A partir da década de 50 a Psicofarmacologia, um segmento da Farmacologia que produz alterações no funcionamento cerebral e mental, emergiu na prática clínica. Achados arqueológicos, entretanto, demonstram que o uso de substâncias com objetivos variados, como alteração dos estados de consciência e a realização de rituais mágico-religiosos, esteve presente desde os primórdios da humanidade.
O lítio surgiu em 1949 , em seguida vieram os primeiros antipsicóticos, como a clorpromazina, em 1952. A partir dessa fase, novas classes medicamentosas foram descobertas: os antidepressivos tricíclicos, os benzodiazepínicos( ansiolíticos) e os antidepressivos inibidores da Monoaminoxidase(IMAO).
O impacto desses medicamentos na prática psiquiátrica possibilitou o manejo e controle de várias doenças mentais graves, além de reduzir drasticamente o número e a duração das hospitalizações. Nos Estados Unidos, após 50 anos de uso, houve uma redução de 1000% nas hospitalizações.
Em face à alta prevalência de doenças mentais crônicas, na ausência de psicofármacos para o seu controle, teríamos um caos generalizado. O primeiro equívoco é ingenuamente acreditar ser possível controlar as doenças mentais somente por meios psicológicos. Cada vez mais os estratos biológicos das doenças se tornam conhecidos pelas pesquisas.
Existem diferentes classes medicamentosas para o uso em saúde mental e na Medicina Geral:
- Neurolépticos ou antipsicóticos: Atuam em doenças como esquizofrenia, transtorno depressivo com sintomas psicóticos, transtornos maníacos com sintomas psicóticos, demências, quadros de agressividade e controle de impulsos. Sua ação ocorre basicamente em receptores dopaminérgicos. Mais recentemente, novas classes de antipsicóticos de nova geração também atuam em receptores serotoninérgicos, histaminérgicos e colinérgicos. Essa ocupação de receptores produz os efeitos terapêuticos, mas também causa os efeitos colaterais indesejáveis. Entre os efeitos potencialmente perigosos estão a síndrome metabólica e o ganho de peso.
- Antidepressivos: Atuam em diferentes doenças, apesar do nome. Atuam obviamente em transtornos depressivos, mas também em transtornos de ansiedade- TOC, Síndrome do Pânico, TAG, hipocondria, TEPT, em outros transtornos- ejaculação precoce, enurese noturna, TDAH e outros. A sua ação se processa basicamente em três sistemas neurotransmissores: serotonina, norepinefrina e dopamina. Mais recentemente, um novo antidepressivo, a agomelatina, atua em receptores melatoninérgicos.
-Estabilizadores de Humor: Atuam em transtornos de humor bipolar, como potencializadores de antidepressivos, em TDAH, nos transtornos de controle de impulsos, transtornos de personalidade. Suas ações são variáveis. O lítio, por exemplo, que é um metal, regula uma cascata de eventos intracelulares, os segundos mensageiros, modificando a ação gênica do neurônio, com estabilização da transmissão elétrica cerebral. Na mesma linha de ação encontram-se os anticonvulsivantes, por regularem os disparos neuronais, subjacentes às epilepsias , mas igualmente presentes na desregulação do humor.
- Ansiolíticos: São medicamentos sintomáticos , para uso temporário. Não tratam as causas dos transtornos e podem produzir dependência física e psicológica. São os conhecidos medicamentos "tarja preta", mas são úteis no início do tratamento de quadros ansiosos, insônia, agitação psicomotora e auxiliares nos demais tratamentos supracitados. Sua ação se processa basicamente em receptores Gabaérgicos, responsáveis pelas respostas sedativas no SNC( Sistema Nervoso Central).
-Moduladores do sono: Uma nova classe medicamentosa alternativa ao uso dos benzodiazepínicos indutores de sono. São conhecidos como hipnóticos de segunda geração. Atuam como agonistas( potencializadores) de receptores GABA-A, subunidade alfa 1 e alfa 2. Mesmo sem indicação como modulador do sono, a agomelatina, uma nova classe antidepressiva, atua em receptores melatoninérgicos, sincronizando os ritmos circadianos, com diminuição da latência do sono e o número de despertares noturnos, podendo aumentar o sono de ondas lentas e eficiência do sono.
As perspectivas futuras de descoberta de novos psicofármacos estão focadas no desenvolvimentos de medicamentos mais efetivos, com menos efeitos colaterais e personalizados, através da Farmacogenética. Cada paciente, no futuro, terá um perfil( impressão farmacológica) de metabolização e receberá doses muito específicas, diferente das doses padronizadas em bulas.
Abaixo listamos alguns transtornos mentais em que o uso de medicamentos psicotrópicos é fundamental para o tratamento bem-sucedido.
- Transtorno Depressivo Maior
- Esquizofrenia
- Transtorno Afetivo Bipolar
- Transtorno Obsessivo-Compulsivo(TOC)
- Transtorno de Ansiedade Generalizada(TAG)
- Transtorno de Estresse Pós- traumático( TEPT)
- Fobia Social
- Síndrome do Pânico
- Alcoolismo
- Tricotilomania
- Bulimia Nervosa
- Ciclotimia
- Distimia
- Alterações Comportamentais em Demências
- Doença de Alzheimer
- Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade(TDAH)
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