sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Tristeza, Reação Depressiva e Depressão Clínica



As pessoas ( e os médicos também) confudem três condições semelhantes , mas diferentes. A capacidade de diferenciar essas três condições vai determinar o melhor diagnóstico e, por conseguinte, o melhor tratamento. Há uma crítica social da hipermedicalização psiquiátrica. E essa crítica é bem-vinda e verdadeira! Muitos pacientes estão sendo medicados sem necessidade, por erro diagnóstico( cometido por não-especialistas e por alguns especialistas) e tão grave quanto isso, um percentual enorme de pessoas doentes não está sendo tratado!!!! Por um lado há a hipermedicalização desnecessária, por equívoco diagnóstico, expondo pessoas a medicamentos psicotrópicos. Por outro lado, há uma multidão de doentes mentais desassistidos por não serem diagnosticados. Lembrem-se de que o transtorno mental não tratado causa danos ao tecido cerebral, com a atrofia neuronal. O risco de prejuízo cognitivo( memória, pensamento, capacidade de raciocínio) é comprovado, além do aumento do risco de doenças físicas( cardiovasculares , endocrinológicas e câncer) e o aumento de doenças cerebrais degenerativas( Doença de Alzheimer).


Vamos às diferenciações: Primeiro, existe a tristeza, que é uma emoção que pode acometer a todos nós em momentos de perda, mudanças ou mesmo variações circadianas( relógio biológico ) ou hormonais. Ter momentos de tristeza, com ou sem motivo aparente, é perfeitamente aceitável. Faz parte do funcionamento do organismo ter variações. Essa tristeza não pode ser constante, nem de intensidade intolerável, nem causar prejuízos pessoais ,familiares e socio-profissionais significativos. A diferenciação entre tristeza normal e depressão depende dessas diferenças citadas. Na depressão, há um prejuízo marcado na vida pessoal , familiar e sócio-profissional da pessoa. A duração e intensidade da tristeza são exageradas, em conjunto com outros sintomas adicionais, como pensamentos suicidas, alterações no padrão do sono( excesso ou falta de sono), no apetite( diminuição ou excesso de apetite, com alteração do peso corpóreo), falta de prazer em diferentes situações cotidianas. Se a tristeza não cessa, a intensidade aumenta e dura mais do que duas semanas, estamos diante de um quadro possível de depressão clínica. Nesse momento, faz-se necessária a consulta ao psiquiatra. Aqui abro um parênteses. Você deve ir ao especialista. Deixe o preconceito de lado.Não aceite que o seu cardiologista lhe dê " um remedinho", ou que o seu endocrinologista lhe dê " um remedinho" ou que o seu vizinho lhe empreste " um remedinho". Imaginem se os psiquiatras começassem a receitar remedinhos para a pressão alta, para a diabetes, para outras doenças. Nós não invadimos as outras especialidades. Não invadam a nossa!!!!!!!!!!!!!! Fique claro isso de agora em diante. O dever do paciente é escolher um especialista na área!

Por último , diferenciemos a tristeza e depressão clínica da reação depressiva. A reação depressiva é uma resposta a situações de perda, de luto, de mudança, situações estressantes, que alteram o equilíbrio mental e físico da pessoa. Geralmente a reação depressiva cursa com sintomas semelhantes a uma depressão, mas cessam tão logo o desencadeante tenha sido superado. Os sintomas sofrem remissão espontânea no decorrer do tempo, são autolimitados. Na tristeza normal e na reação depressiva a fatores psicossociais, o uso de medicamento não é indicado. Na depressão clínica o uso de medicamento é indicado.

Muitas reações depressivas são causadas por conflitos psicológicos. As pessoas querem tratar a estrutura psicológica com medicamentos, o que não é aconselhável, pois vamos mascarar sintomas, sem tratarmos a causa verdadeira. Quando a reação depressiva é resultado de problemas pessoais e de relacionamento, a melhor alternativa é a modificação dos pensamentos e do comportamento através da psicoterapia. Se os sintomas mentais são muito intensos a ponto de comprometerem a capacidade de pensar do paciente, para que ele aproveite a psicoterapia, então o uso de medicamentos pode ser benéfico.

Em casos de depressão crônica, recorrente( vários episódios), já houve uma alteração na anatomia e na química cerebral( serotonina, dopamina, noradrenalina). Nesses casos selecionados, o uso contínuo de antidepressivos se faz necessário , para proteger o cérebro e evitar a recaída ou recorrência dos sintomas. Cabe ao psiquiatra fazer essas três diferenciações. Dessa habilidade técnica depende a saúde mental presente e futura dos pacientes.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Homossexualidade- Aspectos Biológicos



Para avaliarmos a influência biológica na homossexualidade, precisamos entender o processo intra-útero que influencia as diferenças sexuais. Um gene no cromossomo Y( que determina o sexo masculino) direciona a produção de um fator que induz a formação dos testículos em bebês do sexo masculino. Os testículos liberam testosterona para promover a masculinização do cérebro e dos órgãos sexuais e outros hormônios para suprimir o desenvolvimento de órgãos sexuais femininos. Antes do nascimento, os hormônios organizam regiões cerebrais importantes para o comportamento sexual adulto. Esses comportamentos só serão ativados mais tarde , na puberdade. O hipotálamo é a região cerebral que regula o comportamento sexual, bem como outras funções vitais básicas, como a temperatura corporal e a ingestão de alimentos e água. Os hormônios sexuais influenciam também outras regiões cerebrais, como o núcleo do corpo amigdaliano, que regula a excitação sexual masculina, outras regiões responsivas à vasopressina, importante na criação de vínculos afetivos entre casais.

Evidências de pesquisa indicam que a homossexualidade nasce com a pessoa, apesar de ser menos evidente no caso de lésbicas. A homossexualidade tem um componente hereditário significativo em estudos com gêmeos e também sofre influência ambientais maternas no período gestacional. O comportamento homossexual demonstra ser herdado e não aprendido.

