O maior percentual de doenças mentais acomete as mulheres, que buscam atendimento clínico com frequência superior à dos homens.
Entre os aspectos importantes no que se refere à saúde mental das mulheres, existem períodos críticos da sua vida, em que o risco de psicose está aumentado.
Psicoses são alterações do estado mental que se caracterizam por perda do contato com a realidade, cursando com delírios, alucinações auditivas, ideação paranóide, comportamento esquisito, bizarro, ideação persecutória e outros.
Esquizofrenia é uma doença do grupo das Psicoses que se caracteriza pela presença crônica de sintomas psicóticos incapacitantes e irreversíveis.
A esquizofrenia acomete homens no final da adolescência e início da vida adulta. Entretanto, mulheres, por fatores ainda desconhecidos, desenvolvem esquizofrenia mais tardiamente, por volta da meia idade.
Uma pergunta que precisa ser respondida em mulheres nessa faixa etária é se a presença de sintomas psicóticos é decorrente da instalação de uma psicose por outras causas ou decorrente da esquizofrenia.
Existem muitos desencadeantes( gatilhos estressores) que aumentam a vulnerabilidade, em fases críticas da vida, para doenças psicóticas agudas ou crônicas. Fases de transição , quando cérebro passa por remodelação neuronal, como na adolescência e senescência, ou fatores neurológicos( traumas e doenças) podem desencadear quadros psicóticos. Supõe-se que a genética é responsável pela predisposição a esses desequilíbrios biológicos, com alterações neuroanatômicas e neurofuncionais.
O que levaria as mulheres a um risco maior de doenças psicóticas na meia idade?
Existem hipóteses que explicam a ocorrência aumentada: a redução dos níveis de estrógenos, que funcionam como neuroprotetores, seja na manutenção dos níveis estáveis dos neurotransmissores( principalmente dopamina), seja aumentando a resistência dos neurônios ao estresse, prevenindo a atrofia neuronal. Entre a puberdade e a menopausa, as mulheres têm essa proteção extra do estrógeno. A partir dos 45 anos, essa proteção desaparece quando inicia o declínio estrogênico na perimenopausa.
Mulheres com esquizofrenia de início tardio têm mais sintomas positivos( alucinações e delírios) e menos sintomas negativos( isolacionismo e deterioração volitiva). O grau de desagregação mental é menos intenso, comparativamente aos quadros de início precoce, e a doença responde ao tratamento com doses mais baixas de antipsicóticos.
Outras possíveis causas para a eclosão psicótica são as doenças autoimunes e os medicamentos comumente usados para o seu tratamento. A incidência de psicose grave durante o uso desses medicamentos pode variar de 1.6% a 50 %. Muitos medicamentos possuem potencial indutor de psicose.
É necessário diferenciar outras doenças mentais que apresentam a psicose como um sintoma, como transtornos de humor, alterações transitórias em transtornos graves de personalidade, transtorno de estresse pós-traumático( TEPT), sintomas psicóticos induzidos por drogas e outros.
A investigação endocrinológica faz-se necessária, pois disfunções na glândula tireóide, cuja a prevalência é de uma mulher em cada oito, aumentam com o avançar da idade.
O uso indiscriminado e sem acompanhamento médico de produtos para controle de peso, como derivados anfetamínicos, a privação crônica de sono, a perda do elemento mineral ferro( que participa da regulação dopaminérgica), que pode ocorrer durante os períodos menstruais, são outros possíveis desencadeantes.
Em resumo, a incidência de esquizofrenia em mulheres, após os 40 anos, é de 8.9 em cada grupo de 100 mil, enquanto que nos homens a incidência é de 4,2 para cada grupo de 100 mil.
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