sábado, 12 de março de 2011

Mulheres, Psicoses e Esquizofrenia

O maior percentual de doenças mentais acomete as mulheres, que buscam atendimento clínico com frequência superior à dos homens.

Entre os aspectos  importantes no que se refere à saúde mental das mulheres, existem períodos críticos da sua vida, em que o risco de psicose está aumentado.

Psicoses são alterações do estado mental que se caracterizam por perda do contato com a realidade, cursando com  delírios, alucinações auditivas, ideação paranóide, comportamento esquisito, bizarro, ideação persecutória e outros.

Esquizofrenia é uma doença do grupo das Psicoses que se caracteriza pela presença crônica de sintomas psicóticos incapacitantes e irreversíveis.

A esquizofrenia acomete  homens no final da adolescência e início da vida adulta. Entretanto, mulheres, por fatores ainda desconhecidos, desenvolvem esquizofrenia mais tardiamente, por volta da meia idade.
Uma pergunta que precisa ser respondida em mulheres nessa faixa etária é se a presença de sintomas psicóticos é decorrente da instalação de uma psicose por outras causas ou decorrente da esquizofrenia.

Existem muitos desencadeantes( gatilhos estressores) que aumentam a vulnerabilidade, em fases críticas da vida, para doenças psicóticas agudas ou crônicas. Fases de transição , quando cérebro passa por remodelação neuronal, como na adolescência e senescência, ou fatores neurológicos( traumas e doenças) podem desencadear quadros psicóticos. Supõe-se que a genética é responsável pela predisposição a esses desequilíbrios biológicos, com alterações neuroanatômicas e neurofuncionais.

O que levaria as mulheres a um risco maior de doenças psicóticas na meia idade?

Existem hipóteses que explicam a ocorrência aumentada: a redução dos níveis de estrógenos, que funcionam como neuroprotetores, seja na manutenção dos níveis estáveis dos neurotransmissores( principalmente dopamina), seja aumentando a resistência dos neurônios ao estresse, prevenindo a atrofia neuronal. Entre a puberdade e a menopausa, as mulheres têm essa proteção extra do estrógeno. A partir dos 45 anos, essa proteção desaparece quando inicia o declínio estrogênico na perimenopausa.

Mulheres com esquizofrenia de início tardio têm mais sintomas positivos( alucinações e delírios) e menos sintomas negativos( isolacionismo e deterioração volitiva). O grau de desagregação mental é menos intenso, comparativamente aos quadros de início precoce, e  a doença responde ao tratamento  com  doses mais baixas de antipsicóticos.

Outras possíveis causas para a eclosão psicótica são as doenças autoimunes e os medicamentos comumente usados para o seu tratamento. A incidência de psicose grave durante o uso desses medicamentos pode variar de 1.6% a 50 %. Muitos medicamentos possuem potencial indutor de psicose.

É necessário diferenciar outras doenças mentais que apresentam a psicose como um sintoma, como transtornos de humor, alterações transitórias em transtornos graves de personalidade, transtorno de estresse pós-traumático( TEPT), sintomas psicóticos induzidos por drogas e outros.

A investigação endocrinológica faz-se necessária, pois disfunções na glândula tireóide, cuja a prevalência é de uma mulher em cada oito, aumentam com o avançar da idade.

O uso indiscriminado e sem acompanhamento médico de  produtos para controle de peso, como derivados anfetamínicos, a privação crônica de sono, a perda do elemento mineral ferro( que participa da regulação dopaminérgica), que pode ocorrer durante os períodos menstruais, são outros possíveis desencadeantes.

Em resumo, a incidência de esquizofrenia em mulheres, após os 40 anos, é de 8.9 em cada grupo de 100 mil, enquanto que nos homens a incidência é de 4,2 para cada grupo de 100 mil.






domingo, 6 de março de 2011

O Tratamento do TAB restaura o Volume Cerebral

 Na década de 40, o lítio passou a fazer parte do arsenal terapêutico no tratamento dos transtornos de humor. Foi o primeiro medicamento usado para o tratamento do Transtorno Afetivo Bipolar(TAB) e também dos sintomas depressivos. Nos últimos 15 anos, os estudos focalizaram os mecanismos moleculares subjacentes ao tratamento do transtorno bipolar. A Neurociência aplicada ao estudo em animais identificou  os efeitos neuroprotetores e neurotróficos do lítio.

A identificação dessas ações moleculares coincidiu com a descoberta de que havia  déficits de volume cerebral  em pessoas com Transtorno Afetivo bipolar (TAB). Em particular, esses estudos identificaram reduções predominantemente no tamanho de regiões do cérebro envolvidas na regulação do humor. Os mesmos estudos forneceram indícios de que alguns dos tratamentos para o transtorno bipolar aumentariam o volume dessas regiões cerebrais.

Onze grupos  internacionais de pesquisa colaboraram  com  dados de neuroimagem de adultos com transtorno bipolar, permitindo a realização de uma investigação extensa  das diferenças na estrutura cerebral de indivíduos com transtorno bipolar comparadas com os controles sadios. Os resultados foram posteriormente publicados na  Biological Psychiatry.

Eles descobriram que indivíduos com Transtorno Afetivo Bipolar(TAB)  tinham aumento do ventrículo lateral direito, do volume do lobo temporal esquerdo  e do putamen. Indivíduos com transtorno bipolar que não tomavam lítio apresentavam uma  redução no volume cerebral e do hipocampo em comparação com indivíduos saudáveis . No entanto, pacientes bipolares em uso de lítio exibiam  um aumento significativo do volume do hipocampo e da amígdala cerebral comparativamente aos pacientes não tratados com lítio e aos indivíduos sadios do grupo-controle.  A redução do volume cerebral também foi significativamente relacionada  com tempo da doença em indivíduos bipolares.

Esses estudos demonstraram que alterações em estruturas cerebrais  estão associadas com o TAB e que os tratamentos com o Lítio e talvez outros medicamentos possam reverter os déficits causados pela doença.