Em crianças femininas com transtornos do desenvolvimento sexual que foram expostas a hormônios masculinos pré-natais( por aumento congênito da glândula adrenal), há uma masculinização cerebral e da genitália também. Mesmo após correção depois do nascimento, essas mulheres mantêm uma tendência maior a ter fantasias e experiências sexuais com pessoas do mesmo sexo do que mulheres normais. Filhas de mulheres que tiveram contato com um medicamento abortivo( dietilestilbestrol), também agente masculinizante, apresentaram maior tendência a sentir atração por outras mulheres, mesmo com genitália externa normal. Por outro lado, meninos com insensibilidade ao androgênio( hormônio masculino) por defeito genético no receptor da testosterona desenvolvem atração por homens, indicando que a atração por mulheres necessita de masculinização pré-natal do cérebro por hormônios. Esses meninos não desenvolvem a genitália externa e são criados como meninas, apesar do sexo genético ser masculino( XY).

Uma região cerebral estudada é o terceiro núcleo instersticial do hipotálamo, que é, em média, duas vezes maior no homem que na mulher. Dois estudos revelaram que no cerebro de gays essa região é praticamente do mesmo tamanho que no cérebro de mulheres.

Outros estudos demonstram que a existência de um irmão mais velho aumenta a probabilidade de um bebê do sexo masculino ser gay em 33%. Os gays representam 2,5 % da população. Se houver um irmão mais velho esse percentual sobe para 3,3%, se houver dois irmãos mais velhos, o percentual sobe para 4,2%. Essa ordem afeta homossexuais masculinos, mas não as lésbicas.

A explicação científica está ainda incompleta, mas parece se relacionar com algum anticorpo produzido pelo primeiro bebê contra algum fator produzido pelos homens, suprimindo esse fator nas gestações subsequentes. Parece que o efeito não é ambiental e sim cerebral, pois irmãos criados separadamente não modificam essa estatística.

O cérebro sexual exerce um efeito significativo sobre a preferência sexual do indivíduo adulto, mesmo que outros fatores sociais e psicológicas atuem no plano biológico básico, formado intra-útero.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Homossexualidade- Aspectos Psicológicos

A homossexualidade pode ser definida como o "apego emocional que implica em atração sexual, ou de relações sexuais declaradas entre indivíduos de um mesmo sexo."
A ciência ainda tem um conhecimento limitado acerca dos aspectos genéticos , glandulares e orgânicos na determinação da homossexualidade.
A cultura influencia de maneira significativa a maneira de encarar e abordar a sexualidade, mormente a homossexualidade. Até a década de 70 a homossexualidade era classificada como transtorno mental, sendo retirada posteriormente dos manuais diagnósticos.
O ambiente social rejeita francamente ou dissimuladamente a homossexualidade, da mesma maneira que rejeita outras minorias sociais. Em algumas culturas a homossexualidade é perseguida e punida.
O sexo biológico é transcendido, na atualidade, pelo gênero sexual, que vai depender dos desejos inconscientes que os pais alimentam quanto às condutas e comportamento dos filhos. É de importância vital as identificações dos filhos com os pais, assim como o discurso destes últimos em relação à sexualidade. Os padrões sexuais não são inatos, sofrem a criação dentro da família, sendo repassados de geração em geração( transgeracionalidade). Muitos conflitos não resolvidos entres pais e filhos passam para gerações posteriores, na designação de papéis, que se não cumpridos, geram vergonha, culpa, medo e humilhação.
Os fatores de gênero sexual dos filhos são a atribuição de nomes próprios ambíguos, o uso de roupas que causam confusão e indefinição no contexto social, o tipo de brinquedos e brincadeiras, a forma de nomear os órgãos genitais, o tipo de esporte que estimulam nos filhos, o denegrimento de certos atributos femininos e masculinos.
Nos aspectos psicológicos destacam-se os desejos e fantasias inconscientes da criança, produzindo pontos de fixação no desenvolvimento psicossexual, para os quais irá regredir, em momentos de ansiedade. As fases mais estudadas dessa fixação são a fase edípica e a narcisista. Qualquer má resolução dessas fases configura uma indiferenciação e indiscriminação, sendo que os objetos externos( as pessoas) são percebidas sem diferenças sexuais, portanto, de uma perspectiva " homossexual". Em outras investigações clínicas, observa-se uma ligação simbiótica( fusional) com a figura materna, excluindo a importância do pai. A exclusão do pai do psiquismo da criança, nessa ligação narcisista, com precoce erotização e infantilização, dificulta a identificação com os atributos masculinos do pai. O futuro adulto, precocemente adulto( falsa identidade) hipertrofia o papel que lhe foi imposto pela mãe, o de ser "o principal desejo dos desejos da mãe." O pai excluído( ou ausente, ou muito autoritário), fica fora do imaginário da criança, e não funciona como a necessária interdição paternal( Nome do pai, de Lacan). O que causa essa exclusão paterna? O afastamento físico e geográfico, um pai frágil, dominado pela mãe autoritária, a figura do pai denegrida pelo discurso da própria mãe da criança.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Transtorno Afetivo Bipolar(TAB) e Esquizofrenia


Mais de 15 milhões de pessoas no Brasil são portadores de TAB. Pesquisas recentes têm investigado a relação entre a esquizofrenia e o transtorno Afetivo Bipolar. Na classificação diagnóstica, os dois transtornos são mantidos separados. Contudo, pesquisas genéticas encontraram raízes similares nos dois transtornos.

