidade médica que estuda os hormônios e suas ações no organismo.

Hormônios são moléculas que sinalizam intenções fisiológicas em células-alvo através da corrente circulatória.

No cérebro a comunicação interneuronal se faz através de sinalização eletroquímica basicamente, mas também através da ação hormonal. Alguns neurotransmissores funcionam como hormônios, enquanto alguns hormônios funcionam como neurotransmissores.

Os neurônios são conexões na forma de fios que alcançam outras conexões e sinalizam potenciais de  ação através de ordens neuroquímicas( neurotransmissores). Os hormônios funcionam mais como "ondas" que atingem receptores específicos a distância.

A epinefrina , por exemplo, é um neurotransmissor em nível cerebral e um hormônio em nível periférico. Os hormônios influenciam também a ação dos neurotransmissores. O neurotransmissor GABA( inibitório) sofre a influência dos hormônios esteroides. Quando o hormônio feminino progesterona atua no GABA há um aumento do influxo de cloro para dentro das células, modificando a sinalização neuronal. Isso talvez explique a sensibilidade das mulheres à flutuação hormonal, com surgimento de síndromes psiquiátricas.

Os hormônios diferem dos neurotransmissores pois causam efeitos a longo prazo ,são secretados na forma pulsátil, variam conforme o relógio biológico( ritmo circadiano) e produzem seus efeitos de maneira diferente em diferentes órgãos.

Entre os três principais tipos de hormônios podemos citar, de acordo com sua estrutura química, os seguintes: hormônios proteicos, como os neuropeptídeos, os hormônios aminas, derivados de aminoácidos e os hormônios esteroides, derivados do colesterol.

Entre os hormônios proteicos estão a ocitocina, a vasopressina, os hormônios liberadores de outros hormônios, que atuam no eixo hipotálamo-hipófise, os hormônios trópicos, que atuam diretamente nos órgãos-alvo, como a tireóide, as suprarenais, os folículos ovarianos; os hormônios aminas são representados pela epinefrina, a norepinefrina , o hormônio tireóide e a melatonina; os hormônios esteróides são representados pelos estrógenos, as progestinas, os andrógenos, os glucocorticóides e mineralocorticoides.

As duas ações básicas dos hormônios nas células-alvo são: promover o crescimento e diferenciação e modular a frequência do seu funcionamento. Dependendo do tipo de hormõnio , o encaixe ocorre na parede das células, através da parede celular no interior das células, dando início à síntese de proteínas ou no núcleo celular.Em todos os casos o resultado final dessas cascatas são o efeito genômico, isto é, ativar determinados genes ou efeito não genômico, como em alguns neurônios, modulando os íons que controlam os disparos neuronais.

A hipófise e hipotálamo são as duas principais glândulas no cérebro. O hipotálamo é a central de comando, que integra informações acerca do estado do cérebro com informações oriundas do corpo provenientes da coleta de dados via projeção de neurônios ou quimioneurônios.Do hipotálamo partem as ordens para a hipófise, em resposta a alterações corporais e ambientais, conforme a necessidade de secreção ou não de hormônios regulares do equilíbrio fisiológico( homeostase).

Destacamos abaixo as principais funções desses hormônios:

__ Ajuste do fluxo sanguíneo
__ Regulação do metabolismo
__ Regulação da atividade reprodutiva
__ Resposta a ameaças
__ Controles do ritmos circadianos( relógio biológico).

A relação estreita entre cérebro e corpo se faz às expensas da ação integrada dos hormônios. Indivíduos depressivos, por exemplo, exibem hipecortisolemia, atrofia do hipocampo( região da memória) e prejuízo das funções cognitivas. Contrariamente, no transtorno de estresse pós-traumático( TEPT), o hormônio cortisol está baixo, predispondo o indivíduo a responder abaixo do esperado aos estressores, com resposta inflamatória e simpática excessivas. O cortisol também está baixo em patologias como fibromialgia e síndrome da fadiga crõnica. Doenças como hiper e hipotireoidismo também produzem sintomas psiquiátricos que se confudem com transtornos de humor e psicóticos, devido à similaridade sindrômica e alteração da taxa metabólica. No hipertireoidismo, há aumento da ansiedade, irritabilidade, agitação psicomotora e labilidade emocional. No hipotireoidismo há humor depressivo, ganho de peso, diminuição do desejo sexual, déficit de memória e até alucinações e delírios.

A Endocrinologia e a Psiquiatria precisam trabalhar em conjunto para o aprimoramento diagnóstico e controle de diferentes patologias que apresentam sobreposições clínicas.






segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Neurotransmissores e Transtornos Mentais

Os transtornos mentais são estudados a partir do vértice do desequilíbrio de substâncias químicas, os neurotransmissores, cuja alteração, produz sintomas clinicamente relevantes. A descoberta de medicamentos que corrigem esse desequilíbrio inaugurou uma nova fase no tratamento dos transtornos mentais, possibilitando o controle de uma parcela significativa deles, livrando o paciente do estigma da " falta de força de vontade". Surgiu a teoria monoaminérgica, onde as monoaminas( tipo de neurotransmissores) supostamente causam doenças através do seu desequilíbrio e se preconizou a partir dessa teoria a  utilização de medicamentos para executar o reequilíbrio neuroquímico.

Existem mais de cem neurotransmissores conhecidos, mas alguns são cogitados como causais das alterações patológicas.

Um neurotransmissor é uma substância  que é armazenada num neurônio pré-sináptico, depois é liberada entre os neurônios, a fenda sináptica, depois produz seus efeitos específicos ao se ligar a um receptor pós-sináptico, sendo o seu excedente recaptado pelo neurônio pré-sináptico. Os dois neurotransmissores em maior concentração cerebral são o glutamato e o GABA. O glutamato é um neurotransmissor excitatório, aumentando os disparos neuronais. O GABA, por outro lado, é um neurotransmissor inibitório, diminuindo a hiperexcitação neuronal.  O glutamato está envolvido em mecanismos de memória e também em doenças como a doença de Alzeihmer e morte neuronal pós-acidente vascular( pós-AVC). O GABA está envolvido com os mecanismos de controle do sono, da ansiedade e em doenças como epilepsia.

Em menor concentração, estão as monoaminas, divididas em duas classes: as catecolaminas: dopamina, norepinefrina e epinefrina e as indolaminas: serotonina e melatonina. Existem núcleos espalhados pelo cérebro, dos quais partem ramificações neuronais para diferentes regiões cerebrais, onde neurônios apresentam função predominantemente serotoninérgica, dopaminérgica , noradrenérgica ou melatoninégica. Acredita-se que os transtornos ansiosos, depressivos e desregulação do ciclo do sono-vigília envolvam esses neurotransmissores. O uso de antidepressivos e ansiolíticos manipula esses sistemas para produzir os efeitos terapêuticos, através do bloqueio da bomba de recaptação, produzindo uma concentração constante dos neurotransmissores na fenda sináptica, corrigindo o déficit causador ou promotor do transtorno.