Há 24 horas, o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, por meio de plebiscito, recusou a legalização da maconha para uso recreativo.
Levando-se em conta que a Califórnia é um dos estados mais libertários do país, concluo que a mentalidade desenvolvida e o bom senso suplantaram a irresponsabilidade daqueles que defendem o "tudo pode", a "anarquia", "a liberalização de seja lá o que for em nome de uma suposta liberdade". Na verdade, um pequeno percentual da população mundial usa maconha, portanto, os defensores da liberalização são um grupo minoritário, que tem a pretensão de estender as suas ideias à maioria, livre de drogas de abuso. Como toda a democracia, proponho um plebiscito nos mesmos moldes do plebiscito americano. Assim, encerraríamos esse capítulo lamentável que abriram alguns "intelectuais" em defesa de uma substância deletéria à saúde humana.
Mas o que eu gostaria de abordar hoje é a pergunta do título acima. Se ele despertou a sua atenção, garanto que vale a pena seguir a leitura até o fim.
Há 7 dias estiveram reunidos 5000 profissionais de Saúde Mental , entre eles, 3600 psiquiatras, em Fortaleza/CE no 28 º Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Lá estavam convidados nacionais e internacionais estudando avanços científicos na área. Engraçado, nenhum dos arautos da inocuidade da maconha passaram por lá. Nenhum jornalista da revista VEJA, que publicou uma reportagem sobre os "benefícios de beber álcool" foi convidado. Isso porque lá estavam os especialistas, aqueles que realmente estudam e entendem dos assuntos relacionados a transtornos por uso de substâncias, sem interesses midiáticos envolvidos, nem interesses de grupos de dependentes químicos.
A beleza de um blog como este é dar voz a especialistas verdadeiros. Faço aqui um pouco o papel de jornalista, fiel à coleta técnica dos dados, sem publicar distorções.
Uma palestra bastante interessante foi a do professor Ronaldo Laranjeira, da USP, um verdadeiro estudioso do assunto "drogas", além de reconhecido pesquisador ( inclusive com recursos oficiais) da realidade brasileira nesse tema. A propósito, o Dr. Ronaldo Laranjeira foi consultado pelo jornalista da revista VEJA, e mesmo explicando todos os malefícios do uso de álcool acima de uma dose diária, a revista preferiu publicar o que bem quis, baseada numa pesquisa isolada, que é suplantada( mais uma vez, como no plebiscito americano) por centenas de outras pesquisas que comprovam o oposto da reportagem. Mas, como o que importa é vender notícias, todo mundo sabe que beber faz mal à saúde, então a revista preferiu o sensacionalismo midiático de sempre. Os desavisados caem no conto da informação distorcida.
O professor Laranjeira lembrou dois pontos relevantes quanto ao uso de álcool . Acima de uma dose diária de álcool, o equivalente a uma taça de vinho tinto( 12 % de álcool) , ou 2 copos de chopp( 5% de álcool) e 1/4 de uma dose de whisky( se isso é possível), certamente terá repercussões no organismo.
Mulheres que consomem duas taças de vinho por dia têm um risco aumentado de 20 % no desenvolvimento de câncer de mama!
O ministério de Saúde francês desaconselha o consumo acima de uma dose diária de álcool, porque há uma elevação da hipertensão arterial Sistêmica(HAS). Cabe lembrar que a maioria dos usuários de álcool acima desse patamar correm o risco de desenvolver alcoolismo, com um risco de mortalidade precoce atingindo o ápice de óbitos por volta dos 50 anos de idade. Muitas pessoas com eventos cardiovasculares em idade adulta jovem são tabagistas e alcoolistas!
O levantamento epidemiológico conduzido pelo professor Laranjeira ( ainda não publicado) revela que 60 % da população feminina brasileira não bebe , 33 % da população masculina brasileira não bebe. Entre aqueles que bebem, 70 % consomem cerveja. Dos bebedores brasileiros, 10 % se transformam em alcoólatras. O álcool leva a consumo de outras drogas, como maconha, cocaína, numa associação ainda mais perigosa. O professor Laranjeira enfatizou a importância do trabalho preventivo, com especial atenção para pessoas depressivas, principalmente mulheres, que se tornam alcoólatras secundariamente. No caso dos homens, a equação parece inversa na maioria dos casos. Os homens ficam depressivos pelo uso abusivo e/ou crônico de álcool, uma vez que ele é depressor do Sistema Nervoso Central(SNC), em não euforizante como pensam os leigos.
Segundo o Dr. Laranjeira, mesmo pequenas doses de álcool já são suficientes para alterar toda a química cerebral. Essa desregulação pode ser aguda ou crônica. O uso agudo de álcool reduz a ansiedade, enquanto que o uso crônico aumenta os níveis de ansiedade, irritabilidade, apatia e depressão. " As pessoas valorizam o efeito agudo do álcool, mas negligenciam o efeito crônico", ressaltou o professor Laranjeira.
Para quem se interessa por detalhes neuroquímicos, saiba que o álcool afeta 5 sistemas neuroquímicos, envolvidos em outras enfermidades psiquiátricas:
-Dopamina: O uso agudo causa prazer. O uso crônico causa anedonia( ausência de prazer completo!). Como a dopamina participa do circuito do prazer, esse é o mesmo neurotransmissor desregulado no consumo de outras drogas, como cocaína, maconha e tabaco. Já observaram como é difícil um dependente químico ter prazer com os pequenos prazeres cotidianos? Eles abusaram demais do sistema dopaminérgico, então só têm prazer com doses cada vez mais altas da droga( tolerância), por desregulação maciça da dopamina.
-Serotonina: O uso crônico provoca depleção serotoninérgica, com aumento da impulsividade, irritabilidade e violência, além de sintomas depressivos e ansiosos.
- GABA-A: O uso agudo causa sedação. O uso crônico causa abstinência e convulsões.
- Sistema Opióide: O uso agudo causa euforia. O uso crônico causa " fissura"( desejo incontrolável por mais álcool).
- Glutamato: O uso crônico causa convulsões, apagamentos( "blackouts" ) e demência alcoólica( por destruição neuronal).
Em resumo, o álcool é uma droga, no sentido de ser uma porcaria para a saúde. Essa mania de buscar justificativas para usar substâncias é um viés da mídia em conluio com os usuários e abusadores( muitos são jornalistas). Nenhum profissional médico ou pesquisador sério chancelaria o uso de quaisquer substâncias de abuso. Isso será sempre uma irresponsabilidade e uma conduta antiética. Ainda bem que existem espaços livres de droga( como a Associação Médica do Rio Grande do Sul-AMRIGS, que baniu absolutamente o tabaco das suas dependências e espaços, deixando aquele ar livre dos 4000 tóxicos que querem obrigar as pessoas a inalar) e verdadeiramente científicos para desmascar as falsas verdades propaladas por grupos minoritários da nossa sociedade aberrada.