Isso se verifica na prática clínica. Os pacientes com o TAB tipo I, que cursam com maior comprometimento mental, com surtos depressivos e maníacos francos, manifestam muitos sintomas psicóticos na sua evolução. Em alguns surtos agudos, a diferenciação entre os sintomas esquizofreniformes e os delírios maníacos fica difícil. Muitos pacientes evoluem para o diagnóstico de TAB, respondendo aos estabilizadores de humor, outros evoluem para quadros psicóticos mais deteriorantes, incluindo a esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo. No início do século, Emil Krapelin separou na classificação diagnóstica essas duas patologias. Parecia que na esquizofrenia o curso era mais grave e deteriorante, tendo sido chamado de " demência precoce". No transtorno bipolar( antigamente psicose maníaco-depressiva), o prognóstico era melhor( ?).
Estudos de biologia molecular encontraram sobreposição de sintomas na bipolaridade e esquizofrenia. Talvez no futuro tenhamos que rever nossas classificações diagnósticas, levando em consideração a psicose como marcador. Teríamos um espectro psicótico, onde o TAB tipo I e a esquizofrenia estariam na mesma faixa diagnóstica.
Interessante é o fato que os antipsicóticos de segunda geração tratam tanto os sintomas psicóticos da esquizofrenia como estabilizam o humor no TAB. O curso crônico do TAB produz perda cognitiva ( memória, concentração, juizo crítico) com atrofia neuronal, exatamente como ocorre na esquizofrenia. Os outros TAB, tipo II, III e IV são mais leves que o tipo I e respondem a doses baixas de estabilizadores de humor. O TAB tipo I necessita de doses mais altas de estabilizadores de humor e a associação de antipsicóticos muitas vezes.
No futuro teremos que rever as classificações diagnósticas em virtude da sobreposição dessas duas doenças mentais graves.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

"Pessoas Complicadas"

"Pessoas Complicadas" vai ser o termo leigo para tratarmos de pessoas com um possível transtorno mental ou transtorno psicológico. Quem não é psiquiatra não consegue classificar um transtorno mental adequadamente. Se eu perguntar para uma pessoa se ela consegue "detectar" sinais de alguém que não é "normal", ela pode me dizer " Fulano(a) é uma pessoa complicada." Essa percepção fica evidente em diferentes contextos em que a pessoa em questão é observada e por diferentes pessoas.
"Pessoas Complicadas" podem ser ou não portadoras de transtorno mental. Mas somente o fato de serem percebidas como complicadas já prenuncia algo que não vai bem. Valeria a pena uma avaliação psiquiátrica para descartar algum transtorno mental em curso.
Para nós, psiquiatras, a conotação de pessoa complicada pode ser diferente. Consideramos pessoas complicadas aquelas muito resistentes aos tratamentos, como nos transtornos de personalidade e alguns transtornos somatoformes( a mente produz sintomas físicos sem causa física detectável) . Apesar do tratamento, essas pessoas melhoram pouco. Outros transtornos com uma causa biológica tratável respondem melhor aos medicamentos e podem ficar em remissão completa. Muitos trantornos depressivos se enquadram nessa categoria, transtornos bipolares, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade generalizada.
"Pessoas Complicadas" geralmente apresentam traços de personalidade desadaptativos à convivência em sociedade. Ou são portadoras de uma estrutura global de personalidade doente. Não conheço "pessoas complicadas" normais.
Desde 1952, com a primeira edição do DSM( Manual Diagnóstico e Estatístico da Psiquiatria) o número de transtornos mentais aumentou(?). Vejo nisso a tendência de "patologizar" comportamentos variantes, que não são necessariamente anormais. Mas quando um comportamento traz prejuízos pessoais e sociais, não podemos deixar de tratar. Na minha opinião profissional, existem doenças mentais( com fundo orgânico importante) e transtornos psicológicos, não necessariamente anormais, mas com consequências prejudiciais. No primeiro grupo o tratamento é imperativo, pelo risco de suicídio, atrofia cerebral e outras complicações sistêmicas( que envolvem todo o organismo). No segundo grupo de " pessoas complicadas", o tratamento é opcional e vai depender da participação ativa do paciente, através de psicoterapia. Minha visão médica me faz classificar três grandes grupos: os Transtornos Psicóticos, os Transtornos de Humor e os Transtornos de Ansiedade. Dentro desses três grandes grupos a Psiquiatria faz maravilhas. Nos outros casos, a psicoterapia é uma alternativa, mas somente se o paciente estiver motivado a tratar-se. Geralmente as "Pessoas Complicadas" do primeiro grupo aceitam tratamento com mais facilidade do que o segundo grupo.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

" Marketing da Loucura"



Estive assistindo a dois DVDs interessantes que abordam a Psiquiatria. Um deles é o " Marketing da Loucura" e o outro é "Psiquiatria- A Indústria da Morte", promovida por uma Associação dos Direitos Humanos. Recomendo que todas assistam e tirem as próprias conclusões.


A tônica é o ataque à Psiquiatria. Além de muito bem produzidos, suscitam um debate amplo sobre a evolução histórica da psiquiatria. A Psiquiatria seguiu um caminho diferente da medicina convencional. Já abordei isso em outros tópicos. Cometeu muitos erros, como associar-se com interesses políticos na história mundial, pregar a eugenia, apoiar o regime nazista , utilizar métodos cruéis de tratamento. Isso tudo está registrado nos DVDs. O outro DVD acusa a medicalização psicotrópica das pessoas, criando um mercado de venda de medicamentos para o enriquecimento de laboratórios e psiquiatras.


Com muita tranquilidade acredito que cada pessoa terá discernimento para aproveitar os conhecimentos ali contidos, sem se deixar contagiar pela hostilidade contra a Psiquiatria que permeia a condução das filmagens. A psiquiatria moderna não é a psiquiatria retrógrada do passado. Não negamos as atrocidades do passado, mas não aceitamos continuar pagando essa conta no presente e no futuro. O fato de psiquiatras terem se associado a governos como a Alemanha e Rússia para promover interesses políticos , dizimando pessoas inocentes e com deficiências mentais, não transforma os psiquiatras da atualidade em criminosos! Imaginem se começássemos a discriminar o povo alemão porque existiu o Hitler ou os italianos por causa do Mussolini. É assim que eles pensam da Psiquiatria.


Quanto à medicalização excessiva, concordo! Existem pessoas que não precisam tomar medicamentos psicotrópicos e estão tomando. Muitas pessoas buscam esses medicamentos, sem acompanhamento médico. E existem médicos que repetem "a receitinha azul", prescrevem o antidepressivo , sem critério nenhum, simplesmente porque o paciente pede ou querem agradar o cliente. Isso é absurdo. Dias atrás neguei-me a "dar uma receita" para uma paciente que não estava em tratamento. Ela saiu enfurecida comigo. Foi ao posto de saúde e "o médico bonzinho" prescreveu o medicamento. Dessa maneira as pessoas vão se viciando em psicotrópicos. Também sou contra essa onda propagandista dos laboratórios( concordo com o DVD, tenho senso crítico apurado), que tentam inventar indicações para medicamentos. A última moda é o stavigille( modafinila), que o laboratório tenta vender como pílula da inteligência. Faça-me o favor! Mas esse fenômeno da medicalização excessiva se estende para outras áreas da Medicina, incluindo a cardiologia e traumatologia. Ano passado, muitos antiinflamatórios foram retirados de mercado por causa do risco cardíaco. A reposição hormonal, na ginecologia, também demonstrou riscos cardíacos. Então, não é somente a Psiquiatria a vilã. Os vilões são os médicos gananciosos e os laboratórios gananciosos. Eu não me deixo iludir! Já mandei embora muitos pacientes que foram ao meu consultório atrás de medicamento psicotrópico.


A outra crítica é que a Psiquiatria não cura nada! Que os diagnósticos são inventados! Que milhares de pacientes morrem tomando medicamentos psicotrópicos. Nesse aspecto, discordo. Sim, não curamos nada, da mesma maneira que nenhuma especialidade médica( cardiologia, endocrinologia, reumatologia, nefrologia e outras) cura as doenças crônicas. As curas agudas são em casos específicos, através de cirurgias e tratamentos antimicrobianos. O restante das doenças são crônicas. Na verdade, a Medicina é ainda muito limitada em tratamentos. Quanto à crítica de que a Psiquiatria inventa diagnósticos, não temos o melhor sistema diagnóstico classificatório, pois conhecemos pouco sobre a mente. Mas posso afirmar, com convicção, que doenças como esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, transtornos de personalidade existem! Eu trato pacientes há 11 anos e esses casos são reais! Perguntem a um familiar que convive com esses pacientes 24 horas por dia. Se as nossas explicações neuroquímicas estão erradas( e elas podem estar, isso é ciência), ainda não se descobriu um modelo explicativo melhor e mais funcional. Quanto às mortes e riscos, quero dizer que já atendi mais de 20 000 pacientes , que tomaram múltiplas drogas psicotrópicas e nunca tive uma morte sequer. 95 % desses pacientes referem que suas vidas estão melhores com o tratamento do que sem ele! O lítio é uma droga psicotrópica e está comprovado que diminui o suicído! A proibição de antidepressivos em adolescentes aumentou o índice de suicídio desde 2003. São dados robustos! Sim, os psicotrópicos não são inócuos( nenhum medicamento o é, nem aspirina), causam complicações, apresentam riscos, mas algumas doenças mentais necessitam de tratamento medicamentoso, pois as consequências de não tratar são desastrosas para as famílias e a sociedade.


No DVD os psiquiatras são chamados de " cuidadores de doentes em manicômios". E que o uso de medicamentos foi uma tentativa de resgatar " a aura científica" da psiquiatria frente à medicina. Concordo. Durante 40 anos a psiquiatria foi escrava da psicanálise. Para poder voltar à medicina, precisou investir no cérebro para conseguir esse espaço. Mas a pesquisa dos medicamentos tornou-se imperativa, pelo aumento de doenças mentais graves, pressionando a sociedade por soluções que esvaziassem os manicômios. Já vi pessoas tomando antipsicóticos voltarem para a faculdade. Melhor do que acorrentar doentes como na idade média, é tratar os sintomas na atualidade, mesmo que os tratamentos não sejam ideais , nem perfeitos. Qual o tratamento que se enquadra em perfeição? A acusação do conluio entre psiquiatras e indústrias farmacêuticas, concordo. E devemos desmascarar essas associações espúrias em nome de uma psiquiatria verdadeiramente científica e em benefício da humanidade. Apreciei muito os DVDs, eles ampliam a nossa percepção acurada(P) dos interesses econômicos no mercado mundial de medicamentos. Mas não vamos generalizar. A psiquiatria cometeu erros no passado, comete erros no presente, mas também acerta. Pergunte aos pacientes verdadeiramente doentes se eles tiveram benefícios com os tratamentos disponíveis.
Por fim quero deixá-los com uma frase para reflexão: " Todo o tipo de absoluto indica patologia"( Friedrich Nietzsche). Portanto, da mesma maneira que, como psiquiatra, relativizei o que aprendi nos DVDs, pergunto aos organizadores dessas duas obras recomendáveis, e vocês relativizaram o quê em relação à Psiquiatria?

Estresse e Resiliência

Vivemos numa sociedade moderna, em ritmo frenético. Contas para pagar, compromissos inadiáveis, dificuldades financeiras, problemas familiares, exigências do chefe mal-humorado, impostos para pagar, políticos corruptos, brigas familiares, diferenças nos relacionamentos conjugais, sonhos inalcancáveis, dívidas com os bancos, exploração da força de trabalho, doenças crônicas, doenças agudas, perda de pessoas queridas, casamento dos filhos, brigas, agressividade doméstica, acidentes de trânsito, maremotos, terremotos, aquecimento global, assédio sexual, assédio moral, injustiças, trânsito caótico, ufa!
Não é dificil estressar-se.Em 30 segundos consegui estressar você? Se não consegui, parabéns! A sua capacidade de resiliência é maior do que as pessoas em geral. Resiliência é a capacidade de dobrar-se sem se quebrar. Uma pessoa resiliente lida com os estressores da vida com melhores condições de recuperação. Pessoas com baixa resiliência se afetam com os estressores com mais facilidade, podendo desenvolver transtornos mentais e psicológicos.
O segredo de mantermos uma boa saúde mental é diminuirmos a carga de estresse( conhecermos nossos limites ) e aumentarmos a nossa resiliência! Quanto mais resilientes, menos reativos às experiências negativas da vida ficamos. Quanto menor a carga de estresse, mais preservamos o funcionamento harmônico do corpo e da mente. Dessa equação equilibrada, preservamos nossa saúde, investindo em longevidade com qualidade de vida!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ritalina- "Doping Mental"



Muitas pessoas vêm ao consultório buscando uma prescrição de ritalina( metilfenidato). O objetivo é melhorar a concentração, a memória, o desempenho cognitivo. São estudantes, vestibulandos, concurseiros que buscam "turbinar" suas capacidades de performance. Depois que algumas revistas de circulação nacional implantaram a ideia das "pílulas da inteligência", isso tem se tornado mais frequente.

Além da ritalina, outra substância propagandeada como milagrosa é a modafinila( stavigile), pois aumenta o nível de vigília, auxiliando nos estudos!


Em primeiro lugar, cabe ressaltar que estamos falando de medicamentos. Não estamos falando de substâncias inócuas, que podem ser usadas sem controle médico. Muitas pessoas abusam de substâncias na busca de uma promessa falsa de milagres. Não existem milagres! Tanto a ritalina, quando a modafinila não são milagrosas. As indicações da ritalina estão definidas para o tratamento de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade(THDA), tanto em crianças como em adultos. A modafinila( stavigile) está indicada para o tratamento de narcolepsia( um tipo de distúrbio do sono, em que o paciente tem ataques diurnos de sonolência incontrolável).

Em segundo lugar, os medicamentos podem causar efeitos colaterais e têm risco raros, mas graves. Portanto, o uso precisa ser criterioso. Usar esses medicamentos sem acompanhamento psiquiátrico é um risco desnecessário pela promessa de benefícios pela mídia.

Em terceiro lugar, uma pessoa que não seja portadora de TDAH vai ter uma resposta muito discreta ao uso da ritalina. O mesmo cabe para a modafinila. Se a resposta for exuberante significa que a pessoa já tinha algum grau de hiperatividade ou desatenção clinicamente tratáveis. Pessoas normais não respondem a esses medicamentos de maneira "tão miraculosa", como apregoam os meios de comunicação ou os amigos que conseguem esse medicamento nas farmácias sem receita!

Em quarto lugar, inteligência é um conjunto de habilidades , nas quais se incluem a memória e a concentração. Provavelmente vai haver um aumento discreto no desempenho cognitivo quando corrigimos o déficit de neurotransmissão em casos leves. Em pacientes com TDAH severo, a correção neuroquímica é suficiente para modificar o desempenho cognitivo em níveis significativos. Aí podemos afirmar que o tratamento faz verdadeiros milagres! É como corrigir a visão deficiente com lentes de aumento. A deficiência de transmissão dopaminérgica e noradrenérgica no TDAH impede o aproveitamento das potencialidades mentais do portador. Ele fica com dificuldades de aprendizagem, com o seu desempenho acadêmico e laborativo abaixo da sua verdadeira capacidade.

Muitas pessoas portadoras de TDAH não buscam ajuda e pagam o preço alto de serem tachados como preguiçosos, incapazes, "burros", enquanto a sua autoestima vai encolhendo. Dependendo da inteligência( mais alta), conseguem compensar os déficits até chegarem num ponto de demanda acadêmica muito exigente( como mestrado e doutorado), o que revela a ineficiência dessas compensações no decorrer dos anos. Nessa fase o paciente acaba se rendendo às evidências e busca ajuda psiquiátrica.

Então, temos dois cenários: os portadores que precisam e não buscam.Mais de 90 % dos adultos que são portadores de TDAH não estão em tratamento e precisariam estar. O outro cenário é de pessoas saudáveis que querem uma solução química para o desafio de passar em provas. Isso não vai funcionar, nem substituir as receitas antigas de dedicação, muito estudo e perseverança!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O Impacto das Drogas no Cérebro



Se assustar as pessoas as impedisse de fazer coisas erradas, esse tema poderia assustar muita gente, mas não impediria o consumo indiscriminado de drogas na sociedade. Mesmo assim nunca é demais ressaltar que as drogas impactam negativamente na saúde cerebral em particular e na saúde geral globalmente. Uma pessoa que usa maconha "recreativamente" não vai apresentar o mesmo desempenho acadêmico de uma pessoa que nunca usou. Isso é só para começo de conversa. Só esse dado já contraindica a liberalização da maconha. Podemos adicionar que a liberalização vai aumentar o consumo e o aumento do consumo vai selecionar os potenciais usuários vulneráveis à dependência. Os usuários de maconha desenvolvem uma desmotivação completa para atender as suas obrigações cotidianas, incluindo desempenhar alguma função socialmente produtiva.
Exames de neuroimagem funcional demonstram diferentes padrões de intoxicação crônica da atividade neuronal. Os seus cérebros parecem menos ativos, mais enrugados e menos saudáveis. Por exemplo, usuários de cocaína apresentam deficiência na perfusão do tecido cerebral( aporte de sangue e oxigênio), parecendo haver miniderrames nas imagens de SPECT( Tomografia por emissão de pósitrons). Usuários crônicos apresentam déficits intelectuais, desatenção, desconcentração, diminuição da memória visual e verbal, na produção de palavras e na integração viso-motora.( imaginem esses indivíduos dirigindo por aí!!) .Estudos em viciados em crack mostram uma diminuição de 23 % do fluxo sanguíneo cerebral. Se a pessoa fumar também, o fluxo cai ainda mais, 43% de diminuição do fluxo sanguíneo cerebral. A maconha diminui a perfusão sanguínea nos lobos temporais, o que provoca déficits de memória, aprendizagem e motivação.

Sociedade Adicta


" Dizer que as drogas se tornaram a maior aflição da sociedade, não é expressar exageradamente a situação. Todos os setores da vida são tocados por essa epidemia. Crime e violência são as consequências mais evidentes, mas a amoralidade, fracassos educacionais e, na verdade, vidas arruinadas não é menos sério e igualmente comum".( L.Ron Hubbard, Resposta às drogas)



As pessoas usam drogas por vários motivos. Os mais banais incluem a curiosidade e a pressão do grupo. Os mais comuns são para tentar aliviar a dor e fugir dos problemas. Desde a década de 60 houve uma epidemia do consumo de drogas no mundo. As drogas incluem o álcool, LSD, cocaína, maconha, heroína, barbitúricos, benzodiazepínicos, anfetaminas, tabaco e outras. Depois de instalada a dependência as pessoas usam as drogas para evitar os sintomas de abstinência. Até mesmo os políticos fazem apologia à liberalização da maconha.
As drogas produzem efeitos prazerosos inicialmente, mas em pouco tempo arruinam a vida da pessoa. Elas se acumulam no tecido adiposo, podendo produzir os efeitos cumulativos depois de muitos anos de uso. Nossa sociedade é quimicamente orientada. Fabricam-se medicamentos para tratar diferentes doenças, mas o propósito é aliviar as doenças. Mesmo assim, muitos medicamentos são abusados pelos pacientes , o que leva à dependência.
O dependente químico, movido pela dor e pela incapacidade de lidar com os estressores ambientais e psicológicos busca refúgio nas drogas. Apesar de não querer ser um dependente, não consegue libertar-se em muitos casos. Os tratamentos convencionais alcançam um índice de recuperação em torno de 25 % na melhor das hipóteses. A regra é a recaída no vício.
Os governos desenvolvem programas de combate às drogas, mas nessa batalha, a dependência venceu todas as guerras. As drogas causam deterioração física e mental crescentes e isso repercute na vida da pessoas, das famílias e das sociedades. Persegue-se o traficante, enquanto o usuário fica livre para continuar consumindo. O grande segredo de minar o tráfico de drogas é diminuir a procura!
As drogas em geral aliviam sintomas de alguma coisa. Temos uma dor , procuramos um analgésico. Algumas pessoas possuem problemas e não conseguem encará-los sem beber uma dose de álcool para relaxar. Outros usam cocaína para se sentirem mais poderosos e neutralizarem os sintomas depressivos subjacentes. Outros fumam um baseado para "sair do ar" e "dar um tempo para cabeça" da pressão da vida.
O problema das drogas é que os efeitos inicialmente obtidos com a substância não se repetem no consumo subsequente, induzindo a um quadro de tolerância aos efeitos psicotrópicos. Então o usuário precisará aumentar o consumo para "tentar" sentir o prazer original, o que neuroquimicamente não é possível. As drogas afetam a percepção da realidade, o termo "chapado" deriva dessa constatação. Dependendo do tipo de droga usada, os efeitos são variáveis. O álcool é um depressor do sistema Nervoso Central(SNC), as anfetaminas e a cocaína são estimulantes, a maconha é um alterador do estado mental, o LSD é um alucinógeno.
Muitas pessoas escalonam o uso, iniciando em drogas mais "leves" e transitam para drogas "pesadas". O álcool tem sido considerado , entre jovens, o principal fator de risco para envolvimento com outras drogas de abuso.
As drogas podem produzir efeitos tardios( flashbacks), restimulando memórias de consumo, muitos anos depois da abstinência completa. Alguns usuários ficam excitados com a imagem do "pó branco" de giz, por exemplo ou com canudos que possam relembrar o instrumental para aspiração da cocaína. As drogas rebaixam o grau de consciência, revivendo traumas passados, produzindo comportamentos irracionais no presente. Um usuário de drogas é sempre uma fonte de possível insegurança para sociedade, em virtude dessa memória biológica da dependência.


domingo, 10 de janeiro de 2010

Famílias e Casamentos Disfuncionais



Não se pode negar a influência que as pessoas exercem mutuamente. A Família é o primeiro ambiente de influência na personalidade. Depois vem a sociedade mais importante para o sucesso ou fracasso pessoal, o casamento! Independentemente de explicações para as dinâmicas que envolvem relações entre pais e filhos e as relações conjugais, vamos abordar alguns aspectos relevantes dessas relações na produção e manutenção da doença mental.


Famílias disfuncionais são aquelas em que a doença mental das figuras parentais cria um ambiente propício para a produção de doença mental nos seus filhos, criando um ambiente doentio de autoreforçamento pelas relações recíprocas patológicas. Imaginem um pai alcoolista que bate na esposa, agride verbalmente os filhos( rebaixando o seu valor), que gasta o dinheiro que proveria o bem-estar familiar com bebedeiras e jogos. Qual seria o grau de disfuncionalidade de uma família assim? Haverá repercussões psicológicas na esposa e nos filhos a longo prazo? Essa pessoa poderá estar mais vulnerável a quadros depressivos e esses filhos podem se transformar em adultos violentos ( identificação com o agressor) e alcoolistas( predisposição genética). Imaginem famílias onde o pai é ausente e autoritario, mantendo o filho num distanciamento afetivo crônico, sem troca de elogios, abraços e valorização. Que influência esse comportamento terá na autoimagem do filho, inclusive na sua opção sexual? As famílias são a causa desencadente de muitas doenças mentais e são responsáveis pela manutenção das mesmas doenças, pela retroalimentação dos padrões doentios de interação. Os pais legam a genética e ainda fomentam o ambiente para o desencadeamento de doenças mentais graves.
O casamento constitui a segunda família. Aqueles padrões infantis doentios vão procurar a repetição na nova família. Por isso observamos casais repetindo as atitudes que tanto criticavam nas suas famílias de origem. Essa memória psicológica que ficou guardada sofre uma reativação na convivência dos cônjuges. Não é incomum a tendência à repetição do mesmo ambiente pouco saudável da infância. O ciclo tem novos capítulos, produzindo uma transmissão transgeracional dos transtornos mentais, sejam eles de origem biológica ou psicológica.
Todos possuímos uma reserva mental para lidarmos com as demandas da vida. Dependendo da nossa trajetória de vida, desde o útero materno, essa energia vai estar mais ou menos salvaguardada das agressões ambientais. Uma mãe que fuma,usa álcool e drogas vai lesar o cérebro do bebê intra-útero e essas repercussões duram a vida inteira. Uma criança que sofre abuso físico e mental dos pais, que presencia os pais brigando, ou perde os pais em tenra idade, estará mais vulnerável a doenças mentais na vida adulta. Num casamento, o marido que invalida a mulher e vice-versa consome a energia mental saudável. Fatos que denotam traição da confiança, a presença de doença mental ativa num ou em ambos os cônjuges são fatores consumidores da reserva mental saudável, predispondo a novos quadros psiquiátricos. A reserva mental pode ser ampliada através de psicoterapia, uso de medicamentos( regulam transitoriamente o temperamento), a busca de autoconhecimento, o acúmulo de experiências enriquecedoras, hábitos de vida saudáveis e boas relações de amizade( qualidade e não quantidade).

O estresse é o termo que está em voga como causa de doenças mentais. Podemos considerar as famílias disfuncionais e os casamentos infelizes como fontes potenciais de estresse subconsideradas!


O que fazer quando a causa da manutenção da doença mental é a família ou o casamento?


A primeira tentativa é tratar essas causas, modificá-las para melhorar as condições de convivência. Para isso existem os tratamentos psiquiátricos, as terapias de casal, as terapias individuais. Quando essas alternativas são recusadas ou se tornam ineficazes, seja pela intensidade das patologias sistêmicas ou pela cronicidade dos quadros disfuncionais, a outra alternativa é a desconexão das pessoas que se atacam mutuamente em nível físico e psicológico.Por mais dura que seja essa alternativa, em inúmeros casos é a solução derradeira e a única eficaz. A esposa vai precisar separar-se do marido alcoolista, mesmo que o casamento já dure 25 anos! Sofrer maus tratos pode ser uma escolha voluntária, mas desconectar-se do marido violento e alcoolista pode ser uma possibilidade mais saudável! O filho terá que aceitar que seu pai, já idoso, não vai mudar a sua personalidade e ficar carinhoso, compreensivo e aceitar que o mundo mudou e que as suas teorias ficaram no passado! O marido terá que ter coragem de separar-se da esposa neurótica, que consome toda a reserva mental que existe no seu cérebro com preocupações imaginárias ou o seu comportamento perdulário, gastando todas as reservas financeiras do casal. O filho terá que morar sozinho, pagar as suas contas, para evitar o controle exagerado dos pais nas sua autonomia, inclusive sexual.
Nas familias estão as sementes da saúde ou da doença. Quem não está ajudando, está atrapalhando, não existe meio-termo em matéria de sanidade mental. Procure refletir sobre a sua vida familiar e conjugal. Descubra a melhor alternativa e implemente! A sua sanidade mental receberá uma nova oportunidade neste mundo.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Transtornos Invasivos do Desenvolvimento-Parte II

Síndrome de Asperger cursa com o comprometimento qualitativo da interação social recíproca e estranheza comportamental, mas sem atrasos no desenvolvimento da linguagem.
Caracteriza-se por prejuízo acentuado no uso de múltiplos comportamentos não verbais, contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos para regular a interação social, fracasso em desenvolver relacionamentos apropriados adequados ao nível de seu desenvolvimento, ausência de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesse ou realização com outras pessoas, falta de reciprocidade social e emocional, padrões repetitivos , restritos e esteriotipados de comportamento, interesse e atividades. Não há atrasos clinicamente significativos no desenvolvimento de habilidades de autoajuda apropriadas à idade, no comportamento adaptativo e na curiosidade acerca do ambiente na infância.
A causa é desconhecida, com predominância em meninos e podem ocorrer episódios psicóticos no início da vida adulta.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Transtornos Invasivos do Desenvolvimento-Parte I



São anormalidades qualitativas nas interações sociais recíprocas e em padrões de comunicação; repertório de interesses e atividades restrito, esteriotipado e repetitivo.


No Autismo Infantil há o comprometimento persistente nas interações sociais recíprocas, desvios na comunicação e padrões comportamentais restritos e esteriotipados.

Ocorrem os seguintes sintomas: solidão autista, desenvolvimento da linguagem atrasado ou desviante, repetição monótona de sons e expressões verbais, maneirismos, obsessividade pela manutenção da uniformidade, pavor de imperfeição, preferência por figuras e objetos inanimados, falta de reciprocidade socioemocional, manifestação de fobias( medos) , dificuldades com o sono e alimentação, ataques de birra e agressão, surtos de risadas e prantos sem razão aparente, expressão de pensamento incoerente com o afeto, ecolalia( repetição de sons), fenômenos ritualísticos, comportamento autodestrutivo( morde-se, bate a cabeça).

O início é antes dos 36 meses, ocorrendo numa incidência de 3 crianças em cada 10 000 nascimentos, mais comumente em meninos( 4:1). As causas não são completamente conhecidas, mas parecem ser múltiplas, com um forte componente biológico. Disfunções cerebrais precoces por infecção podem estar relacionadas.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Doenças Psicossomáticas e Terapias Manuais



Depois de sentir dores nas costas por mais de um mês, fui consultar um traumatologista. Ele diagnosticou tensão muscular, problema postural e sedentarismo. Prescreveu antiinflamatórios, miorelaxantes e indicou fisioterapia(RPG). Tomei os medicamentos, mas obtive pouca melhora. Então, fui à fisioterapeuta, que iniciou a RPG. Durante 4 meses me submeti à RPG( Reeducação Postural Global). Logo depois que saía das sessões me sentia melhor. Entretanto, as dores voltavam na semana seguinte. Trabalho muito tempo sentado. Negligenciei a prática regular de exercícios físicos na época. Então as dores voltaram! Dessa vez reforcei as doses dos antiinflamatórios por mais três semanas, mas as dores não cessaram! Isso estava atrapalhando o meu trabalho significativamente. Já bastante desconfortável com as minhas dores, fui aconselhado , por uma colega médica, a procurar um terapeuta manual.
Não sabia muito do que se tratava, se era massagem ou quiropraxia. Fui mesmo assim. As dores atingiram um grau de incapacitação laborativa. Nesses momentos em que o "sapato aperta", aceitamos ajuda, mesmo que não saibamos muito bem do que se trata. Fui por causa da dor, mas hesitante.
Atualmente me submeto à terapia manual regularmente( 1x/semana) há 1 ano. As minhas dores desapareceram completamente! Não usei mais medicamentos analgésicos.
Trago esse assunto no blog, para refletir sobre a importância que percebi da associação do tratamento psiquiátrico com a terapia manual. Muitos casos psiquiátricos, principalmente as doenças psicossomáticas, se manifestam com sintomas físicos álgicos. Não conseguimos um tratamento medicamentoso eficaz para as dores. Geralmente esses sintomas são a conversão de conflitos emocionais em nível somático( corporal). Por isso, acho bastante válida a indicação das terapias manuais na complementação do tratamento. Sempre que acho indicado, oriento o paciente a buscar uma terapia manual com alguém tecnicamente competente. Os pacientes melhoram muito, liberam as suas tensões emocionais e o próprio tratamento psiquiátrico evolui melhor.
Na minha experiência pessoal, antes de me submeter à terapia manual, todos os estresses e tensões ficavam depositados no corpo, causando dores, mal estar físico, perda de energia. O meu terapeuta manual, acho que ele não vai ficar chateado comigo por citá-lo no blog( Antônio Siqueira, Santa Maria-RS), porque tenho encaminhado pacientes para ele, costuma trabalhar na minha região abdominal, onde os meus problemas se instalam na forma de dor excruciante. Ele realmente trabalha essa região e eu sinto muita dor( segundo ele, na concepção da medicina oriental, há acúmulos de energias na região, como um anteparo). Depois que passa a dor do momento, não sinto dor nenhuma no corpo o restante da semana ou do mês! Adquiro uma consciência corporal maior, percebo sensações e movimentos que estavam adormecidos no dia-a-dia, como se vivêssemos no piloto automático.
Numa fase muito precoce do nosso desenvolvimento, não adquirimos ainda a linguagem verbal. Então tendemos a nos comunicar através do corpo. Nessa fase pré-verbal está a gênese de muitos núcleos psicossomáticos , que na vida adulta são ativados pelo estresse do mundo moderno. Alguns pacientes sentem dores na região dorsal, coluna cervical, coluna lombar, enxaquecas, disfunções gastrointestinais, doenças de pele, mas todos esses transtornos possuem uma raiz psicossomática primitiva. As terapias manuais, por mobilizarem esses núcleos psicossomáticos aliviam os sintomas e curam muitas doenças pouco responsivas às terapias convencionais. Eu recomendo uma visita ao Antônio Siqueira, após uma avaliação médica prévia para descartar causas orgânicas tratáveis. Os benefícios são inestimáveis.




segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O Ato Médico beneficia a Sociedade

" A identificação e o tratamento de doenças exigem conhecimentos específicos e preparação que são conferidos apenas pelos cursos de medicina. Todas as demais profissões merecem o nosso respeito, mas questionar o direito de a medicina ter sua atividade regulamentada por lei aponta para interesses corporativistas, com resultados prejudiciais à população. O projeto não ofende nem pretende se sobrepor às outras profissões da saúde e isso está muito claro. O ato médico é , acima de tudo, um escudo de proteção para a população."( Dr. Cláudio Balduíno Souto Franzen-Presidente do Cremers).
Depois de 7 anos de tramitação, mais de 1,5 milhão de assinaturas, o projeto de lei do Ato médico foi aprovado no Congresso Nacional por 269 votos a favor e 92 votos contra.
Vamos às opiniões dos deputados( quem decide):
" Com o ato médico, demonstramos a importância dessa profissão para nossa sociedade e oferecemos mais segurança ao usuário de nosso sistema de saúde"( Miguel Temer -PMDB SP)
" Os médicos ajudaram na regulamentação de todas as 13 profissões da área da saúde. Já estava passando da hora de vermos a aprovação da regulamentação da Medicina."( Rafael Guerra PSDB-MG)
" Quando todas as outras profissões foram regulamentadas, jamais tiveram nossa oposição. A luta tem o objetivo único de resgatar e dar dignidade ao médico."( Ronaldo Caiado DEM GO)
" A votação por unanimidade na Câmara foi um reconhecimento inequívoco dos parlamentares à importância da profissão médica. O projeto de lei beneficia a saúde em geral e não é específico para um ou outro setor."( Eleuses Paiva DEM SP).
Transcrevo o comunicado do Conselho Regional de Medicina do RS, de 1º de dezembro de 2009, em resposta às mensagens veiculadas pela internet, numa tentativa lobbista contra o ato médico, com argumentos falaciosos como " A sáude vai ficar mais cara", " o médico não sabe tudo"( quem sabe?, os lobbistas?).
" ... O ATO MÉDICO protegerá a população contra a ASSISTÊNCIA NÃO QUALIFICADA."...
"... Não é verdade que os demais profissionais da área de saúde serão prejudicados. Todos continuarão atuando conforme a regulamentação legal de sua profissão."
"... O médico é o único profissional da área de saúde em TREINAMENTO ESPECÍFICO para o DIAGNÓSTICO e TRATAMENTO das DOENÇAS, comprovado pelo curriculum das Faculdades de Medicina, fiscalizadas pelo Ministério de Educação do país."
"... Os demais profissionais da área de saúde atuam de forma complementar e auxiliar no tratamento de doenças. A regulamentação legal de OUTRAS PROFISSÕES NÃO LHES DÁ DIREITO LEGAL para fazer DIAGNÓSTICO e INDICAÇÃO DE TRATAMENTO, conforme orientação do MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO."
Essa reflexão não tenciona convencer nenhum profissional de saúde paramédico, apenas informar aos pacientes do que se trata toda essa polêmica em torno do ato médico. Como os verdadeiros interessados são os pacientes, fica registrada aqui a atualização do processo de tramitação do ato médico no Senado Federal.